Nova crise na Europa: todos fugiram dele mas será Kickl (e extrema-direita) a governar a Áustria

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Max Slovencik / EPA

Karl Nehammer, chanceler da Áustria

Negociações falharam, não há novo Governo, chanceler demite-se e o líder da extrema-direita vai falar com o presidente.

A Áustria está envolvida numa crise política. As eleições legislativas foram em Setembro e quem venceu, por muito pouco, foi o Partido da Liberdade (FPÖ).

Supostamente o primeiro-ministro seria o líder desse partido, Herbert Kickl. Mas o extremista e polémico Kickl viu toda a gente afastar-se: nenhum partido com representação parlamentar quis sequer negociar com o líder do FPÖ, de extrema-direita.

O problema não é o partido – é mesmo Herbert Kickl. O líder do Partido da Liberdade tem posturas controversas sobre imigração, segurança e políticas de saúde. Defende por exemplo a “remigração de estrangeiros não convidados” ou a suspensão do direito de asilo. E também é anti-vacinas (o que lhe trouxe muitos seguidores).

Perante esta personalidade, Karl Nehammer, líder do segundo partido mais votado, disse mesmo que nunca iria entrar numa coligação com o FPÖ caso Kickl entrasse nas contas para um cargo no Governo.

Haveria portanto uma coligação de três partidos, liderada pelo Partido Popular (ÖVP); a coligação teria ainda os sociais-democratas do SPÖ e os liberais do Neos. Ou seja, os segundo, terceiro e quarto partidos mais votados em Setembro.

Mas não resultou. O Neos deixou as negociações, os SPÖ também e o ainda chanceler Karl Nehammer anunciou no sábado o fim das conversas.

“Negociámos longa e honestamente. Não há nenhum acordo possível com o SPÖ sobre pontos essenciais. O Partido Popular cumpre as suas promessas: não concordaremos com medidas que sejam anti-desempenho ou anti-negócios ou com novos impostos. Estamos, portanto, a encerrar as negociações com o SPÖ e não as continuaremos”, atirou Nehammer.

O chanceler austríaco vai demitir-se nos próximos dias. Tentou duas vezes formar Governo, não conseguiu, sai.

Dois dias depois, nesta segunda-feira, o presidente Alexander van der Bellen vai receber Herbert Kickl – e o FPÖ tem mesmo possibilidade forte de governar a Áustria.

Primeiro, porque o novo líder interino do ÖVP (sucessor do chanceler Karl Nehammer, que já deixou a liderança do partido) disse neste domingo que está disponível para entrar num Governo liderado pela extrema-direita do Partido da Liberdade (FPÖ). Quebra assim a postura do seu antecessor.

Além disso, mesmo que não haja acordo para formação de Governo, seguem-se novas eleições e as sondagens apontam para nova vitória do Partido da Liberdade, mas desta vez com maior margem e perto dos 35%, lembra o Euronews.

Tudo isto deixa o “indesejado” Herbert Kickl muito mais perto de se tornar chanceler. Além disso, salienta o Handelsblatt, o presidente da Áustria não tem outro caminho, para já, a não ser tentar que a extrema-direita, vencedora nas eleições, assuma o poder.

A crise política na Áustria surge poucas semanas depois de quedas de Governo na Alemanha e em França. Nos três casos, a extrema-direita deverá aparecer como segunda força política ou mesmo liderar o respectivo país.

 

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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