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Natal dos ucranianos muda de data (outra vez). Crianças órfãs pedem para abraçar pais

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Ucranianos em Portugal começam também a recusar celebrar o Natal no dia 7 de Janeiro. Dia de São Nicolau foi nesta segunda-feira e crianças pediram prendas diferentes.

Há mais de 100 anos que o Natal na Ucrânia não é assinalado oficialmente no dia 25 de Dezembro.

Palco de disputa entre polacos e russos (depois soviéticos), em 1917, ano da Revolução Russa, cresceu também o movimento nacional na Ucrânia, a defender a auto-determinação.

A partir daí o território ucraniano ficou “encostado” aos bolcheviques e, cinco anos depois, passou a integrar a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Lenine era contra qualquer culto religioso ou celebração relacionada com a religião. Havia manifestações anti-religiosas pelas ruas. Deus era quase proibido.

O Natal passou a ser “preconceituoso” e deixou de ser assinalado no dia 25 de Dezembro, a partir de 1918. Acabava o calendário gregoriano e o feriado passava para 7 de Janeiro, seguindo o calendário juliano.

Mas ter uma árvore de Natal era um crime. Era “burguês”, uma “relíquia do passado” e “manifestação de imaturidade política”.

Aliás, se um oficial soviético fosse apanhado com uma árvore de Natal, se tivesse outro “crime” no currículo, poderia ser deportado para campos de concentração.

Cantar cânticos de Natal também não era permitido, as músicas de Natal foram reprimidas.

A URSS sempre se mostrou anti-natalícia mas, com o passar dos anos, foi admitindo uma árvore de Natal (ideológica, não religiosa), e com programas de festas elaborados e controlados pelo Partido Comunista da União Soviética.

Os ucranianos foram celebrando sempre o Natal no dia 7 de Janeiro. As últimas duas ou três gerações não conhecem outra data.

Até que, nos últimos anos (ainda antes da guerra), passou a ser dada a possibilidade de escolher entre 25 de Dezembro e 7 de Janeiro.

Já no mês passado, e com a guerra a decorrer, a Igreja Ortodoxa ucraniana anunciou que vai assinalar o Natal no dia 25 de Dezembro. Sem obrigar os fiéis a mudar a sua rotina, mas vai “medir a adesão nos lugares de culto”.

Em Portugal, averiguou o ZAP, os ucranianos apontam que 2022 seja o último ano em que ainda haja celebrações a 7 de Janeiro, em casas ou igrejas.

No Porto, por exemplo, a comunidade ucraniana que se reúne na Igreja de São Pantaleão prevê que em 2023 só haja celebração no dia 25 de Dezembro. Tudo para se distanciar do calendário e das celebrações na Rússia.

Pedidos das crianças

Esta segunda-feira, 19 de Dezembro, foi dia de São Nicolau na Ucrânia – mais uma vez seguindo o calendário juliano, porque mais a Ocidente assinalou-se no dia 6 de Dezembro.

O dia de São Nicolau é o dia de entrega de prendas às crianças (o que costuma acontecer na noite de 24 de Dezembro, por cá).

Em 2022, ano de guerra, as crianças pediram prendas diferentes.

O portal Pravda verificou algumas cartas de crianças e várias pedem para: voltar a casa, voltar à escola, reencontrar amigos, não ouvir barulho de sirenes ou explosões de mísseis.

Outras sonham que a guerra vai acabar ou que não terão inimigos, ou sonham que vão abraçar os pais – até crianças órfãs, que sabem que não vão reencontrar os pais, continuam a pedir para abraçar o pai ou a mãe.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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