De “muletas” ou “de joelhos”? Debate fraco, mas Inês chegou para o Chega

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ZAP // José Sena Goulão / Lusa

PAN “muleta do PS e PSD”, Ventura “de joelhos” para conquistar Montenegro. Primeiro debate com dois líderes repetitivos, com a porta-voz do PAN a trazer mais factos, mais números e mais firmeza. Inês chegou para bater o Chega.

O primeiro de 28 debates para as eleições legislativas antecipadas de 18 de maio pôs esta segunda-feira André Ventura (Chega) e Inês de Sousa Real (PAN) frente-a-frente na RTP 1, e deixou muito a desejar.

Se por um lado vimos um líder do Chega repetitivo, perdido na definição das prioridades que uma terceira força política deve ter, por outro, a porta-voz do PAN também bateu muitas vezes “no ceguinho”. Tal como há um ano: nada de novo dos dois lados.

Numa conversa com muitos ataques pessoais e políticos em vaivém, Inês de Sousa Real entrou bem: firme, agressiva, sem dar espaço aos ataques de André Ventura e a responder com a mesma moeda do líder do Chega.

“Isso é mentira”, foi a frase mais repetida pela deputada única do partido defensor dos animais e natureza: até chegou a sentir “vontade de rir” por causa disso, enquanto Ventura nunca soube explicar o que faria num cenário de maioria absoluta de direita no parlamento.

O debate fugiu muitas vezes às principais questões do país e divergiu para os temas que os dois tanto gostam, como o que se deve fazer com os pedófilos, ou com os 5% do aumento do salário dos políticos, ou para touradas e comportamento no parlamento.

“Nunca é nunca” caiu?

Confrontada com um eventual “vazio ideológico” do PAN, Inês de Sousa Real tentou ser direta: “as pessoas não querem saber se as medidas que fazem falta à sua vida estão mais à esquerda ou mais à direita”, e lembrou que “o PAN foi o segundo partido de oposição com mais medidas aprovadas, 63, muito importantes”, nas áreas da defesa das deficiências, mulheres e energia.

André Ventura tentou inicialmente escapar à pergunta sobre um entendimento à direita com Luís Montenegro: “não é connosco, os outros fazem o que entenderem”, e desviou o assunto, partindo para ataques contra o PAN.

“‘Nunca é nunca’ ou ‘talvez’?”, insistiu Hugo Gilberto, enquanto Ventura ignorava completamente, acusando o PAN de ser “contra o progresso” e “radical”.

Mas “enquanto não houver transparência, nunca será nunca”, garantiu depois, como já tinha dito a semana passada.

“Se o primeiro-ministro insistir em manter-se à margem de suspeitas graves, como não explicar ter dinheiro em várias contas para não ter de as declarar ou de ter comprar casas a pronto em nome dele e dos filhos. Isto faz lembrar José Sócrates. Eu não conseguia chegar a Lisboa e não comprar uma, quanto mais duas, casas a pronto”, garantiu: “quem consegue ou é rico ou enriqueceu de forma suspeita e tem de explicar isso”.

Segurança e imigração: “o Chega tem de parar de mentir às pessoas”

Ventura abriu logo com uma “boca”, sem a sustentar. Disse que o “braço direito” de Inês de Sousa Real no PAN está a ser acusado de assédio. “É mentira”, respondeu de imediato Inês de Sousa Real.

Ventura referia-se a Hugo Alexandre Trindade, alvo de uma acusação de assédio laboral, dentro do partido, por parte de uma militante que tem vindo a criticar o PAN. Não há nenhuma queixa judicial e o processo foi, entretanto, arquivado.

“Assistimos a um aumento significativo do número de violações”, disse Ventura, referindo-se ao aumento de 10% nos casos de violência sexual.

André Ventura voltou a reforçar a posição do Chega trazendo à tona as suas propostas de castração química para pedófilos e expulsão de imigrantes condenados por crimes sexuais, e acusou o PAN de não querer nenhuma destas condenações no país.

A castração “é contra a Constituição”, lembra Sousa Real — mas “há muitos países com Constituição parecida com a nossa que têm castração química de pedófilos”, respondeu Ventura, que trouxe casos específicos e escolhidos a dedo de abusos sexuais no país, sublinhando sempre que foram cometidos por estrangeiros, embora a reforçar que “não quer dizer que sejam só os estrangeiros, podiam ser portugueses”.

“Um violador não deve ter pena suspensa e um pedófilo tem de ser castrado”, disse Ventura, e “partidos como o PAN, o Livre e Bloco de Esquerda tornaram as mulheres objetos”, atirou.

Já Inês Sousa Real trouxe factos, como veio a fazer mais do que Ventura ao longo do debate.

“O PAN tem sido a força política que, na Assembleia da República, mais tem conseguido aprovar as medidas para proteger as vítimas, inclusive no abuso sexual”, respondeu a deputada do PAN, lembrando que o aumento de 10% que se registou nos crimes de natureza sexual são cometidos por portugueses, na sua maioria.

“O Chega tem de parar de mentir às pessoas”, disse Sousa Real, naquela que seria a primeira de muitas vezes que André Ventura ouviria a frase.

Mas os dois partidos pareceram estar de acordo com tornar violação um crime público. A líder do PAN quer um compromisso para a próxima legislatura quanto aos crimes de violação como crime público.

A imigração foi o tema em que Ventura mais se repetiu. Acusa o PAN de ser um dos grandes culpados da “imigração descontrolada” e, mais tarde confrontado com o seu discurso “trumpista”, reforça que “precisamos de saber quem cá entra, isto não pode ser a bandalheira absoluta”.

Com o jornalista Hugo Gilberto a contrariá-lo com factos — que Portugal precisa de imigrantes e é ainda um dos países mais seguros — Ventura não deu resposta ao moderador. Virou o disco, mas tocou o mesmo.

“A minha mensagem para os imigrantes é: querem vir trabalhar para Portugal venham, querem vir para Portugal pedir subsídios não venham”, rematou. “Já temos muitos imigrantes a receber subsídios”, disse, sem factos ou números para o sustentar — não se sabe quantos são.

Já Inês de Sousa Real lembra que “as pessoas têm uma perceção errada” sobre a segurança, e que a violência doméstica é  “muito maior preocupação” na segurança no país.

PAN “muleta”, Ventura “de joelhos”

André Ventura optou por insistir novamente, em dois momentos do debate, na atuação do PAN na Madeira, acusando o partido de “ficar a segurar Miguel Albuquerque” e de “sustentar o seu governo e a corrupção na Madeira”. O PAN tem sido, para Ventura, “a muleta do PS e do PSD“.

“Nós não somos muleta de ninguém”, garante a deputada do PAN: “quem andava de joelhos para fazer parte do governo de Montenegro era o André Ventura, não era eu“.

“Vocês fizeram uma coligação na Madeira e com o Miguel Albuquerque, acusado de corrupção”, reforça Ventura: “ficaram até ao fim, e nós mandamo-lo abaixo”.

Ainda no tema corrupção, Sousa Real acusa o Chega de não fazer aprovar nenhuma proposta, enquanto o PAN fez aprovar cinco.

“O Chega pode ter proposto medidas, mas não aprovou nada”, acusa.

“Está na altura de André ventura deixar de mentir ao país e de pegar na indignação das pessoas oportunisticamente, quem faltou ao país foi o Chega e os seus 50 deputados”, disse Sousa Real mais tarde. E trouxe factos diretamente da assembleia.

“Quando o PAN propôs um reforço de 10 milhões de euros para ajudar as associações dos bombeiros, a comparticipação de medicamentos para idosos e acabar com o regime de residentes não habituais, o Chega votou contra”.

Comportamento no parlamento: “fui o deputado mais ofendido da história”

O debate rapidamente fugiu para uma troca de acusações: afinal, quem costuma interromper quem?

O PAN volta a acusar a bancada do Chega de “chamarem nomes” e de “só causar ruído” na Assembleia da República. “Tem o hábito de destratar e interromper e tem toxicado o parlamento”, atira.

Ventura diz que passou coisas no parlamento que jamais alguém passará.

“Eu fui o deputado mais ofendido provavelmente durante a história parlamentar toda”, disse.

Defesa dos animais: “Chega copiou propostas”

Inês de Sousa Real acusa o Chega de ter “copiado propostas do PAN” no campo da defesa dos animais: “às vezes até se esquecem de trocar os nomes”, atirou, dizendo que o Chega “permite que haja financiamento da tortura animal”.

“A Inês não gosta mais de animais que eu”, disse Ventura, que aproveita para acusar a comunidade cigana de tratar mal os animais.

“O PAN chegou a propor uma moção para que até os animais tivessem de ser vegetarianos”, acusou Ventura, referindo-se à moção apresentada pelo PAN em 2021, que previa apoios a quem alimentasse os animais com base no vegetarianismo — mas que não previa obrigatoriedade qualquer.

Aumento de 5% no salário dos políticos? “Não preciso de me gabar”

Ventura optou por partir para o aumento de 5% no salário dos políticos, do qual se gaba de ter abdicado.

“Nós damos o nosso aumento salarial a associações, muitos dão a associações de animais, a Inês fica com o aumento ou dá?”, questionou.

“Dou a várias associações”, assegurou Sousa Real, mas “não preciso de me gabar”.

Combustíveis

Ventura insistiu repetidamente para ter uma resposta, acusando o PAN de querer que os portugueses paguem mais gasolina.

“Defendemos que a isenção sobre os produtos petrolíferos deve acabar e que esses 300 milhões devem ir para passes gratuitos para todos“, defendeu Sousa Real.

Tomás Guimarães, ZAP //

1 Comment

  1. Extrema-direita NUNCA mais. E este NUNCA é mesmo NUNCA!!! Um partido com tantos deputados criminosos e com processos judiciais em tribunal não merece o voto dos eleitores portugueses! Se como um simples partido parlamentar é o que se vê e se sabe, imaginem se chegasse a formar governo… Eles encobririam os crimes que cometeram e fariam de tudo para derrubar a comunicação estatal a fim de não sabermos dos seus “podres”. Os adeptos do chega dizem que esse partido expulsa todos os deputados que se descobre envolvidos em crimes, mas não é bem assim. Até mesmo o André Ventura tem um processo jem tribunal e que eu saiba não foi expulso ainda do Chega. E como ele há outros deputados do Chega nessa situação.. O Chega é um partido que se faz moralmente superior aos outros, mas no fundo consegue ser bem pior. Prefiro um trilhião de vezes uma Democracia ainda que torpe, com suas falhas estruturais (até porque não existe um regime político perfeito, mas a Democracia é muito mais perfeita que todos os outros regimes), porém com as suas grandiosas virtudes: maior justiça social, melhor qualidade de vida, mais igualdade de oportunidades, igualdade de género, proteção contra a discriminação, maior respeito pelo meio ambiente, etc. Prefiro uma Democracia assim em que há possibilidade de sobreviver e viver, do que uma ditadura (extrema-direita) em que não há praticamente nada. No tempo da monarquia e da ditadura nacionais não havia prosperidade, nem justiça social, nem igualdade de oportunidades,… Não havia nada. Era o caos. Hoje com a Democracia limitada que temos, há muita gente que recebe ajudas do governo, coisa que outrora certamente não houve com a monarquia nem com a ditadura salazarista. Foi a Esquerda politica que conquistou com muita luta todos ou quase todos os Direitos e Liberdades civis. Não podemos permitir que agora depois de 50 anos de Democracia um partido de extrema-direita queira vir governar o país para nos roubar tudo isso. NUNCA mais fascismo! VIVA A DEMOCRACIA, A LIBERDADE, A PAZ, A JUSTIÇA, A PROSPERIDADE, O PROGRESSO CIVILIZACIONAL, A LUTA CONTRA os preconceitos e a discriminação. VIVA O 25 DE ABRIL! VIVA PORTUGAL!

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