Criptomoedas são “péssima ideia” e interferem com a política monetária

O Nobel da Economia de 2007, Eric Maskin, afirmou, em entrevista à Lusa, que as criptomoedas são uma “péssima ideia”, alertou que interferem com as medidas de política monetária e partilhou que tem esperança que a “moda desapareça”.

“São uma péssima ideia”, afirmou Eric Maskin, Nobel da Economia de 2007, em entrevista à Lusa, a propósito das moedas virtuais como a Bitcoin. As criptomoedas, “em primeiro lugar, não acrescentam qualquer valor a não ser a facilidade de transferir dinheiro”, o que “pode ser replicado pelas moedas tradicionais”.

Eric Maskin disse acreditar que, eventualmente, os governos tornem possível transferir euros, dólares e outras divisas eletronicamente, sem necessidade de passar pelos bancos, algo que fará com que aquela vantagem das criptomoedas desapareça.

O Nobel da Economia de 2007 falava à margem da 11.ª edição do Encontro UECE Lisbon Meetings in Game Theory and Applications, um evento anual que reúne os principais estudiosos que realizam investigações teóricas ou aplicadas no campo da teoria dos jogos, e que decorreu no ISEG entre os dias 07 e 09 de novembro.

Na entrevista à Lusa, o economista norte-americano sublinhou que o mais grave é que as criptomoedas “interferem com a política monetária“.

“Uma função importante que os governos das economias modernas desempenham é usar a chamada política monetária anticíclica para expandir a oferta monetária quando existe uma recessão ou perigo de recessão e reduzir a oferta monetária quando a economia está em risco de ‘sobreaquecimento’, e, se as pessoas usam criptomoedas, isso interfere na política monetária”, explicou.

Erik Maskin adiantou que não há forma de os governos controlarem a circulação de Bitcoin, por exemplo, e partilhou um desejo: “A minha esperança é que a moda das criptomoedas desapareça“. Manifestando-se “contra as criptomoedas”, o economista norte-americano admitiu que “existem vantagens da tecnologia de ‘blockchain’ [tecnologia que permite guardar dados de forma descentralizada] quando não se insiste no anonimato”.

Eric Maskin frisou que o anonimato pode ser uma vantagem, mas também pode fazer com que a tecnologia seja usada para fins ilegais, como lavagem de dinheiro e outras transações ilícitas. Já “quando se sabe quem são os outros agentes, esses riscos não existem”, disse.

Questionado sobre quando poderá haver uma nova recessão, que tem sido antecipada em várias ‘polls’ de economistas, o economista norte-americano respondeu que “nos próximos 20 anos haverá certamente uma recessão“.

“Isso posso dizer com confiança. Mas se um economista disser que isso vai acontecer no próximo ano, não acredite”, referiu na entrevista à Lusa, acrescentando que “não é algo previsível, os economistas não sabem quando ocorrerá e se disserem que sabem, não estão a dizer a verdade”.

Relativamente aos efeitos negativos sobre a economia mundial decorrentes da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, as consequências do Brexit e a desaceleração industrial norte-americana, Eric Maskin referiu que todos estes fatores já se verificam “há algum tempo e ainda não provocaram uma recessão“.

Convidado a comentar a performance da economia portuguesa nos últimos anos, o Nobel da Economia de 2007 escusou-se a fazer qualquer apreciação, alegando não se “sentir um especialista na matéria”. Contudo, quando questionado sobre como pode uma pequena economia muito aberta ao exterior, como é o caso da economia portuguesa, proteger-se de riscos internacionais, Eric Maskin apontou a importância da diversificação.

“Uma coisa que podemos aprender com economias que eram pequenas e cresceram dramaticamente é que a diversificação é uma proteção contra riscos internacionais”, disse.

Eric Maskin referiu que, no caso da economia chinesa, “que é muito grande agora, mas há 40 anos era pequena”, uma forma de ter conseguido crescer foi “fazer um bom uso dos mercados internacionais”, o que referiu ter sido “a chave do sucesso”, assim como a “produção de uma grande variedade de produtos para o mercado internacional”.

“Eles não se concentraram apenas numa área. O facto de assegurarem a venda de muitos produtos diferentes em vez de apenas alguns foi uma garantia importante“, salientou o economista.

Eric Maskin ganhou o Prémio Nobel da Economia em 2007, juntamente com Leonid Hurwicz e Roger B. Myerson, pelo trabalho nas bases da teoria do desenho de mecanismos, um ramo da teoria dos jogos que analisa casos em que os agentes económicos têm informação privada e a utilizam de forma estratégica.

Aquela formulação teórica permite distinguir se os mercados funcionam bem ou não e ajudou os economistas a conceber mecanismos de mercado, como os leilões, e propor formas de regulação de mercado e procedimentos de votação com as propriedades desejadas.

// Lusa

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