A medicina móvel entre as 80 ilhas montanhosas de Vanuatu, no Pacífico, costumava ser incrivelmente difícil. Agora, basta colocar os medicamentos em drones, que se deslocam e entregam os mesmos onde estes são necessários, mesmo nas zonas mais remotas do arquipélago.
As ilhas que compõem Vanuatu – a centenas de quilómetros a oeste de Fiji, no Pacífico – estão separadas por quilómetros de mares, muitas vezes agitados, sendo poucos os lugares em que os barcos podem ancorar.
Ora, até há pouco tempo, a entrega de medicamentos e de vacinas entre as ilhas eram realizadas através de barcos, uma opção bastante dispendiosa. Noutros casos, quando se trata de locais na mesma ilha, o recurso é caminhar vários quilómetros para os entregar, através de trilhas rústicas e cobertas de lama.
Recentemente, porém, essa realidade começou a mudar. Foram dados os passos iniciais para um novo sistema, que consiste na entrega de medicamentos e vacinas através de drones. O primeiro teste ocorreu em janeiro, altura na qual um desses aparelhos percorreu uma grande área e entregou vacinas numa clínica noutra parte da ilha.
Fevereiro foi o segundo mês de testes do novo sistema, que pode ajudar a vacinar milhares de crianças, residentes nas partes mais difíceis de alcançar no arquipélago.
Segundo um artigo do Fast Company, publicado esta quarta-feira, é difícil percorrer as diferentes comunidades espalhadas pelas ilhas. “Caso alguém precise de uma vacina nos centros de saúde rurais, há poucas oportunidades de a obter”, disse Shelton Yett, representante da UNICEF, que auxiliou o governo de Vanuatu nos testes.
“As enfermeiras caminham através da lama com um suporte que leva vacinas nos ombros. Contudo, quando as temperaturas estão muito altas, não conseguem. Se estiver a chover, pode passar muito tempo sem que seja possível reabastecer as clínicas de saúde. Devido a isso, estamos sempre à procura de novas maneiras para melhorar a cadeia de suprimentos e novas formas de obter vacinas para as crianças”, referiu.
De acordo com o Fast Company, apesar dos progressos nas taxas de vacinação conseguidos pelo governo, cerca de 20% das crianças ainda não foram vacinadas contra doenças potencialmente fatais. Com o recurso a este novo sistema, cerca de 40 foram já receberam as vacinas.
A primeira empresa de drones a participar neste projeto foi a Swoop Aero, tendo os seus dispositivos começado os voos em dezembro. Com um tamanho de 2,4 metros, estes aparelhos – capazes de viajar também quando chove – carregam cinco quilos de vacinas, bolsas de gelo e um monitor que mantém a temperatura adequada.
A empresa só é paga se as vacinas forem entregues com sucesso. “É o primeiro sistema comercialmente sustentável”, afirmou Shelton Yett. “Podemos ter coisas maravilhosas se continuarmos a investir para resolver o problema. Mas não há dinheiro suficiente para o desenvolvimento, por isso que precisamos garantir que seja financeiramente sustentável”.
Nesta fase, o governo está a verificar se os drones fornecem as vacinas de forma confiável quando os centros de saúde o solicitam, se as mesmas chegam de forma segura ao local e se os zangões interferem com a aviação. Além disso, está a averiguar se as comunidades não entrem em pânico quando ouvem o “zumbido alto e desconhecido” dos aparelhos.
Esta etapa finalizará dentro de algumas semanas, momento no qual o governo decidirá se quer ir para a próxima etapa, que envolverá o treinamnto de operadores de drones locais. Os aparelhos podem ser parcialmente impressos em 3D, em Vanuatu.
Para Shelton Yett, embora os drones sejam uma solução promissora para uma parte do problema, esta tecnologia não é uma resposta completa. “Ainda é necessário educar os pais sobre a importância da vacinação e a deslocação às clínicas num cronograma definido, bem como ensinar as enfermeiras e manter a cadeia de suprimentos”.
Iniciativas semelhantes estão a ser executadas noutros locais do globo. A Zipline, uma ‘startup’ que usa drones para distribuir sangue para transfusões, em Ruanda, desde 2016, começou recentemente a testar as entregas de vacinas. O intuito é criar um serviço regular, que iniciará nas próximas semanas.
A empresa planeia também fornecer vacinas, juntamente com outros suprimentos médicos, quando começar a operar no Gana, brevemente.