Quando há azar, muitas vezes culpamos a vítima. Estudo fez teste curioso

Por um lado, somos muito generosos e altruístas; por outro, há momentos em que só afundamos quem já está no fundo. Estudo explica.

“É um fenómeno generalizado, mas pouco estudado”.

Pascal Boyer, professor na Universidade Washington em St. Louis (EUA), foi então estudar esse fenómeno generalizado.

O fenómeno em causa é perceber porque vezes apontamos – e procuramos – defeitos numa pessoa que está a precisar de ajuda. Porque achamos que algumas pessoas não merecem a nossa ajuda.

Ou seja: porque culpamos e desvalorizamos a vítima?

Os participantes no estudo ouviram relatos infelizes: um acidente de carro enquanto o condutor escrevia uma SMS, alguém que levou um tiro de uma arma que não estava bloqueada, ou alguém atacado por um urso enquanto estava numa caminhada.

Era tudo inventado. Mas os participantes pensavam que eram relatos reais.

A ideia era testar a reacção genuína de cada pessoa a um episódio que – pensava – tinha mesmo acontecido. Era averiguar a empatia e a vontade de ajudar cada infeliz.

Depois de ouvirem a história, os participantes avaliavam a responsabilidade, a culpa da vítima. Tinham de dizer se estavam disponíveis para doar dinheiro para ajudarem a (suposta) vítima.

A generosidade não abundou. Numa das histórias, os participantes só aceitaram doar menos de um terço do que poderiam doar à vítima.

Mas surgiu outra conclusão central: quanto mais defeitos os participantes viam na vítima, menos estavam dispostos a ajudar.

No fundo, estavam a dizer que a vítima não merecia ser ajudada.

O líder do estudo, Pascal Boyer, salienta em comunicado que muitas pessoas pensam que o mundo é “profundamente injusto”.

E quando sabemos do azar de alguém, num primeiro momento até podemos demonstrar empatia imediata e vontade imediata de ajudar. Mas logo a seguir, ou nós, ou alguém, vai sugerir que a vítima falhou em algum lado, para lhe ter acontecido aquilo.

Exemplo clássico – e perigoso: violação, abuso sexual. Muitas pessoas têm o pensamento imediato: “A vítima é que estava a provocar com a roupa que tinha, sujeitou-se”. Ou então: “Pôs-se a jeito porque foi para um sítio inseguro”.

No fundo, estamos a tentar encontrar justificações para não ajudar.

ZAP //

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