Uma conservadora de arte de Nova Iorque descobriu que o pintor norte-americano Jean-Michel Basquiat utilizou tinta invisível, somente detetada com luz ultravioleta, para esconder desenhos de flechas numa das suas obras.
Segundo informou o Artnet News, no início deste mês, a descoberta decorreu quando Emily Macdonald-Korth foi solicitada por um cliente, em dezembro de 2018, para confirmar se uma das obras de Basquiat tinha sido realmente feita em 1981.
Pensando que se dirigia para um trabalho forense de rotina, a conservadora de arte tinha planeado realizar análises aos pigmentos e aos elementos da pintura, tirar fotografias técnicas e observar a imagem com luzes ultravioletas e infravermelhas.
Segundo o artigo, os desenhos foram detetados quando Emily Macdonald-Korth desligou as luzes do teto e recorreu à lanterna de mão com luz ultravioleta, utilizada, normalmente, para identificar vernizes ou outros sinais que indiquem se uma pintura sofreu reparos ou alterações.
“Começo a olhar para a pintura e vejo flechas”, disse a conservadora à Artnet News, que acendeu novamente as luzes do teto para ter certeza de que os desenhos eram reais. Quando o fez, as flechas desapareceram. Tornando a desligá-las, voltaram a aparecer.
De acordo com Emily Macdonald-Korth, tratam-se de duas flechas desenhadas com o que parece ser um lápis de luz negra, virtualmente idênticas a outras flechas visíveis na tela com barras de óleo vermelhas e pretas.
“Nunca vi nada assim”, afirmou, acrescentando que Basquiat criou “uma parte totalmente secreta” na pintura em questão.
Embora não seja conhecido por incluir imagens específicas com tinta ultravioleta no seu trabalho, esta não é a primeira vez que Basquiat usou esse tipo de material. Em 2012, o Sotheby’s London descobriu que a pintura Orange Sports Figure, de 1982 (criada meses depois da que Macdonald-Korth analisou), continha uma assinatura do nome do artista no canto inferior direito, feita com recurso a tinta invisível.
A Artnet News afirma que não está claro se Basquiat pretendia que os desenhos invisíveis servissem como um guia subjacente para a pintura ou se os considerava um elemento do próprio trabalho.
Para Emily Macdonald-Korth, essas escolhas do pintor encaixam no seu “processo maior de pintura” sobre uma imagem, que pretendia ser parcialmente visível, de forma a criar uma história, com uma parte secreta.
A conservadora de arte suspeita que aparecerão outras telas de Basquiat com desenhos do género, caso os proprietários os procurem.
Outra das suas obras mais famosas, Poison Oasis, de 1981, também contém flechas na sua composição. “A localização de uma das flechas [com tinta invisível] que encontrei está quase no mesmo lugar que na pintura Poison Oasis, mas apontando para baixo e não para cima. Aposto que as encontraríamos [as mesmas fechas com tinta invisível] no Poison Oasis“, disse a conservadora de arte.
“Qualquer um que possua um Basquiat devia ter uma lanterna ultravioleta. É tão emocionante ver algo literalmente invisível que o artista colocou de propósito, de forma completamente intencional”, concluiu.
Taísa Pagno, ZAP // Artnet News