Dezenas de milhares de mortos e 20 meses depois, UNICEF chega ao Sudão. O pior está para vir

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katiekk / Depositphotos

O Sudão enfrenta uma das piores crises humanitárias do mundo. Os mortos na guerra civil são tantos que já não se conseguem calcular. Um dia antes de sair relatório sobre a fome, o país saiu do sistema de monitorização… com medo dos resultados.

Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF, na sigla em inglês) confirmou a entrega dos mantimentos através de uma mensagem na sua conta na rede social Telegram a que a Lusa teve acesso.

“Os nossos camiões, parte de um comboio da UNICEF e do Programa Alimentar Mundial, juntamente com os Médicos Sem Fronteiras e a Sala de Resposta de Emergência de Cartum, entregaram mantimentos vitais de saúde e nutricionais ao Hospital Al Bashayer e aos centros de cuidados de saúde primários em Yebel Aulia, em Cartum”, informou a UNICEF.

Segundo o comunicado, este é “o primeiro carregamento a chegar ao sul de Cartum desde o início da guerra, em abril de 2023“.

“Vemos progressos positivos no interesse do trabalho humanitário”, garantiu ainda a organização, citada pela Lusa, apelando a todas as partes para que “façam deste passo um ponto de partida para uma coordenação mais ampla da resposta humanitária e para a criação de esforços humanitários permanentes”.

O Sudão enfrenta, desde há 20 meses, uma das piores guerras civis de sempre. De acordo com a Euronews, dezenas de milhares de pessoas foram mortas, 12 milhões foram deslocadas e, com o país à beira da fome, mais de metade dos seus 48 milhões de cidadãos sofrem de insegurança alimentar aguda.

As coisas parecem destinadas a piorar muito para os civis no novo ano”, diz ainda Kholood Khair, um analista político sudanês que dirige o grupo de reflexão Confluence Advisory.

Não existe um binário simples entre o bom e o mau da fita que a atenção dos meios de comunicação social e do público normalmente anseia para compreender este tipo de situações”, afirma também Michael Jones, investigador do Royal United Services Institute (RUSI).

Embora seja difícil contabilizar os milhares de mortos provocados pela guerra, as estimativas apresentadas pela BBC apontavam em novembro para mais de 61.000 mortos apenas no estado de Cartum.

De acordo com outro artigo da BBC do início de novembro, o Ministério da Saúde de Gaza, gerido pelo Hamas, cujos números são considerados fiáveis pela ONU, registou um número de mortos superior a 43.300 pessoas nos últimos 13 meses.

A guerra no Sudão já superou Gaza na mortalidade, há muito tempo.

NA verdade, o líder das Forças Armadas Sudanesas (SAF), o general Abdel Fattah al-Burhan, e o comandante das Forças de Apoio Rápido ( RSF), Mohamed Hamdan Dagalo, mais conhecido por Hemedti, foram outrora aliados. Agora, são os protagonistas de uma das guerra mais sangrentas das últimas décadas.

Em outubro de 2021, os dois líderes tomaram o poder num golpe conjunto, frustrando as esperanças sudanesas de um governo liderado por civis, vários anos depois de uma revolução pacífica ter derrubado o ditador Omar al-Bashir. Baseada em alicerces instáveis, a aliança dos generais depressa se desfez devido ao choque de ambições entre os dois homens e as suas forças.

De acordo com kahir, a guerra civil sudanesa deve ser encarada como “uma guerra contra os civis”, em que tanto as SAF como as RSF são culpadas de prejudicar a população sudanesa e de não abrir corretamente os corredores de ajuda.

Fome incalculável (literalmente)

De acordo com dados da UNICEF, mais de metade dos 48 milhões de cidadãos sudaneses sofre de insegurança alimentar aguda.

No entanto, como noticia a agência Reuters, o governo sudanês suspendeu a sua participação no sistema global de controlo da fome na véspera de um relatório que deverá mostrar que a fome está a alastrar pelo país.

O relatório lançado esta semana não conta, assim, com dados sudaneses. Uma carta do Ministério da Agricultura do governo acusava o sistema de Classificação Integrada das Fases de Segurança Alimentar (IPC) de “emitir relatórios pouco fiáveis que minam a soberania e a dignidade do Sudão”.

“A retirada do sistema IPC não vai mudar a realidade da fome no terreno”, disse uma fonte da ONG. “Mas priva a comunidade internacional da sua bússola para navegar na crise de fome do Sudão. Sem uma análise independente, estamos a voar às cegas para esta tempestade de insegurança alimentar”.

“Faz parte de uma longa história de negação da fome por parte do governo do Sudão, que remonta a mais de 40 anos”, disse ainda Alex de Waal, um dos maiores especialistas em fome, da Fundação para a Paz Mundial. “Sempre que há fome no Sudão, consideram-na uma afronta à sua soberania e estão mais preocupados com o seu orgulho e controlo do que com a vida dos seus cidadãos.”

ZAP //

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1 Comment

  1. Onde entra o islão, chega a fome e miséria…. Depois chamam os cristão para lhes alimentar e resolver os problemas…. Sabiam que ferramentas agrícolas são HARAN (proibidas)… Porque um iluminado nos 700 disse que as ferramentas são más (criação do Satan) e se tiverem fome e lhes faltar dinheiro cobrem Jizzia aos cristão e judeus…

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