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Crime atribuído a português ilegal nos EUA usado por políticos para pedir muro no México

Um homicídio atribuído a um português que se encontrava ilegalmente no território dos Estados Unidos (EUA) foi utilizado num vídeo do partido republicano do Estado de Connecticut para apoiar a construção de um muro na fronteira.

A morte de Valerie Reyes, alegadamente provocada pelo luso-venezuelano Javier Enrique Da Silva Rojas, foi utilizada num vídeo publicado nas redes sociais pelo partido republicano para “sublinhar o que pode acontecer quando a segurança da fronteira é descuidada”, escreve o canal News 12 de Connecticut.

O vídeo, que continha imagens da cobertura televisiva sobre a morte de Valerie Reyes, encontrada numa mala abandonada na cidade de Greenwich, foi publicado na página Twitter do Partido Republicano de Connecticut na passada quinta-feira, dia do funeral, mas foi retirado depois de reclamações da família da vítima. Os familiares disseram que não querem que Valerie Reyes seja usada sob nenhum pretexto.

Segundo meios de comunicação norte-americanos, o vídeo dos republicanos apontava para dois representantes democratas de Connecticut no Senado dos Estados Unidos com a frase “Valerie Reyes está morta, o vosso silêncio é ensurdecedor”.

Em descrições da comunicação social norte-americana, o vídeo, que utilizava a frase “proteger a fronteira agora”, informava que o alegado assassino, Javier Da Silva, permanece de forma ilegal nos Estados Unidos.

Segundo o News 12, um dos senadores democratas de Connecticut, Richard Blumenthal, disse que o anúncio era “distorcido e desonesto”, porque Da Silva não tinha entrado pela fronteira entre Estados Unidos e México, onde o muro está a ser construído, mas veio de Portugal e permaneceu mais do que os três meses permitidos pelo programa de isenção de vistos, chamado Visa Waiver Program.

“O que precisamos é de uma reforma real e abrangente do sistema de imigração, que previna a ultrapassagem da estada sem visto que foi explorado por este assassino medonho e abominável” e não de “tentativas distorcidas e fictícias de tirar partido deste tipo de incidentes trágicos”, disse Richard Blumenthal.

Vários meios de comunicação escrevem que o arguido, com dupla nacionalidade, portuguesa e venezuelana, voou para os Estados Unidos a partir de Portugal, enquanto outros dizem que foi a partir da Venezuela.

Os cidadãos portugueses podem visitar os EUA depois de completarem uma declaração eletrónica ESTA (do sistema eletrónico de autorização de viagens) e têm o direito de ficar três meses. Da Silva terá entrado nos EUA em maio de 2017, dizem os investigadores do caso, o que significa que permanece no país de forma ilegal há um ano e meio.

A mãe da vítima concordou que o sistema de controlo da imigração (ICE) falhou, mas pediu a retirada do anúncio porque a morte de Valerie Reyes não é um assunto de imigração nem de política. “O ICE falhou comigo porque eles deviam ter sido mais – eles deviam ter feito o seu trabalho quando se trata de pessoas como esse monstro”, disse a mãe da vítima, Norma Sanchez, ao News 12.

A família comunicou o desaparecimento de Valerie Reyes a 30 de janeiro e no dia 05 de fevereiro foi chamada a identificar o cadáver encontrado numa mala em Greenwich.

Javier da Silva Rojas, ex-namorado de Valerie Reyes, foi preso pelas autoridades a 11 de fevereiro por furto do cartão bancário de Valerie Reyes, do qual levantou mil dólares na madrugada de 29 de janeiro, a seguir a um encontro com a vítima, um ano depois de acabarem o namoro.

Depois de ter sido preso, o português de 24 anos confessou às autoridades ter tido um encontro sexual com Valerie Reyes na noite de 28 a 29 de janeiro e disse ter-lhe aplicado fita adesiva na boca, mãos e pés depois de esta ter caído e batido acidentalmente com a cabeça. O arguido confessou também ter colocado o corpo numa mala, transportando-a num carro e abandonando-a numa floresta.

Segundo os investigadores, Valerie Reyes foi raptada do seu apartamento, em New Rochelle, no Estado de Nova Iorque, ainda em estado de consciência, mas foi encontrada morta dentro de uma mala a mais de 20 quilómetros de distância, em Greenwich, no Estado de Connecticut, imputando o crime de homicídio a Da Silva.

Javier Da Silva, em prisão não efetiva, vai apresentar-se em tribunal para uma audiência preliminar a 13 de março.

ZAP // Lusa

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