É possível fugir dos maus pensamentos? Sim, mas não nos podemos esconder deles (por muito tempo)

Algumas pesquisas científicas sugerem que evitar pensamentos pode ser um tiro pela culatra, já que quando suprimimos um pensamento estamos a enviar uma mensagem aos nossos cérebros.

Nas noites mais longas de insónias, em que tudo o que quer é dormir mas tudo o que consegue fazer é pensar, seria perfeito conseguir bloquear todas as ideias negativas, de forma a prosseguir para um sono profundo. Mas esta é uma possibilidade viável? A resposta sucinta é: talvez. Mas se é aconselhável fazê-lo a longo prazo, é mais complicado.

Num estudo de 1996, assinado por Eric Klinger, professor emérito de psicologia na Universidade de Minnesota, os participantes mantiveram o registo de todos os seus pensamentos ao longo de um dia. Em média, as pessoas relataram mais de 4.000 pensamentos individuais. E estes pensamentos eram fugazes — não duravam mais do que cinco segundos cada um, em média.

“Os pensamentos estão em constante refluxo e fluxo, e muitos de nós não damos por isso”, disse Magee. No estudo, um terço destes pensamentos parecia aparecer totalmente do nada. É normal experimentar pensamentos que parecem perturbadores, acrescentou Magee. Num outro estudo, desta feita de 1987, realizado por Klinger e colegas, as pessoas catalogaram 22% dos seus pensamentos como estranhos, inaceitáveis ou errados.

Em algumas situações, faz sentido suprimir estes pensamentos indesejados. Num exame ou entrevista de emprego, por exemplo, ninguém se quer sentir distraída pelo pensamento de que vai falhar. Num voo, provavelmente não se quer pensar na possibilidade do avião cair. E há provas de que é possível anular estes pensamentos.

Num estudo de 2022 na revista PLOS Biologia Computacional, uma equipa de investigadores israelitas mostrou a 80 voluntários uma série de slides com diferentes substantivos. Cada substantivo foi repetido em cinco diapositivos diferentes. Ao verem os diapositivos, os participantes anotaram uma palavra que associaram a cada substantivo — por exemplo, “estrada” em resposta à palavra “carro”.

Outro grupo poderia repetir tantos substantivos quantos desejassem. Com este método, os investigadores procuraram imitar o que acontece quando alguém ouve aquela canção de amor na rádio e tenta desesperadamente pensar em algo que não seja o seu ex beau.

Os resultados revelaram que quando os participantes viram cada substantivo pela segunda vez, demoraram mais tempo do que o grupo de controlo a criar uma nova associação — “pneu” em vez de “estrada”, por exemplo — sugerindo que a sua primeira resposta lhes veio à cabeça antes de o substituírem.

As respostas foram particularmente atrasadas para as palavras que classificaram como “fortemente associadas” à palavra táctica na primeira vez. No entanto, os participantes foram mais rápidos nas vezes que viram o mesmo slide, indicando que a sua associação entre a palavra táctica e a sua primeira resposta — o pensamento que estavam a tentar evitar — estava a enfraquecer.

“Não encontrámos provas de que as pessoas possam evitar por completo pensamentos indesejados”, disse o autor principal do estudo Isaac Fradkin, que fez a pesquisa com psicólogo na Universidade Hebraica de Jerusalém, ao Live Science. Mas os resultados sugerem que a prática pode ajudar as pessoas a melhorar para evitar um pensamento específico, acrescentou Fradkin.

Nem todos concordam que um slideshow de palavras aleatórias é uma boa forma de provocar a forma como as pessoas suprimem os pensamentos carregados de emoção. E outras pesquisas sugerem que evitar pensamentos pode ser um tiro pela culatra. “Quando suprimimos um pensamento, estamos a enviar uma mensagem aos nossos cérebros”, disse Magee. Este esforço rotula o pensamento como algo a ser temido.

“Em essência, estamos a tornar estes pensamentos mais poderosos ao tentar controlá-los”. Uma análise de 2020 na revista Perspectives on Psychological Science de 31 estudos diferentes sobre a supressão do pensamento concluiu que a supressão do pensamento funciona, mas a curto prazo. Enquanto os participantes tendiam a ter sucesso nas tarefas de supressão de pensamentos, o pensamento evitado surgia mais vezes à cabeça depois de a tarefa ter terminado.

No final, poderia fazer mais sentido adotar uma abordagem atenta a estes pensamentos indesejados e simplesmente esperar que eles passem em vez de os evitar — tal como os milhares de outros pensamentos que passam pela sua cabeça todos os dias, disse Fradkin. “Podemos permitir que estes pensamentos estejam apenas na nossa mente, não nos agarrarmos a eles com demasiada força e não tentar combatê-los”.

ZAP //

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