Bulgária vai ter eleições antecipadas. Outra vez. Vencedor das eleições em Junho nem foi candidato a primeiro-ministro.
Em menos de nove meses, houve eleições na regionais na Madeira (duas vezes), nos Açores, legislativas antecipadas e europeias.
Depois da fadiga vacinal por causa da COVID-19, começou a falar-se em fadiga eleitoral em Portugal, repete-se a ideia de que os eleitores estão cansados de ir a votos – isto prevendo que o Governo pode cair em São Bento ainda em 2024, originando novas eleições antecipadas.
Mas Portugal não é um caso evidente de fadiga eleitoral. A Bulgária é.
Abril de 2021: eleições para o Parlamento búlgaro. A coligação no poder, GERB-UDF (centro-direita), perde 20 deputados e nenhum partido consegue formar Governo.
Julho de 2021, apenas três meses depois: o partido “Há um povo assim” (ITN), liderado por um músico e apresentador de televisão, dá a volta. Vence, mas fica com apenas mais dois deputados do que a GERB-UDF (65-63). Ninguém avança para o Governo, parlamento dissolvido.
Novembro 2021, eleições legislativas e presidenciais ao mesmo tempo: o ITN fica com apenas 25 deputados (menos 40). Vence o partido “Continuamos a mudança” e, dessa vez, parecia que a solução estava encontrada – houve coligação entre quatro partidos e o Governo foi aceite pelo presidente Rumen Radev.
Mas em Junho de 2022, o ITN saiu do Governo após desentendimentos sobre assuntos orçamentais e fiscais. A moção de censura seguinte foi aprovada. Eleições em Outubro desse ano, com o regresso da coligação GERB-UDF ao topo; mas novas diferenças curtas e ninguém formou Governo. E o ITN conseguiu… zero deputados.
Abril de 2023: nova vitória da coligação de centro-direita, apenas com a diferença de 69-64 deputados. Houve acordo com o “Continuamos a mudança”, e o primeiro-ministro até saiu deste partido, o segundo mais votado: Nikolai Denkov. Seria um sistema rotativo mas, já neste ano, o “Continuamos a mudança” não aceitou um Governo liderado por Mariya Gabriel, comissária europeia.
Junho de 2024: aproveitando as eleições europeias (no mesmo dia de Portugal), novas eleições legislativas antecipadas e nova vitória da GERB–SDS. Mas o seu líder, Boiko Borissov, anunciou rapidamente que não seria candidato a primeiro-ministro. Houve conversas com os outros seis grupos parlamentares, mas sem consenso.
Nas últimas semanas houve três tentativas de formação do Governo. Todas falharam. A última foi do ITN, cujo líder parlamentar anunciou nesta segunda-feira o falhanço nas negociações.
Ou seja, vêm aí as sétimas eleições legislativas em pouco mais de três anos. Deverão ser em Outubro deste ano. Mais as presidenciais de 2021 (duas voltas), as autárquicas de 2023 e as europeias deste ano. 11 eleições desde Abril de 2021.
No meio desta confusão, e de tanto isolamento político, “é preciso dizer que os eleitores estão a ficar cansados de serem chamados às urnas”, analisou o sociólogo Dobromir Zhivkov, na Associated Press.
Para prolongar a “novela”, a presidente da Assembleia da República, Raya Nazaryan (GERB-UDF), seria a nova primeira-ministra interina. Mas recusou o cargo nesta segunda-feira.