Detida ícone da causa palestiniana. 10 mil mortos numa Faixa cortada em dois

Ahed Tamimi é suspeita de incitamento à violência e de atividades terroristas. Número de mortes estará perto de 10 mil em Gaza, que Israel diz ter dividido em dois. Não há luz nem Internet na Faixa e alimentos básicos podem acabar nos próximos três dias.

O exército israelita anunciou esta segunda-feira a detenção da ativista Ahed Tamimi, de 22 anos, ícone internacional da causa palestiniana, durante uma operação na Cisjordânia ocupada.

“Ahed Tamimi, suspeita de incitamento à violência e de atividades terroristas, foi detida na cidade de Nabi Saleh. Tamimi foi transferida para a custódia das forças de segurança israelitas para ser interrogada”, declarou um porta-voz do exército à agência de notícias France-Presse (AFP).

A ativista foi detida durante uma operação do exército israelita “destinada a deter indivíduos suspeitos de estarem envolvidos em atividades terroristas e de incitamento ao ódio” no norte da Cisjordânia ocupada, acrescentou a mesma fonte.

Ahed Tamimi tornou-se famosa aos 14 anos, após ser filmada a morder um soldado israelita para o impedir de deter o irmão mais novo, imobilizado no chão, com o braço engessado.

Desde então, tornou-se um ícone mundial da causa palestiniana e é considerada pelos palestinianos como um exemplo de coragem face à repressão israelita nos territórios palestinianos ocupados. Um retrato gigante de Tamini foi pintado no muro de separação israelita na Cisjordânia ocupada, no setor de Belém.

Foi detida em 2017, durante oito meses, por ter esbofeteado dois soldados israelitas no pequeno pátio da casa da família em Nabi Saleh, na Cisjordânia ocupada, pedindo-lhes que se fossem embora.

Desde o início da guerra desencadeada a 07 de outubro pelo mortífero ataque a Israel lançado pelo movimento islamita Hamas, no poder na Faixa de Gaza, as forças de segurança israelitas procederam a detenções maciças de palestinianos suspeitos de violência, de incitamento à violência ou de serem membros do Hamas.

Cerca de 150 palestinianos foram mortos na Cisjordânia ocupada por disparos de soldados israelitas ou de colonos, de acordo com o Ministério da Saúde palestiniano.

Mais “200 mártires”. Já são 10 mil mortos em Gaza

O Ministério da Saúde de Gaza atualizou esta segunda-feira para perto de 10 mil o número de pessoas mortas desde o início da guerra com Israel.

De acordo com a mesma informação, citada pela AFP, o número inclui mais de 4.800 crianças e quase 2.600 mulheres entre as vítimas mortais desde 07 de outubro.

Num comunicado, o ministério disse que “mais de 200 mártires” foram mortos em intensos bombardeamentos israelitas realizados durante a última madrugada, especificando que este número cobria apenas a Cidade de Gaza e a parte norte da Faixa de Gaza.

O exército de Israel confirmou que bombardeou durante a madrugada 450 alvos do Hamas “em cooperação conjunta com o Shin Bet”, a agência de inteligência militar israelita. Matou também um líder do movimento islamita palestiniano na Faixa de Gaza, que as forças israelitas querem dividir ao meio.

Num comunicado, as Forças de Defesa de Israel (IDF) acrescentaram que as tropas no terreno “assumiram o controle de um complexo militar do Hamas”, que era composto de “postos de observação, áreas de treino para membros do Hamas e túneis terroristas subterrâneos”.

As IDF também referiram que os 450 alvos atacados por via aérea durante a madrugada incluíam “túneis, terroristas, complexos militares, postos de observação e locais de lançamento de mísseis antitanque”.

Hospitais ocultam túneis do Hamas?

O Hamas afirmou que o exército israelita estava a realizar “bombardeamentos intensos” ao início da noite, perto de vários hospitais no norte da Faixa de Gaza, locais que Telavive diz servirem de cobertura “para a infraestrutura terrorista subterrânea” de túneis do grupo terrorista, disse o porta-voz militar Daniel Hagari.

Hagari revelou, numa conferência de imprensa, dados dos seus serviços de informações e do Exército segundo os quais o Hospital Indonésio e o Hospital do Qatar, ambos no norte da Faixa, estão a ser usados “para atividades terroristas clandestinas do Hamas”.

O porta-voz explicou que os dois centros médicos são usados como parte da estrutura do túnel subterrâneo dos combatentes do Hamas na Faixa de Gaza.

O exército israelita divulgou imagens que alegadamente mostram membros do Hamas a disparar de um hospital em Gaza e expondo a existência de um local de lançamento de mísseis a 75 metros de um hospital sob o qual estão túneis do Hamas.

Em relação ao Hospital do Qatar, observou que no âmbito da sua ofensiva terrestre, os soldados israelitas descobriram que nas suas instalações havia “uma abertura para um túnel que é utilizado para atividades terroristas”.

“Os terroristas também dispararam contra os nossos soldados de dentro do hospital”, acrescentou Hagari, que reiterou a sua acusação de que o Hamas usa a população civil de Gaza como escudo humano, e denunciou que o grupo islamita “é fraco sem escudos humanos”.

Por outro lado, também acusou o Hamas de ter construído o Hospital Indonésio, há anos, como esconderijo para o seu “centro de comando” entre as cidades de Beit Hanoun e Jabalia, no norte de Gaza, onde agora ocorrem combates no terreno desde o início da ofensiva terrestre israelita, que começou em 27 de outubro e em que já morreram 29 soldados israelitas.

O Hamas “coloca armas debaixo de escolas, mesquitas, casas”, acrescentou o porta-voz, que reiterou a acusação de que o principal hospital da Faixa, o Al Shifa, na cidade de Gaza, abriga, nos túneis, um quartel-general do Hamas.

O Hamas negou categoricamente as acusações, afirmando que Israel procura um pretexto para atacar hospitais e disse estar pronto para receber “uma comissão internacional de inquérito” para inspecionar os hospitais e garantir que não são utilizados para fins militares pelo movimento.

Faixa de Gaza cortada em dois

As IDF não especificaram a localização do complexo militar do Hamas, mas no domingo à noite um porta-voz indicou que as tropas israelitas tinham alcançado a costa do Mediterrâneo, cortando o enclave em dois.

O porta-voz das Forças de Defesa de Israel esclareceu que o exército israelita já mantém um controlo extensivo da metade norte do território palestiniano e que está a apertar o cerco à Cidade de Gaza, o principal centro populacional localizado nessa zona.

“Ataques significativos estão em curso (…) e continuarão esta noite e nos próximos dias”, disse Daniel Hagari, afirmando que as forças israelitas que operam no território “cortaram-no em dois: Gaza sul e Gaza norte“.

Luz e Internet cortadas. Alimentos básicos podem acabar em 3 dias

No domingo à noite Gaza sofreu o seu terceiro apagão total de telecomunicações desde o início da guerra, a 07 de outubro.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas alertou esta segunda-feira que os alimentos básicos destinados à população civil em Gaza podem esgotar-se nos próximos três dias.

Os abastecimentos que entraram no enclave através do Egito são muito escassos face às necessidades, principalmente alimentos destinados ao consumo imediato como atum (em conserva), arroz, barras energéticas e tâmaras. A farinha destina-se exclusivamente às padarias.

Por outro lado o Gabinete para a Coordenação da Ajuda Humanitária das Nações Unidas (OCHA) avisou no domingo que “um número limitado” de camiões com bens humanitários conseguiram cruzar a fronteira de Rafah, não tendo especificado mais dados sobre o trânsito de veículos que transportaram auxílio básico no último fim de semana.

No passado dia 21 de outubro, Israel e o Egito aceitaram a entrada de ajuda humanitária — com restrições — sendo que até ao momento entraram em Gaza 451 carregamentos por estrada, de acordo com os dados da semana passada.

Segundo o último relatório do OCHA sobre a situação humanitária em território palestiniano, a distribuição de alimentos por parte de organizações internacionais aos deslocados internos no norte de Gaza está praticamente estancada devido à intensidade dos bombardeamentos de Israel.

Calcula-se que permanecem ainda no norte do enclave cerca de 400 mil civis, entre os quais feridos, doentes e pessoas que não conseguem abandonar o local.

No total, onze padarias foram atacadas ou destruídas em Gaza desde o dia 07 de outubro, quando o Hamas atacou Israel.

ZAP // Lusa

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