Após três semanas de trabalho, uma escavação arqueológica no Canal da Mancha teve uma reviravolta bizarra e inexplicável, depois de os arqueólogos se terem deparado com uma sepultura aberta com cuidado e escondida no solo – cujo teor, definitivamente, não era humano.
A descoberta, encontrada na pequena ilha de Chapelle Dom Hue, na costa de Guernsey, em França, revelou os restos antigos de uma toninha – um animal marinho da família dos golfinhos – medieval enterrada no solo. Agora os cientistas estão com dificuldades em encontrar uma explicação para o misterioso túmulo animal.
“É uma descoberta muito peculiar e não sei o que pensar quanto a isso. Porque é que alguém haveria de enterrar um golfinho numa sepultura?”, disse o arqueólogo Philip de Jersey, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, ao The Guardian.
O mistério é ainda mais intrigante pela forma como o animal foi enterrado, que não sugere que a toninha morta tenha sido simplesmente descartada no subsolo.
Em vez disso, parece que foi propositadamente estendida para descansar, com o corpo alinhado de leste a oeste, conforme a tradição cristã. A escavação cuidadosa da própria sepultura sugere que o objetivo de quem a construiu era garantir um lugar de descanso solene.
Por essa razão, Jersey esperava encontrar os restos de um monge medieval no túmulo, já que a ilha terá sido um local de retiro religioso para os monges que procuravam refúgio.
Mas depois de notar mudanças no solo, que indicavam a existência provável de um túmulo por baixo, os arqueólogos descobriram o crânio de uma jovem toninha. Os especialistas acreditam que tenha sido sepultada ao lado dos túmulos de outros monges desde o século XIV.
É possível que o animal tenha sido morto para servir à alimentação de alguém, já que esses mamíferos compunham hábitos alimentares da época medieval. Mas, se fosse esse o caso, os arqueólogos dizem que faria muito mais sentido que as pessoas tivessem descartado os restos no mar – situado apenas a 10 metros do local.
“Se estivéssemos numa igreja e encontrássemos algo assim, com base no formato, poderíamos pensar que alguém tivesse substituído o que havia no interior do túmulo. Isso é o que me confunde. Se o tivessem comido ou matado pela gordura, por que se esforçariam para o enterrar?”, disse Jersey à Guernsey Press..
Uma hipótese é que o animal tenha sido morto para alimentar alguém e cuidadosamente armazenado até que fosse necessário outra vez, mas os restos preservados nunca foram usados, segundo Jersey. Mas sobram dúvidas e faltam certezas.
“Ele pode ter sido embalado em sal e, por algum motivo, nunca ninguém voltou para o buscar”, disse. Após a descoberta, os ossos da toninha foram removidos do local de repouso, e agora serão estudados por um especialista em animais marinhos, de forma a encontrar provas mais sólidas.
Uma vez que a análise esteja concluída, talvez possamos obter algumas respostas sobre como e por que essa toninha medieval veio a descansar no cemitério de um monge. Jersey, por sua vez, diz que é a descoberta mais estranha da sua carreira de 35 anos como cientista e um verdadeiro enigma na sua história como investigador.
“O golfinho tem um forte significado no cristianismo, mas nunca encontrei nada assim antes em todos estes anos. É o tipo de coisa ligeiramente louca que se pode descobrir na Idade do Ferro, mas não na época medieval. Um verdadeiro mistério“.
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