Agência espacial norte-americana descobriu falha na Europa Clipper a poucos meses do lançamento. Mas descobriu uma solução a tempo.
Poucos meses antes do lançamento previsto da nave espacial Europa Clipper, orçada em cerca de 5 mil milhões de dólares, os cientistas da NASA receberam notícias dignas de “enterrar a cara numa almofada e uivar de terror”.
A nave espacial, que se destina a explorar uma das luas de Júpiter, Europa, com painéis solares de mais de 30 metros de comprimento, tem como objetivo examinar se a lua gelada, que se crê conter um enorme oceano sob a sua superfície, pode suportar vida.
Tudo estava bem encaminhado, mas em maio, a NASA descobriu uma falha grave na nave espacial que pôs em risco toda a missão.
O cientista principal Curt Niebur recebeu um e-mail urgente que informava que os transístores cruciais, conhecidos como MOSFETs (transístores de efeito de campo semicondutores de óxido metálico), utilizados na eletrónica da nave espacial ficariam vulneráveis à intensa radiação de Júpiter.
“Abre-se o e-mail imediatamente, lê-se e responde-se: ‘Obrigado por partilhar’ — e depois enterra-se a cara numa almofada e uiva-se de terror”, confessou Niebur ao The New York Times.
A poderosa magnetosfera de Júpiter, que acelera as partículas carregadas a altas velocidades, produz níveis de radiação que podem danificar gravemente os componentes eletrónicos. Os testes mostraram que os MOSFETs estavam a falhar em tais ambientes, o que tornaria muito possivelmente a nave espacial inoperacional quando chegasse a Júpiter.
Com 1.500 destes transístores integrados em toda a nave espacial, a tarefa de os substituir parecia impossível. Os cientistas da NASA receavam que pudesse custar até mil milhões de dólares e pior: podia atrasar a tão esperada missão em anos. Falhar a janela de lançamento de 21 dias, em outubro, colocaria o projeto numa situação ainda mais incerta.
Nova missão: salvar a missão
Apesar de tudo, a equipa descobriu uma solução: a radiação poderia ter um efeito de auto-cura nos transístores.
As experiências sugeriam que os transístores danificados podiam recuperar à medida que o calor da radiação recozia os átomos dos componentes. Isto levou à ideia de que limitar cuidadosamente a exposição da nave espacial à radiação e reduzir a utilização dos seus instrumentos poderia salvar a missão.
Outra inovação veio do gestor de sistemas de voo Jeff Srinivasan, que propôs a ideia de uma “caixa canário”, um sistema que monitorizaria os MOSFETs durante a missão e alertaria os cientistas para desligarem sistemas específicos se os níveis de radiação se tornassem demasiado elevados. Os engenheiros, sob grande pressão, conseguiram desenvolver esta solução em apenas um mês.
Prevê-se que a Europa Clipper chegue a Júpiter em 2030 para efetuar várias passagens pela lua para levar a cabo a sua missão científica.