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A depressão pode ser uma doença física

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Cientistas defendem que há uma ligação clara entre a depressão e a inflamação causada por um sistema imunitário hiperativo. Casual ou não, esta relação pode abrir novas vias de tratamento e esperança para os pacientes.

Os tratamentos atuais para a depressão concentram-se sobretudo em produtos químicos cerebrais como, por exemplo, a serotonina. Porém, uma equipa de cientistas pensa agora que a inflamação em todo o corpo, desencadeada por um sistema imunitário hiperativo, pode ser a causa do problema.

A inflamação generalizada pode produzir sentimentos de infelicidade, falta de esperança e fadiga. Se assim for, a depressão pode ser tratada com medicamentos anti-inflamatórios.

Mas também pode ser um sintoma: muitas pessoas ficam com um mau estado de espírito quando estão doentes e o seu sistema imunitário está ocupado a lutar contra infeções ou vírus. No caso da depressão crónica, o sistema imunitário pode estar a falhar em “desligar” depois de uma doença ou trauma, levando a sintomas persistentes.

Um grande conjunto de pesquisas, incluindo artigos científicos e resultados de ensaios clínicos, parece revelar uma relação entre o tratamento da inflamação e o alívio da depressão.

No final de julho, cientistas da Universidade de Stanford, nos EUA, afirmaram que poderiam criar um teste de diagnóstico para encefalomielite miálgica/síndrome de fadiga crónica, juntamente com um tratamento. Este trabalho confirmou outros anteriores que ligavam a síndrome à depressão e à inflamação.

Em outubro de 2016, uma revisão importante sobre medicamentos anti-inflamatórios também revelou uma ligação definitiva entre a inflamação e a depressão. O trabalho mostrou que cerca de um terço das pessoas com depressão têm níveis mais elevados de citocinas, proteínas que controlam a maneira como o sistema imunitário reage.

Segundo Ed Bullmore, chefe do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, um novo campo de “imuno-neurologia” deve surgir em breve. “É bastante claro que a inflamação pode causar depressão”, disse o investigador, durante uma conferência do Academy of Medical Sciences FORUM.

“Em relação ao humor, além de qualquer dúvida razoável, existe uma associação muito robusta entre a inflamação e os sintomas depressivos. A questão é se a inflamação leva a depressão ou vice-versa, ou se é apenas uma coincidência. Nos estudos de medicina experimental, se tratamos indivíduos saudáveis com uma droga inflamatória, uma percentagem substancial dessas pessoas ficará deprimida. Por isso, pensamos que há provas suficientes para um efeito causal”.

Uma consequência importante desses trabalhos seriam tratamentos mais eficazes para curar a depressão e que talvez não precisassem de durar a vida toda. Outra implicação é que, se esse conhecimento melhorar a nossa compreensão de como tratar a doença, poderíamos transformar a perceção que as pessoas têm atualmente.

Socialmente, ver a depressão como uma condição com uma causa física definitiva poderia ajudar a reduzir o estigma à volta das doenças mentais que, muitas vezes, impedem as pessoas de procurar e obter tratamento.

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