Novo estudo revela dúvidas sobre a história das ferramentas de pedra

Andy Needham / University of York

Eletrónica, aviões, motores de combustão interna e a roda são os descendentes de uma tecnologia muito mais rudimentar: as ferramentas de pedra.

As primeiras ferramentas de pedra podem parecer simples, mas a sua invenção representa um enorme marco na história do ser humano.

Os arqueólogos acreditam que a criação de ferramentas de pedra — o tipo de materiais, onde os encontrar e como modelar as rochas — foi o esforço coletivo de vários indivíduos a trabalhar em conjunto e a aprender uns com os outros.

Um novo conjunto de experiências nas quais voluntários construiram ferramentas de pedra sugere que pode não ser esse o caso, segundo a Interesting Engineering.

Os resultados da experiência foram publicados esta quarta-feira, a 6 de julho, na Science Advances — um estudo revisto por pares.

William Snyder, arqueólogo e um dos autores do estudo, sublinhou que “adiámos a cronologia do início da humanidade cognitiva em centenas de milhares, se não mesmo em um milhão de anos”.

A investigação contou com 28 participantes. A cada um deles foram dadas as matérias-primas necessárias para realizar uma tarefa simples: cortar um fio para ter acesso a uma recompensa.

Os participantes trabalharam sozinhos e tiveram de descobrir como utilizar os materiais para fazer uma ferramenta capaz de cortar o fio, sendo que não receberam quaisquer instruções sobre como o fazer.

Os investigadores queriam ver se as pessoas eram capazes de criar o tipo de ferramentas que os antigos hominins fabricavam, há dois milhões de anos.

Durante as quatro horas que tiveram de trabalhar, todos os 28 participantes na investigação (incluindo os dois participantes que nunca tinham ouvido falar de ferramentas de pedra) descobriram técnicas de criação de ferramentas que foram utilizadas pelos primeiros hominins.

“As técnicas de construção de ferramentas utilizadas por estes indivíduos eram muito semelhantes às que teriam sido utilizadas há mais de 2 milhões de anos. Por agora, vemos isto como uma forte prova de que se podem reinventar as técnicas sem as ter visto”, realça Snyder.

Justin Parteger, arqueólogo que também investiga o fabrico de ferramentas de pedra, diz estar satisfeito por os investigadores estarem a trazer novos dados a um debate de longa data — mas não está convencido com as conclusões do estudo.

“Se eu olhar para estes resultados, vejo um conjunto de tecnologias que foram replicadas por estes indivíduos, mas que não correspondem ao que encontramos [no registo arqueológico há] 2,6 milhões de anos atrás”, refere Parteger.

Enquanto os participantes no novo estudo descobriram as quatro principais técnicas para criar ferramentas antigas, os fabricantes de ferramentas modernos não demonstraram qualquer preferência pela técnica utilizada há mais de dois milhões de anos, o período no qual os investigadores estão interessados.

À medida que o número de artefactos arqueológicos tem aumentado, os arqueólogos voltam-se cada vez mais para a quantidade e diversidade de ferramentas, para tentar compreender a tecnologia antiga.

Os voluntários não desenvolveram técnicas que correspondam exatamente ao que é encontrado no período de interesse para os autores do estudo.

“A maioria do comportamento que surge nesta experiência é na verdade muito mais parecido com [um] período de há 3,3 milhões de anos“, garante Parteger.

Os autores do estudo, no entanto, relatam que “as novas provas, as primeiras provas inequívocas de transmissão técnica, e a cultura cumulativa de saber-fazer deveriam ser empurrada para um momento posterior”.

A equipa de investigação admite que são necessárias mais experiências para determinar como começou realmente a transmissão cultural do conhecimento.

Alice Carqueja, ZAP //

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