Descoberta mesquita do século XI em Sintra junto a santuário romano dedicado ao Sol e mar

Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas

As ruínas de uma segunda mesquita do “ribat” islâmico, datável dos séculos XI e XII, foram identificadas e escavadas no sítio arqueológico do Alto da Vigia, junto à Praia das Maçãs.

A descoberta de uma nova mesquita, pela equipa de arqueologia da autarquia, vem reforçar a importância deste espaço sagrado para o Islão, que documenta um tipo de realidade arquitetónica para a qual se conhecem apenas outros dois sítios em toda a Península Ibérica: um em Aljezur e outro junto a Alicante, Espanha.

Em comunicado, a Câmara Municipal de Sintra adianta que continuam “os trabalhos de investigação no sítio arqueológico do Alto da Vigia, junto à Praia das Maçãs, tendo agora identificado e escavado as ruínas de uma segunda mesquita do “ribat” islâmico datável dos séculos XI e XII”.

“Este lugar seria simultaneamente de oração e de vigilância da costa face ao risco de ataque, nomeadamente por parte das forças cristãs”, lê-se na nota.

“A comparação com estes locais leva, pois, a crer que os vestígios agora postos a descoberto em Sintra incluirão numerosas mesquitas numa ampla área ainda por escavar”, salienta-se na informação municipal.

No local tinha já sido identificada uma primeira mesquita, igualmente com o seu característico nicho virado para a cidade sagrada de Meca (“mihrab”), bem como um edifício sem este oratório.

Na informação camarária, a que a Lusa teve acesso, destaca-se “a presença de um cemitério com sepultamentos efetuados segundo os ditames da fé islâmica, além de cerca de uma dezena de cavidades escavadas na rocha destinadas ao armazenamento de alimentos (silos)”.

Os técnicos dos serviços de arqueologia municipais sublinham que, no caso do Alto da Vigia, acresce a particularidade única deste “ribat” partilhar o espaço com o santuário romano dedicado ao Sol e ao Oceano, de cujas ruínas “reutilizou múltiplos elementos epigráficos e arquitetónicos como material de construção”.

“Esta nova descoberta não enriquece apenas a nossa compreensão sobre Sintra, mas vem fortalecer o nosso compromisso com a preservação e valorização do património cultural do concelho”, afirmou, citado na nota, o presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta.

O Sítio Arqueológico do Alto da Vigia, que, segundo nota da autarquia, regista ocupações na época romana, islâmica e moderna, foi em 2021 classificado pelo Ministério da Cultura, como Sítio de Interesse Público.

Os vestígios mais antigos até agora identificados poderão corresponder a um templo romano dedicado ao Sol Eterno, à Lua e ao Oceano.

A identificação destas ruínas, encontradas no século XVI, corresponde à primeira descoberta arqueológica feita em Portugal. A importância do local foi largamente reconhecida na época, passando a ser ponto de visita obrigatória para os eruditos, portugueses e estrangeiros, durante o Renascimento.

ZAP // Lusa

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