Bactérias associadas à lepra conseguem reprogramar células que aumentam o tamanho do fígado, regenerando-o sem danificar o órgão nem criar tumores.
Num novo estudo publicado na terça-feira no Cell Reports Medicine, os investigadores revelaram que a lepra – uma das doenças mais antigas e persistentes do mundo -, pode renovar fígados envelhecidos e permitir aos indivíduos viverem sem problemas hepáticos durante períodos mais longos, relatou o Interesting Engeneering.
Estas células podem também regenerar fígados danificados, permitindo-lhes crescer novamente, evitando assim a necessidade de transplante – a única cura atual para doentes em fase avançada de doença.
Num estudo de 2013, os investigadores testaram células estaminais em ratos, para ver a evolução nos seus fígados e se estes eram regenerados. Concluíram que apesar dessa regeneração ser possível, o tratamento em questão era invasivo e levava à criação de tumores.
Na investigação agora divulgada a equipa utilizou células associadas à lepra – designadas por Mycobacterium leprae (ML) – para verificar o seu impacto na regeneração do fígado.
A equipa infetou 57 tatus – hospedeiros naturais de lepra – com a bactéria ML. Depois, compararam os fígados dos tatus infetados com os não infetados e com outros que eram resistentes à infeção.
No caso dos animais infetados, estes desenvolveram fígados aumentados e saudáveis com os mesmos componentes vitais – vasos sanguíneos, condutas biliares e lóbulos -, tal como os animais não infetados e os resistentes. A equipa acredita que a bactéria aumentou a capacidade regenerativa e o tamanho do órgão.
Além disso, os fígados dos tatus infetados continham padrões de expressão genética que remetiam para a construção de células. Os padrões eram semelhantes aos encontrados em animais mais jovens e em fígados de fetos humanos. Os genes ligados ao metabolismo que estão associados ao crescimento e à produção celular foram ativados, enquanto os associados ao envelhecimento foram suprimidos.
Os investigadores acreditam que isto se deve ao facto de as bactérias da lepra terem reprogramado as células hepáticas, fazendo com que essas voltassem a uma fase anterior, em que eram saudáveis.
“Se conseguirmos identificar como as bactérias atuam e desenvolvem o fígado, sem causar efeitos adversos, poderemos usar esse conhecimento para criar intervenções terapêuticas mais seguras, possíveis de rejuvenescer fígados envelhecidos e regenerar tecidos danificados”, disse Anura Rambukkana, principal autora do estudo.