“Disse aos polícias que era jornalista. Foi o pior que fiz”

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O jornalista José Honório fala sobre o dia em que foi espancado e detido por agentes da polícia, na província angolana de Benguela. Colegas de profissão sentem-se ameaçados.

O jornalista José Honório, da agência angolana de notícias Angop, foi espancado e torturado em meados de novembro, quando tentava defender algumas mulheres zungueiras vítimas de maus-tratos por parte de efetivos das forças de segurança.

“Eu disse aos senhores polícias que sou jornalista da Angop. Foi o pior que fiz“, contou José Honório em declarações à DW. “Mal ouviram que eu era jornalista, os senhores reforçaram a brutalidade e conseguiram quebrar a minha resistência, começaram a pontapear-me, a bofetear-me, algemaram-me como eu se fosse um criminoso.”

Jornalista foi ameaçado de morte

As consequências da agressão são visíveis no corpo de José Honório – o jornalista sofreu um trauma na coluna cervical.

“Por um instinto de sobrevivência, enquanto me levaram, eu gritava em nome do comandante Aristófanes dos Santos [comandante provincial da polícia em Benguela]: ‘Deixem-me em paz, se me quiserem levar, levem-me, mas não me agridam mais. E eles disseram: ‘se o comandante é teu tio, não nos vai acontecer nada, hoje vamos matar-te’.”

Três dos nove agentes da polícia ligados ao comando municipal de Benguela e implicados na agressão ao jornalista estão detidos, sob medida disciplinar. O jornalista diz que estava identificado, vestindo uma camisola com o logótipo da Angop bem visível. Inicialmente, José Honório foi detido. Agora, encontra-se em recuperação por recomendação médica.

Ernesto Chiwale, porta-voz da polícia em Benguela, disse que o jornalista foi detido por alegadamente ter obstruído a atividade dos efetivos em serviço.

“Face ao comportamento insurgente do cidadão José Honório, que chegou ao extremo de pegar o braço de um dos agentes para retirar a bacia com produtos apreendidos, os agentes da polícia decidiram pela detenção do mesmo, por terem interpretado a sua atitude como obstrução da atividade policial que desenvolviam”, afirmou Ernesto Chiwale.

Para Paulino Chipetula, advogado de jornalista detido, as informações divulgadas pela polícia não passam de uma farsa.

O inquérito “está viciado”, comenta Paulino Chipetula. “Era mais fácil a polícia não se pronunciar, porque, com esse comportamento, estaremos a cair num Estado de perigosidade – o cidadão não terá como confiar nas instituições policiais. Em momento algum o José Honório faltou ao respeito dos agentes da polícia. Já demos abertura a dois processos-crime.”

Clima de medo

Pedro Chindele, que trabalha como jornalista na Rádio Ecclesia em Benguela, diz que paira um clima de insegurança na classe jornalística.

“Se a polícia trata desta forma até um jornalista, que poderia ser um parceiro, acreditamos que, do ponto de vista da proteção e segurança, estamos ainda aquém [do que devíamos], porque somos tratados de forma desumana, como se fossemos delinquentes.”

A organização não-governamental Omunga repudiou igualmente o comportamento dos agentes da ordem pública.

“Ao olhar para o que aconteceu ao cidadão José Honório e a outras pessoas, às vezes perguntamo-nos se é uma ação típica de uma entidade policial ou de um grupo de delinquentes, que se intitulam agentes da polícia”, diz João Malavindele, coordenador da ONG.

“Houve violação dos direitos humanos e houve desrespeito entre as instituições, até porque estamos a falar de uma instituição, no caso a Angop, que é pública, e a polícia também é uma instituição pública”, concluiu.

ZAP // DW

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