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“Foi desumano”. Grécia expulsa migrantes e abandona-os no mar

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Desde o início da pandemia, a Grécia tem vindo a expulsar migrantes. Já são mais de 1000. Agora, as evidências mostram que o governo conservador optou por uma estratégia mais drástica para mantê-los fora do país: abandonou-os no mar.

Numa atitude drástica, a Grécia enviou um grande número de refugiados para a orla das águas territoriais gregas, acabando depois por os abandonar em botes salva-vidas insufláveis que estavam, na maioria dos casos, sobrecarregados.

As expulsões tiveram inicio em março, e foram impulsionadas por oficiais gregos. A Times entrevistou sobreviventes de cinco desses episódios e analisou evidências fotográficas ou vídeos dos momentos.

De acordo com as leis do direito internacional público, a atitude de Atenas é ilegal. Estas expulsões serão uma tentativa direta de um país europeu bloquear a migração marítima, usando as suas próprias forças.

O governo grego nega a ilegalidade das suas ações. “As autoridades gregas não se envolvem em atividades clandestinas”, garante Stelios Petsas, um porta-voz do governo. Petsas defende que o país cumpre todas as leis implementadas a nível internacional, pois tem “um histórico comprovado de cumprimento de leis, convenções, e protocolos internacionais. Isso inclui o tratamento de refugiados e migrantes”.

Isolada em relação a alguns países da Europa

Desde 2015 que alguns países como Grécia e Itália têm contado com aliados para impedir a migração marítima. Agora essa não é mais uma realidade. O governo grego tem uma postura mais rígida e tem optado por fazer justiça com as próprias mãos, tal como afirmam grupos de vigilância e investigadores.

A hostilidade grega pode ter uma razão. Depois de mais de 5 anos a asilar refugiados em ilhas gregas já sobrecarregadas, a Grécia cansou-se de receber “migalhas” da Europa. Ao longo dos anos, outros países europeus apenas ofereceram uma assistência modesta a Atenas e isso tem criado alguns incómodos.

Desde a eleição do conservador Kyriakos Mitsotakis, o país assumiu uma postura muito mais dura com os migrantes, que são na maior parte dos casos refugiados da guerra na Síria. O país diz-se sobrecarregado com mais de 3,6 milhões de sírios, um número muito superior ao de qualquer país da Europa.

Esta abordagem ocorre numa altura em que a tensão com a Turquia tem vindo a aumentar. A Grécia acredita que a Turquia usou os migrantes como arma para aumentar a pressão sobre a Europa, pela ajuda e assistência à Guerra da Síria. A tensão entre os dois países deve-se também à disputa de zonas de gás e petróleo disputadas no Mediterrâneo Oriental.

Há justificação para a postura hostil?

François Crépeau, especialista em direito internacional, acredita que este tipo de atitude é totalmente intolerável e ilegal. “É um desastre humanitário e de direitos humanos”, acrescentou.

Segundo o New York Times, durante a expulsão, as autoridades turcas conseguiram resgatar inúmeros refugiados, transportando-os para a fronteira terrestre grega, numa tentativa de criar um confronto com o país.

Especialistas em direito internacional dizem que o comportamento da Grécia durante a pandemia foi premeditado. Na altura, centenas de migrantes viram negado o direito de pedir asilo. “A Grécia aproveitou o momento. O coronavírus abriu uma janela de oportunidade para fechar as fronteiras nacionais”, explica Crépeau.

Muitos migrantes também foram deixados à deriva nos barcos que os transportavam, depois das autoridades gregas desligaram os motores. Pelo menos em duas ocasiões, os migrantes foram abandonados em Ciplak, uma ilha deserta localizada em águas turcas, em vez de serem colocados em botes salva-vidas.

Niamh Keady-Tabbal, investigador do Centro Irlandês de Direitos Humanos, critica a atitude grega e diz que a “prática é totalmente sem precedentes, as autoridades gregas estão a transformar o equipamento de resgate em armas para expulsar ilegalmente os refugiados”.

O relato da sobrevivência

“Foi desumano”, descreveu Najma al-Khatib, professora síria, que garante que oficiais gregos, mascarados, a levaram juntamente com mais 22 pessoas — incluindo dois bebés. O grupo foi abandonado num bote salva-vidas antes de ser resgatado pela Guarda Costeira turca.

A professora explica que foi para a Grécia em busca de melhores condições de vida, mas “depois do que aconteceu, desejei ter morrido sob um bombardeamento na Síria”.

Al-Khatib contou a sua experiência à Times. A migrante síria explica que entrou na Turquia em novembro passado com os seus dois filhos, de 14 e 12 anos, na tentativa de fugir aos avanços do Exército Sírio. Com poucas perspetivas na Turquia, a família tentou chegar à Grécia de barco, mas foi intercetada em águas gregas e levada de volta a fronteira com a Turquia.

A 13 de maio, Amjad Naim, um estudante palestino de 24 anos, estava entre um grupo de 30 migrantes intercetados por autoridades gregas quando se aproximavam da costa de Samos, uma ilha grega perto da Turquia. Naim gravou vídeos com o telemóvel, onde mostra duas boias a serem puxadas por um grande navio branco.

“A Guarda Costeira Turca acabou por nos vir resgatar ”, disse um sobrevivente palestino que estava entre um grupo abandonado em Ciplak no início de julho.

Várias organizações de defesa dos direitos humanos, como a Human Rights Watch, também documentaram a forma como as autoridades gregas detiveram os migrantes, e os expulsaram sem recurso a ações legais.

Ylva Johansson, que supervisiona a política de migração na Comissão Europeia, disse que estava preocupada com as acusações feitas à Grécia, mas para já não tinha poder para as investigar, explicando que  “o controlo das fronteiras pode e deve andar de mãos dadas com o respeito pelos direitos fundamentais.”

ZAP //

21 Comments

  1. Isto é para além de desumano e “drástico”. Isto é criminoso e ilegal. Importa sancionar e se necessário correr pra fora da UE, com um país que não percebe que a soberania de certas decisões termina onde começa o direito internacional. Se querem fazer tudo o que lhes der na testa, então que o façam fora da UE.

    • É desumano mas não devemos atirar pedras. Se aquelas centenas de pessoas que entraram na Grécia ilegalmente, fugindo da guerra e os outros milhares que entraram também ilegalmente, por motivos económicos, um dia começarem a entrar no nosso país, tenho a certeza que vamos ter que fazer o mesmo.
      As autoridades Gregas deviam ter levado os migrantes ao país de origem e a Europa devia fazer com que houvesse um fluxo de migrantes que precisassem de ajuda, mas num fluxo controlado e não o que se passa.
      Sou a favor que se ajudem as pessoas que necessitam mas tem que haver bom senso e ter a certeza de que no nosso pais, não há pessoas igualmente a precisar de ajuda.E como você deve saber, o que não falta são Portugueses a passar dificuldades. Até os que trabalham passam dificuldades.
      Olhe para os migrantes que desembarcaram no Algarve. Acha que eles estão a fugir à guerra?. Quanto a mim, o Estado já peca por ainda não os ter repatriado. Temos que ser solidários mas não podemos ser demagogos. As coisas têm de ser feitas com conta, peso e medida. E para terminar, se Portugal tivesse os migrantes ilegais que a Grécia ou a Itália têm, nem quero imaginar o que aconteceria.

    • Quem os pôs no barco? Se você se atirar de um precipício ou de um prédio não tem que arcar com as consequências? Ora aí está, meteram-se num bote, não fui eu ou você que os meteu, agora aguentem. Temos pena mas a vida é assim, não tem que haver atalhos ou mordomias para os de fora quando há tantos nacionais a passar fome e a dormir na rua.

    • Se estás com pena pede para a Turquia mandar alguns milhares para Portugal e para a Alemanha também.
      Aliás a guarda costeira grega não expulsou ninguém como propaga a Turquia, apenas não os deixou entrar.

  2. Miguel Queiroz, é tudo muito lindo. Mas voçe certeza que não os quer sustentar cá, nem oferecer casa e tudo o mais de forma gratuita.
    PkPariu os comunistas.

  3. Porque será que a Arábia Saudita ou os Emiratos que são tão opulentos não recebem estes irmãos ? Mandam-nos para esses países que são da mesma religião e tem muito dinheiro do petróleo para os sustentar!

  4. Ò ò Tio, a ideia é de ter um contingente muçelmano na Europa e nas Saudis já há o suficiente. Aliás a explosão de islamitas na Europa aconteceu após a crise de 1973, nos anos oitenta quando empresas como a Shell e BP em conluio com os respectivos governos e accionistas (entre outros as coroas inglesa e holandesa), pactuaram com a Arábia Saudita que em troca de um fluxo constante de trabalhadores (logo seguidos pelas esposas e filhos, tios e primos), garantiu o fornecimento sem interrupções do liquido viscoso. A população em nada foi consultada e está perante um facto consumado. Bom para Portugal, pois a imigração de Franceses é em muito devido à deterioração na terra natal.

  5. É preciso sancionar as máfias que recebem dinheiro deles e os coloca às portas da Europa e entregues à sua sorte. Não são os que vivem com um ou dois euros por dia que estão nesses barcos. É gente que tem dinheiro para pagar. Vê-se até pela cara deles. Anda muito mafioso a ganhar com esse tráfico. Depois alguns argumentam que são fugidos da guerra da Síria para mais facilmente enganar papalvos. Vêm de toda a África, muitos fugidos à miséria e à procura do el dourado. À procura de subsídios, casa e educação que é coisa que há pouco na terra deles. O pior é que eles não sabem a língua e alguns nem devem saber ler e contar. E ainda querem impor os seus costumes, as sua leis e as suas shárias. FORA COM ELES!!!

      • Quem os abandonou no mar (às portas da Europa) foram os mafiosos que os meteram no barco e receberam o dinheiro. Assim é que devia ser o título da notícia.

      • Em vez de escreveres meia linha devias ter escrito as linhas que eu escrevi e rebateres os meus argumentos. Mas como não és capaz nem tens argumentos chamas-me “artista”

  6. Quando precisarmos nós ou os nossos filhos de fugir para outras paragens por falta de água e seca extrema gostaria de voltar aqui e ver a cara de alguns dos comentadores que agora por aqui andam. Mas provavelmente estamos a falar de gente sem filhos…

  7. As migracoes hoje nao faz quelquer sentido uma vez que existem ajudas de muitos paises. Um dos erros foi aceitarem todo gente agora os que veem tambem querem entrar.
    Migracoes sempre houve e sempre vai haver. Erros maior foi criarem condicoes e apoios que nao sao oferecidos a muitos nacionais de cada pais… isto esta revoltar muita gente….
    Portugal ‘e pais que nao da condicoes aos nacionais e quer dar aos imigracao …esta mal muito mal … temos de sair do pais para ganhar a vida e gente com estudos a fazerem trabalhos de toda especie….. essa gente vem usufruir de bones e ofertas que nos nao tivemos e nunca vamos ter…. da que pensar … eu tenho pena mas ninguem tem pena de mim …. a pois … verdade bem contada doi e muito…. ajudamos mas nao podemos expulsar os nossos para fora sem ajudas nao ‘e justo …

  8. Mas por acaso a Grécia faz fronteira com a Síria? É que quem ler a notícia, que até chama refugiados a estes imigrantes ilegais, até fica a pensar que sim. Se são refugiados ficam na Turquia, não foi por lá que passaram para chegar à Grécia? Ou a Turquia está em guerra? Estes “refugiados” até telemóvel têm para poder fazer vídeos da guarda costeira grega, os “maus” que não deixam os coitadinhos vir para a Europa viver à nossa custa. Mamões já temos aqui que cheguem, não precisamos de mais. E muito menos precisamos de justificar quem queremos deixar entrar em nossa casa. As coisas andam bastante invertidas hoje em dia e é preciso começar a por alguns pontos nos is.

  9. Existe excedente populacional. pelo menos 2 bilioes deveriam de desaparecer do Planeta para que este consiga respirar novamente de alivio.

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