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Dean Karnazes correu 563 km sem parar. Demorou três dias e meio (e só parou por ter sono)

Dean Karnazes é considerado o maior ultramaratonista de todos os tempos. Em 2005, correu 563 km sem parar. E nós? Por quanto tempo conseguiríamos correr sem parar?

Muitas pessoas têm dificuldade em correr 100 metros. Outras, ‘como quem não quer a coisa’, correm 10 km num ápice.

Algumas almas mais arrojadas correm em “ultramaratonas” – corridas com mais de 42,2 quilómetros. É o caso de Dean Karnazes, que detém o recorde (não oficial) da corrida mais longa sem dormir, depois de ter feito 563 km.

Em 2005, o atleta norte-americano correu durante três dias e meio sem parar.

Karnazes, atualmente com 62 anos, apenas conseguiu este feito porque tem uma rara condição genética.

Numa entrevista ao The Guardian, o maior ultramaratonista de todos os tempos confessou que em toda a sua vida nunca sentiu cãibras nem qualquer tipo de queimadura muscular, mesmo durante corridas superiores a 160 quilómetros.

“A um certo nível de intensidade, sinto que posso percorrer um longo caminho sem me cansar. Por muito que me esforce, os meus músculos nunca se cansam. É uma coisa boa se pretendo correr muito tempo”, disse.

Uma pessoa normal, quando corre, decompõe a glucose para obter energia, produzindo lactato como subproduto e uma fonte adicional de combustível que também pode ser convertido novamente em energia. No entanto, quando excede o seu limiar de lactato, o seu corpo deixa de ser capaz de converter o lactato tão rapidamente como ele é produzido, levando a uma acumulação de acidez nos músculos. É a forma de o corpo nos dizer quando devemos parar. No entanto, Karnazes nunca recebe esses sinais.

Só parou porque teve sono

Na entrevista ao jornal britânico, recordando o seu seu recorde, o atleta admitiu que a única coisa que o fez parar é o sono.

“Para ser sincero, o que acaba por acontecer é que fico com sono. Já corri três noites sem dormir e a terceira noite de corrida sem sono foi um pouco psicótica. Na verdade, tive episódios de “corrida do sono”, em que adormecia enquanto estava em movimento, e apenas me obrigava a continuar”.

A genética não conta toda a história

À Live Science, Guillaume Millet, fisiologista do exercício da Universidade Jean Monnet em Saint-Etienne, em França, explicou que os seres humanos têm uma série de caraterísticas que permitem ter um bom desempenho na corrida de resistência.

Os seres humanos têm glúteos relativamente grandes para ajudar na propulsão para a frente, a capacidade de armazenar energia elástica nos tendões e músculos e ligamentos fortes no pescoço para manter o cérebro estável durante a corrida.

Além disso, estão bem adaptados a correr no calor porque podem regular a temperatura do corpo através da transpiração.

“Mesmo que a temperatura externa seja bastante elevada, somos capazes de manter a nossa temperatura central relativamente baixa, o que é uma enorme vantagem em comparação com a maioria das espécies”, disse Millet ao Live Science.

Karnazes admitiu que as suas capacidades de eliminação de lactato poderão dever-se também ao baixo teor de gordura corporal, a uma baixa taxa de transpiração, a uma dieta altamente alcalina e a uma baixa exposição a toxinas ambientais.

Como escreve o The Guardian, a genética pode dar-nos a propensão para uma vantagem natural, mas expressamos os nossos genes de forma diferente, dependendo do nosso ambiente e do nosso estilo de vida.

Apesar destas adaptações, os humanos nunca evoluíram especificamente para correr distâncias tão extremas.

“Se corrermos corretamente, não nos lesionarmos e nos abastecermos corretamente, é espantoso o que o corpo consegue fazer, mas não foi para isso que evoluímos. Isso é levar as adaptações normais ao extremo”, disse Daniel Lieberman, biólogo evolutivo da Universidade de Harvard

ZAP //

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