O ex-internacional português Deco está implicado na operação Fora de Jogo que envolve suspeitas em torno de transferências de jogadores. Um dos negócios investigados envolve o FC Porto, mas o Vitória de Guimarães também surge no trilho de Deco que terá tentado comprar a SAD minhota por duas vezes.
As buscas efectuadas no âmbito da operação Fora de Jogo chegaram a Deco e à sua empresa de agenciamento de jogadores, a D20 Sports.
Em causa estão suspeitas de que a empresa de Deco usará “um esquema de empresas sediadas em offshore para receber as comissões e não pagar impostos“, como aponta o Correio da Manhã (CM).
Um dos negócios sob suspeita, conforme avança o jornal, respeita à transferência de Yordán Osorio do Tondela para o FC Porto, na época 2017/2018. O Tondela vendeu aos portistas a metade que tinha do passe do atleta, em conjunto com a empresa de Deco, por 2 milhões de euros apesar de pedir 2,5 milhões.
Entretanto, Osorio só fez um jogo no FC Porto e foi emprestado ao Vitória de Guimarães. Acabou por ser emprestado ao Zenit a troco de um milhão de euros e em 2020, o FC Porto vendeu-o ao Parma por 4,10 milhões de euros.
Transferências do Vit. Guimarães sob suspeita
Mas a ligação de Deco ao Vitória de Guimarães e a vários negócios com este clube também estará a ser investigada.
A D20 Sports esteve envolvida em várias transferências do Vitória, com destaque para a venda de Edmond Tapsoba ao Bayer Leverkusen, por 18 milhões de euros, na temporada de 2019/2020.
Mas notam-se ainda as transferências de Raphinha para o Sporting (6,5 milhões de euros) e de Tiquinho Soares para o FC Porto (5,6 milhões de euros), entre outras.
O Público apurou, contudo, que “grande parte das contratações e transferências conduzidas pela empresa de Deco não foram comunicadas à Federação Portuguesa de Futebol, não constando na sua lista anual de intermediações e transacções”.
E algumas delas foram “atribuídas a outros agentes ou empresas de intermediação”, destaca o jornal, o que é visto como suspeito pelos investigadores da operação Fora de Jogo.
Duas propostas para a compra da SAD vitoriana
Pelo meio dos negócios com o Vitória, Deco terá apresentado aos dirigentes do clube duas propostas para a compra da SAD.
A primeira surgiu em Setembro de 2016, numa parceria com o investidor Alejandro Etchebarria, quando chegou a oferecer 8,5 milhões de euros pelas 56,84% de acções que Mário Andrade Ferreira (MAF – Sociedade de Investimentos SGPS, SA) detinha na altura, como avança o Público.
Após essa primeira proposta ter sido recusada pelo accionista, três meses depois, a 8 de Dezembro de 2016, os então administradores da SAD vitoriana, Júlio Mendes, Armando Marques e Luís Teixeira, assinaram um “acordo secreto” com Mário Andrade Ferreira, definindo condições para a venda das acções deste último.
O Público refere que esse acordo, que só foi mais tarde divulgado, previa “compensações e prémios” para Júlio Mendes, Armando Marques e Luís Teixeira no caso de ser acordada a venda de parte ou da totalidade das acções de Mário Andrade Ferreira por um “valor mínimo de oito milhões de euros“.
Num cenário em que esse valor fosse atingido ou superado, Mário Andrade Ferreira teria de pagar a Júlio Mendes como “prémio de desempenho” um valor “de até 700 mil euros”, além de outras verbas para os outros dois administradores, aponta o Público.
Os então dirigentes do Vitória ainda procuraram investidores para se proceder à venda, mas, a 8 de Setembro, de 2018, os sócios do Vitória deixaram claro, numa Assembleia Geral (AG) Extraordinária, que não queriam a entrada de novos accionistas.
Apesar disso, em Janeiro de 2019, “Deco apresentou um novo potencial investidor: Júlio Brant, familiar de Daniel Deivisson Brant de Almeida, sócio da Leader Constellation (LC) e administrador da empresa Arpoador Sports & Marketing Lda”, onde o ex-futebolista era sócio, relata o ainda o Público.
Deco chegou a fazer uma oferta formal para a compra das acções de Mário Andrade Ferreira, por 8,1 milhões de euros, mas em Maio de 2019, o accionista voltou a recusar. Seis dias depois, a direcção do Vitória demitiu-se.
Entretanto, em 2020, os dois ex-administradores da SAD instauraram processos a Mário Andrade Ferreira pelo incumprimento do acordo e exigem indemnizações superiores a um milhão de euros.
Nesse mesmo ano, Deco também pediu a insolvência da SAD, e em simultâneo, avançou com um pedido de indemnização de 1,1 milhões de euros por comissões alegadamente não pagas pela transferência de Tapsoba para o Leverkusen.
O ex-jogador acabou por desistir das duas acções.
Após tudo isto, a nova direcção do Vitória de Guimarães chegou a acordo com Mário Andrade Ferreira para a compra das suas acções em pagamentos parcelados. O clube já detém 51% do capital.