“Desânimo. Chegar ao fim do mês a zero”: a realidade de uma professora

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As filhas de Dulce nem vão de férias: “Nunca consegui proporcionar às minhas filhas uma saída para fora do país”.

Se ser professor, ou professora, era sinónimo de alto estatuto, de respeito, de uma profissão que muitos procuravam… Essa “profissão de sonho” deixou de o ser em Portugal, há muitos anos.

Entre problemas na sala de aula que se multiplicam, as divergências com os sucessivos Governos, ou a facilidade com que são “alvos” dos pais ou da opinião, a questão do salário não é um pormenor.

Dulce Coelho tem 50 anos e é professora de matemática e ciências da natureza nos 1.º e 2.º ciclos. É de Sátão, Viseu, mas já esteve no Algarve, por exemplo. Agora está em Fermentelos, Águeda.

A docente conta ao Jornal de Notícias que “recebe o mesmo” desde 2006 até agora. Por vezes até menos – em anos lectivos sem horário completo.

Tem estado desanimada, admite a própria, e sente que tem perdido constantemente poder de compra: no início ainda conseguia contribuía para o pagamento da renda da casa, mas agora nem isso consegue e é o marido que paga tudo.

Não tem casa perto da escola. Vai de Sátão para Fermentelos todos os dias, cerca de 200 km por dia. E umas centenas de euros por mês gastas nessas viagens.

E Dulce tem duas filhas: “Temos de fazer muito bem as contas ao orçamento e de nos privar de muita coisa, porque chegamos ao fim do mês a zero”, confessou a professora.

A família raramente almoça ou janta fora de casa, raramente vai ao cinema. A filha mais velha queria praticar ballet mas não há dinheiro.

E as férias também não são prioridade: “Nunca consegui proporcionar às minhas filhas uma saída para fora do país”.

Mas Dulce não deixa a carreira: “Estou na profissão porque gosto” – embora já tenha pensado “seriamente” em desistir.

“Tantos sacrifícios e continuava a não poder programar a minha vida, porque dependia sempre de onde seria colocada, do horário que teria. Deixava-me muito desiludida e com desânimo”, desabafa.

ZAP //

8 Comments

  1. O melhor que tem a fazer dr.ª Dulce Coelho é mudar de profissão ou tentar a sorte no privado, se aquilo que os Portugueses neste momento lhe podem pagar não corresponde às suas necessidades, mude de profissão, é isso que faz a maioria dos Portugueses quando as condições que lhes são dadas pelo empregador não lhes satisfaz.

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    • Descobriste a pólvora Figueiredo. A tua rilhante solução para um dos problemas no nosso ensino, do qual depende o futuro do nosso país, é deixar tudo como está, e simplesmente mudar de emprego…?

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      • Se os funcionários do Estado consideram que aquilo que os Portugueses lhes podem pagar não corresponde às suas necessidades devem mudar de profissão ou tentar a sorte no privado, é isso que faz a maioria dos Portugueses quando as condições que lhes são dadas pelo empregador não lhes satisfaz.

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    • Aquilo que os portugueses podem pagar??? Será que os portugueses preferem encher os bolsos a corruptos, atletas e pseudo estrelas da TV.? Tenho algumas dúvidas…. Não apostem na educação, saúde e em dar bons valores aos vossos filhos e não se admirem de os ver nos noticiários em cenas de pancadaria gratuita… Pobreza de espírito e de valores. Isto sim, é o que faz desvalorizar o ensino público e os profissionais que não têm como melhorar o seu modo de vida. Este tipo esquece quem são as cobaias dos exercícios orçamentais de sucessivos governos sem qualquer sentido. Enfim, força, Dulce, apesar das perspetivas serem pouco animadoras

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      • «…Há muita gente que não tem qualidades nem capacidades de ensino, não devia estar a ensinar, não por razões morais mas por razões técnicas, profissionais, porque não sabem para elas quanto mais para os outros…» – Joaquim Letria

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  2. Há medida que a dificuldade em contratar se acentuar, os salários vão crescer, assim como o ensino privado, como já se vê pela procura, vai engrossar as suas fileiras à medida que o ensino público entra em colapso, exactamente como aconteceu e sucede com o SNS. Os médicos souberam tirar partido disso, basta ver como a saúde privada, os grandes grupos florescem. Os portugueses é que vão ter que pagar cada vez mais pela saúde, pela educação e pela habitação…. Quem não puder pagar não tem…. Admirável país, forma médicos, professores e quem vai lucrar, cada vez mais, são os privados… E os burros são eles? Ahahahahah!

  3. Os otários gostam é de pagar para os bancos, pagar as benesses para os grandes grupos económicos, alimentar a corrupção, engordar quem não cumpre as obrigações fiscais, etc. São roubados e ainda se riem…parolos.

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