Data da erupção do vulcão Thera reduzida a três possibilidades (e afinal nem era Thera)

Uma especialista da Universidade do Arizona está mais perto do que nunca de datar a erupção do vulcão Thera — um objetivo que persegue há décadas.

Charlotte Pearson, professora no Laboratório de Investigação de Tree-Ring, é a autora principal de um novo estudo, publicado a 29 de abril na PNAS Nexus, que combina um conjunto de técnicas distintas para confirmar a origem de uma erupção vulcânica em 1628 a.C.

Pensava-se que a erupção era do vulcão Thera, na ilha grega de Santorini, mas Pearson e os restantes investigadores descobriram que se tratava do vulcão do Alasca, Aniakchak II, de acordo com a Phys Org.

Esta nova descoberta ajuda os investigadores a reduzir o intervalo no qual a verdadeira erupção de Thera teve lugar.

A erupção de Thera, que se sabe ter ocorrido algum tempo antes de 1500 a.C., enterrou a cidade de Akrotiri em mais de 130 pés de escombros. Mas a data exata da erupção e o seu impacto no clima têm sido debatidos há décadas.

Se uma erupção vulcânica for suficientemente grande, pode ejetar enxofre e diversos tipos de detritos — genericamente designados tefra — para a estratosfera, para locais muito distantes.

O dióxido de enxofre da erupção que o faz entrar na atmosfera superior reflete o calor do sol e provoca a diminuição da temperatura em todo o mundo.

Esta mudança climática reflete-se nas árvores, que crescem menos, ou em anéis de geada, que marcam efetivamente o ano em que a erupção ocorreu.

O enxofre e a tefra também podem chover nos polos da Terra, onde são preservados em camadas de gelo.

Quando os núcleos de gelo são analisados, a quantidade de sulfato neles contida também pode ser utilizada para estimar o provável impacto de uma erupção no clima.

As erupções de sulfato elevado têm maior potencial para causar alterações de curto prazo no clima. Ao mesmo tempo, a tefra dos núcleos de gelo, que tem uma impressão digital geoquímica única, pode ser utilizada para ligar o enxofre e o gelo a uma fonte vulcânica.

A equipa de investigação — que incluiu Michael Sigl da Universidade de Berna e uma equipa internacional de geoquímicos — alinhou dados de anéis de árvores e de núcleos de gelo na Antártida e na Gronelândia, para criar um registo de erupções vulcânicas, ao longo do período em que Thera deve ter ocorrido — 1680 a 1500 B. C.

Utilizaram amostras de sulfato e tefra para excluir vários dos eventos com datas potenciais de Thera e utilizaram técnicas de alta resolução para confirmar, através dos núcleos de gelo, qual das erupções registadas em 1628 a.C. foi Aniakchak II.

A data exata da erupção de Thera continua por confirmar, mas a equipa reduziu-a para: 1611 a.C., 1562-1555 a.C. ou 1538 a.C.

Como estudante universitária em 1997, Pearson leu dois artigos que não só despertaram o seu interesse pela ciência das árvores, como também marcaram o ponto de partida do maior debate sobre a data de Thera.

O primeiro estudo, escrito pelos investigadores Valmore LaMarche e Katherine Hirschboeck, da UArizona, identificou danos causados pela geada em anéis de pinheiro da Califórnia, que correspondiam ao ano de 1627 a.C.

O outro artigo, de Mike Baillie da Queen’s University e Martin Munro da UArizona, identificou um período de anéis de árvores muito estreitos, em carvalhos da Irlanda, que começou no ano 1628 a.C.

Ambas as anomalias dos anéis de árvores indicaram o tipo de mudança climática abrupta e severa que ocorre quando os vulcões “vomitam” sulfato na estratosfera.

Ambos os estudos ligaram o anel de árvores a Thera porque, na altura das investigações, Thera era a única erupção conhecida nesse período de tempo.

Mas o último trabalho de Pearson confirma que essas anomalias dos anéis de árvores são, na realidade, provas de uma erupção diferente e invulgarmente elevada de sulfato — o vulcão Aniakchak II de Laska.

Charlotte Pearson

As crateras vulcânicas de Aniakchak II (E) e Thera (D)

“Vimos este mesmo evento que apareceu em anéis de árvores a 7.000 quilómetros de distância, e agora sabemos de uma vez por todas que esta erupção maciça não é Thera”, sublinhou Pearson.

“É bastante satisfatório ver essa ligação original resolvida. Também faz todo o sentido que Aniakchak II se revele uma das maiores erupções de sulfato nos últimos 4.000 anos — as árvores têm-nos dito isso desde o início”, realçou.

As provas arqueológicas sugerem que a data da erupção de Thera está mais próxima de 1500 a.C., enquanto algumas datações por radiocarbono sugerem que está mais próxima de 1600 a.C.

Sou a favor do meio-termo. Mas estamos realmente perto de ter uma solução final para este problema. É importante permanecer aberto a todas as possibilidades e continuar a fazer perguntas”, acrescentou Pearson.

“O estudo das provas nesta investigação é comparável a casos criminais, onde se deve demonstrar que os suspeitos estão ligados tanto à cena como à hora do crime”, nota Sigl. “Apenas neste caso, os vestígios já têm mais de 3.500 anos”.

O estudo também confirma que qualquer impacto climático de Thera teria sido relativamente pequeno, com base em comparações de picos de sulfato das erupções documentadas mais recentes.

O passo seguinte é regressar aos possíveis anos de erupção de Thera e extrair mais informação química do enxofre e da tefra nos núcleos de gelo.

Algures num desses sulfatos, pode haver um pedaço de tefra que teria um perfil químico correspondente a Thera.

“Esse é o sonho. Depois terei de encontrar outra coisa para ficar obcecada”, atirou Pearson. “Por agora, é bom estar mais perto do que alguma vez estivemos“.

Alice Carqueja, ZAP //

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