Uma molécula mostrou oferecer benefícios do exercício físico, sem que seja necessário fazer exercício físico. Ainda assim, um comprimido milagroso está longe de ser uma realidade.
O exercício físico altera mais de 9.800 moléculas no nosso sangue, num processo a que os cientistas chamam de “sinfonia” celular. Apesar dos milhares de moléculas envolvidas, nem todas têm os mesmos benefícios para o corpo humano.
Uma equipa de investigadores sediada na Escola de Medicina da Universidade de Stanford, no Estados Unidos, identificou uma molécula em concreto que parece desempenhar um papel descomunal.
Os autores do estudo observaram o que acontece com as moléculas no plasma sanguíneo de ratos depois de estes correrem numa passadeira até à exaustão.
De acordo com o portal Freethink, o composto C12H14NO4 aumentou significativamente, com os investigadores a descobrirem posteriormente ser N-lactoil-fenilalanina, ou “Lac-Phe”.
O aminoácido modificado é sintetizado a partir do ácido lático — que é produzido em abundância durante o exercício físico intenso — e da fenilalanina, um dos blocos de construção das proteínas.
Depois da experiência com ratos de laboratório, os investigadores testaram o mesmo em cavalos de corrida e em humanos. Os resultados foram semelhantes, levando os cientistas a concluir que o Lac-Phe é o “metabólito circulante mais significativamente induzido”.
Para perceber se esta molécula é responsável por transmitir alguns dos efeitos “milagrosos” do exercício físico na saúde, os investigadores vestiram as batas e voltaram ao laboratório.
Para tal, injetaram Lac-Phe em ratos obesos, descobrindo que reduziu significativamente o apetite e a gordura corporal, e melhorou a tolerância à glicose durante o período de estudo de dez dias.
Curiosamente, Lac-Phe não concedeu esses benefícios a ratos magros e saudáveis. Também não funcionou quando administrado por via oral, indicando que o Lac-Phe pode não funcionar como um “comprimido mágico” de exercício físico.
Lac-Phe regulou ainda os efeitos benéficos do exercício físico num teste no qual os cientistas modificaram geneticamente ratos sem uma enzima chave para produzir Lac-Phe. Estes ratos perderam muito menos peso do que os ratos do grupo de controlo.
Potencialmente, esta molécula poderá reduzir a gravidade da osteoporose, doenças cardíacas, diabetes, declínio cognitivo e outros problemas de saúde em que o exercício físico é conhecido por ajudar a tratar.
“Trabalhos futuros descobrindo os mediadores moleculares e celulares a jusante da ação de Lac-Phe no cérebro podem fornecer novas oportunidades terapêuticas para capturar os benefícios cardiometabólicos da atividade física para a saúde humana”, salientam ainda os autores do estudo publicado recentemente na revista Nature.