O líder da IL quer a Caixa privatizada, a coordenadora do BE prefere juros mais baixos. Acordos é que não há.
Rui Rocha e Mariana Mortágua protagonizaram o único debate desta quinta-feira, rumo às eleições legislativas de 10 de Março.
Foi um bom confronto político, talvez no pódio dos mais interessantes até agora, que contou – como se esperava – com praticamente zero pontos em comum.
A habitação abriu a ementa. O líder da IL avisa que as propostas do BE são “inviáveis” e pediu contas: como se vai apresentar casas a preços acessíveis – quota de 25% da nova construção e 80 mil casas a 60 mil euros? A adversária não mostrou contas mas atirou: “Nada impede as construtoras de construir casas a preços acessíveis. É o mercado que as impede, porque as leva para mercados muito mais rentáveis”, como hotelaria e habitação de luxo.
Rocha também acha que o Bloco está a culpabilizar quem não vive em Portugal: “Não se resolve o problema da habitação pondo portugueses contra portugueses ou contra estrangeiros“. A coordenadora do BE assegurou que não se trata de nacionalidades; o problema está nas pessoas que compram casa em Portugal para “bem de luxo para férias” e não para viver. Não quer “quatro ou cinco pessoas num T0”, como já acontece. Queria que Portugal fosse um país com excepção no mercado livre europeu, numa altura em que as casas que existem “estão a ser desviadas para outros fins que não a habitação” – alojamento local e mercado de luxo.
Ainda na habitação, mas entrando mais na banca, Mariana Mortágua reforçou a sugestão de baixar juros no crédito à habitação no banco público, a Caixa Geral de Depósitos; algo que poderia criar um “efeito de arrastamento do mercado”. A IL quer que a Caixa seja privatizada porque o Estado não deve “dar ordens a bancos para descomprometer o mercado das suas regras”.
Mortágua atirou que os liberais querem ajudar o sector privado com cheques e favorecer os ricos: “Não suportam mexer nos lucros da especulação”. E voltou a falar em borlas, como noutros debates: “Uma borla de 2,2 mil milhões de IRC à banca, cortando-lhe metade dos impostos”. Rocha discorda: “Lucros privados, prejuízos privados. Está a enfiar-se dinheiro dos contribuintes quando corre mal e a asfixiar quando corre bem”.
O liberal não apoia o “controlo público” de grandes empresas por parte do Estado, como quer o Bloco: iria custar 30 mil milhões de euros, avisa. “Não sei se defende que é uma grande ideia a electricidade portuguesa pertencer ao Partido Comunista Chinês”, reagiu Mariana Mortágua.
Em relação a impostos, a IL quer mais grandes empresas em Portugal; para isso, defende descer o IRC para termos “tecnologia, produtividade e melhores salários para os portugueses”. No IRS, Mortágua centra-se na proposta liberal e “inconstitucional” porque elimina a progressividade – algo que Rui Rocha negou: “Há isenções que garantem a progressividade”.
Juntando saúde e economia, Rui Rocha disse que o Bloco de Esquerda “anestesia na saúde e bloqueia a economia, traz prejuízo aos portugueses”, reforçando que só há quatro referências a crescimento económico no programa do partido de esquerda. Na saúde, Mortágua ripostou: “A IL tem uma regra 2 por 1: por cada dois profissionais de saúde que se reforma, entra um. E quer entregar o dinheiro ao privado, para ficarmos com um sistema mais caro, como é o alemão”.
Sem acordos, com equilíbrio e um debate a sério – embora se tenha notado alguma falta de preparação, dos dois lados, num ou noutro momento. Houve um empate, segundo o jornal Observador. A divisão de opiniões também se verifica na SIC Notícias, enquanto o jornal Expresso, onde se olha para este debate como um dos melhores, dá uma vitória por margem mínima a Mortágua.