Depois dos prejuízos da pandemia, o Grupo Delta está a recuperar em força e prepara-se para ter “a melhor facturação de sempre”. Só não será o melhor ano de sempre em termos de lucros por causa da inflação.
Esta análise é feita pelo presidente executivo do Grupo Delta, Rui Miguel Nabeiro, que, em entrevista ao Expresso, lamenta a escassez de matéria-prima.
“Chegámos a ter falhas na entrega de película para embalamento do café, o que é impensável, aconteceu há dois meses com um fornecedor de Espanha, fruto da ausência de matérias-primas e de uma greve de camionistas”, destaca Nabeiro.
“Há dois anos não trabalhávamos porque não tínhamos clientes, agora não trabalhamos porque não temos fornecedores“, refere ainda, queixando-se dos atrasos nos “prazos de entrega” e de estarem “a subir preços”.
Nabeiro fala em “dificuldades enormes em ter entrega de chávenas“. “Neste momento, não tenho chávenas para entregar a alguns clientes” e “se não houver chávenas, não posso vender café”, diz.
“Os fornecedores estão a ratear as entregas, e nós fazemos o rateio das mesmas encomendas aos nossos clientes”, analisa também.
A solução, “mitigando um bocadinho este risco, é procurar novos fornecedores“, relata Nabeiro.
Houve “grandes dramas” com as máquinas de café
No final do ano passado, chegou a haver “momentos de angústia” e “grandes dramas” com “as máquinas de café”. Mas não houve “disrupções na entrega do café” porque “as origens são sobretudo o Brasil e África“.
Além disso, o presidente executivo da Delta explica que ainda é o seu avô e fundador do Grupo, Rui Nabeiro, “quem compra o café”. Pelo que “estamos bem cobertos”, “temos stocks para mais de seis meses”, conclui.
A crise energética também causa “preocupação” a Rui Miguel Nabeiro que vinca, contudo, a aposta que o Grupo Delta tem feito na “sustentatibilidade”, em “projectos de economia circular e de eficiência”, numa “frota comercial eléctrica” e num “centro fotovoltaico” que visa tornar a fábrica “muito mais independente energeticamente”.
Sem inflação, seria melhor ano de sempre em lucros
Apesar de tudo, o presidente executivo da Delta prevê que vai ser um bom ano para o Grupo que espera “a melhor facturação de sempre”.
Em 2019, o Grupo facturou 400 milhões de euros. Para 2022, Rui Miguel Nabeiro espera “atingir os 430 milhões”, mesmo considerando que “teremos um segundo semestre muito incerto, por causa da inflação”.
“Se não fosse a inflação se calhar tínhamos o melhor ano de sempre a nível de lucros”, aponta ainda.
“O café praticamente duplicou de preço, temos todas as matérias-primas a subir, nós torramos café com gás e, portanto, estamos a pagar três vezes mais a factura de gás”, analisa o responsável da Delta.
Nesta conjuntura, “há uma parte da margem que está a desaparecer, ou seja, facturando muito mais não conseguimos resultados idênticos“, conclui.
Delta quer “chegar ao top 10 dos produtores mundiais de café”
“Os mercados internacionais estão a correr muito bem” e vão contribuir decisivamente para o bom ano da Delta, segundo Rui Miguel Nabeiro.
“Entrámos na Polónia há dois anos através de uma parceria de exclusividade com a Jerónimo Martins, vendemos nas lojas deles, na Biedronka, já temos 300 mil lares na Polónia com máquinas Delta-Q, com uma quota de mercado de 22%, o que é um orgulho”, aponta.
O executivo do Grupo Delta assume que “a pandemia ajudou muito”, permitindo ganhar “muito terreno com o aumento do consumo em casa”. Além disso, “as vendas pela Internet aumentaram em Portugal e também em Espanha e em França”, diz.
Agora, para o futuro próximo, a ideia é “continuar a crescer em todos os mercados, mas em especial na Polónia”, revela Rui Miguel Nabeiro.
O presidente executivo da Delta também aposta na “modernização da fábrica de Campo Maior” com um sonho alto em vista: “a ambição de chegar ao top 10 dos produtores mundiais de café“.
Para essa meta também conflui o investimento na expansão em Angola, com “tecnologia de ponta para produzirmos a marca Ginga no sistema Delta-Q”, refere.
Admiro imenso este enorme industrial. Só tem um pequeno defeito: é ser de esquerda (embora moderada). Parabéns Comendador!