Plantel à venda por engano e youtubers a jogar. O “cripto-pesadelo” do Crawley Town

Cripto-investidores norte-americanos compraram o Crawley Town com a promessa de levar o clube à Premier League. O clube está de pernas para o ar e são vários os exemplos de má gestão.

Cada vez mais, os clubes de futebol são detidos por grandes grupos empresariais ou magnatas que, segundo alguns argumentam, desvirtuam a ideia de que o futebol é o desporto do povo. Raríssimos são os casos de, por exemplo, o FC Pinzgau, da Áustria, que é totalmente detido por adeptos.

O Crawley Town é exemplo de um clube que, em abril do ano passado, foi comprado pelo WAGMI United, um consórcio de empresários norte-americanos e investidores web3 sem qualquer experiência no mundo do futebol. Entre os seus membros está o influencer Gary Vaynerchuk e o presidente dos Philadelphia 76ers, Daryl Morey.

“Estávamos a tentar usar todo o hype do boom de NFT. Estas comunidades online estavam a formar-se e as pessoas a reunir-se e nós pensamos, e se comprássemos para uma equipa desportiva profissional para estas pessoas?”, explica Preston Johnson, coproprietário do WAGMI United, citado pela VICE.

Depois de uma tentativa falhada de comprar o Bradford City, o consórcio chegou a acordo para comprar a pequena equipa da quarta divisão inglesa de futebol.

As promessas eram cativantes. O WAGMI prometia fazer do Crawley “a equipa da internet”, dar aos adeptos uma voz ativa no clube, reinventar a forma como os clubes são geridos e levar o Crawley Town até à Premier League.

Os seus desejos estão longe de se concretizar, pelo menos a nível desportivo. Conhecidos como red devils, tal como o Manchester United, o Crawley venceu apenas um dos seus últimos dez jogos e está atualmente no penúltimo lugar da League Two.

Não é por acaso. A nova direção percebeu que, afinal de contas, dirigir um clube de futebol não é assim tão fácil quanto parecia. Os norte-americanos foram deixando umas pistas da sua incompetência ao longo dos últimos nove meses.

Em janeiro, o clube vendeu o seu artilheiro de eleição, Tom Nichols, aos rivais do Gillingham FC, por cerca de 60 mil libras. “Eu nunca pedi para sair”, disse o futebolista, citado pelo Sussex Express. O Gillingham é uma das equipas que luta pela manutenção com o emblema de Crawley.

Noutro episódio, o clube colocou acidentalmente todos os jogadores do plantel à venda. Um porta-voz do clube explicou que estavam “a testar um novo software” e que um dos testes envolvia colocar os jogadores na lista de transferências.

Quanto à promessa de mudar a forma como se gere um clube, pode-se dizer que o consórcio norte-americano está a cumprir. Embora talvez não pelas melhores razões. A direção está a apostar na venda de NFTs, tendo já vendido cerca de 10.200, angariando um total de 5 milhões de euros.

Quem comprar um NFT passa a ter voz em algumas decisões do clube. Na sua primeira e única votação até ao momento, os adeptos puderam escolher qual posição deveriam reforçar o plantel e optaram por um centro-campista.

Crawley Town FC / Twitter

O treinador do Crawley Town, Scott Lindsey.

Uma das decisões da gestão norte-americana que mais chocou os adeptos envolveu a FA Cup, a Taça de Inglaterra. A direção voou dos EUA para o Reino Unido para assistir a uma partida solidária organizada por um grupo de youtubers conhecido como Sidemen.

Alguns deles foram então convidados a treinar com o Crawley e, caso se saíssem bem, poderiam até jogar a próxima partida da Taça de Inglaterra.

Um dos youtubers, Simon Minter, revelou mais tarde que eles foram informados de que poderiam jogar se quisessem, independentemente da sua qualidade nos treinos. No entanto, acabaram por recusar, temendo uma reação negativa por parte dos adeptos.

@whatsgoodcast Simon turned down playing in the FA Cup… 🤯 #WhatsGood #Football #FACup #Sidemen #tobjizzle ♬ original sound – What’s Good Podcast

O coproprietário Preston Johnson explicou que era uma manobra publicitária para se assumirem como “únicos, diferentes e não tradicionais”.

Um episódio caricato, contado pelo The Guardian, dá conta que num dos jogos que Johnson assistiu no banco, o gestor do WAGMI perguntou a um delegado como é que funcionavam as substituições.

Daniel Costa, ZAP //

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