Crianças ucranianas e chinesas surpreendem na escola. Para os PALOP é tudo mais confuso

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Os alunos estrangeiros de língua portuguesa, como guineenses, são-tomenses ou cabo-verdianos, são os que têm mais dificuldades em concluir o 9.º ano sem chumbar – por oposição aos chineses, que superam todas as expectativas.

Dados divulgados esta quinta-feira no portal Infoescolas, que apresenta um conjunto de informações sobre a percentagem de alunos que consegue concluir o 3.º ciclo nos três anos esperados, revelaram que os alunos que vêm da China e da Ucrânia saem-se melhor do que os de países lusófonos.

Numa comparação entre nove nacionalidades estrangeiras, os alunos de países lusófonos aparecem como sendo os que têm mais dificuldades, com apenas 70% das crianças brasileiras e angolanas a conseguirem terminar o 9.º ano sem chumbar.

Mas os casos mais graves encontram-se entre as crianças da Guiné-Bissau, com uma taxa de sucesso de apenas 61%, ou os cabo verdianos (58%) e os são-tomenses (57%), segundo os dados relativos ao ano letivo de 2022/2023.

“Português académico” confunde

Em entrevista ao Público, Inês Tavares, investigadora do Observatório das Desigualdades do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do ISCTE explica que, no caso dos alunos de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), “apesar de falarem português, têm um português que é diferente do português académico” que é exigido na escola.

Além da confusão que o português ensinados nas escolas pode gerar, Inês Tavares aponta que, em vários casos, os alunos provenientes destes países são vistos de maneira diferente pela escola e pelos professores: “a integração que têm ou não têm, as condições sociais dos próprios alunos. Tudo isso é determinante”.

Chineses impressionam

os chineses aproximam-se das percentagens nacionais, destacando-se pela positiva: No geral, 89% dos alunos das escolas em Portugal terminaram o 9.º ano sem chumbar, apenas três pontos percentuais acima da média dos alunos chineses (86%).

Os chineses são os únicos com resultados académicos acima do esperado, de acordo com os dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC), que conseguiram comparar os resultados destas crianças com todas aquelas com um perfil semelhante a nível nacional, ou seja, com outras crianças que apresentem, por exemplo, a mesma percentagem de alunos carenciados ou pais com o mesmo nível de escolaridade.

Ucranianos, franceses e romenos também se destacam

Também os alunos ucranianos aparecem nos dados hoje divulgados como ficando muito próximo do esperado, com 81% das crianças a concluir o 9.º ano sem chumbar, seguindo-se os franceses (80%) e os romenos (71%).

No ensino secundário, as taxas de chumbos também são bastante mais elevadas que as médias nacionais, com metade dos brasileiros (50%) e angolanos (54%) a ter pelo menos uma retenção, o que é praticamente o dobro do valor registado entre os chineses (26%).

Estatuto socioeconómico conta muito

O relatório salienta que o estatuto socioeconómico continua a ter forte impacto nos resultados, em especial a Matemática, com os alunos de famílias mais pobres (com escalão A do Apoio Social Escolar) a terem notas bem mais baixas do que as crianças que não são beneficiárias.

Aumentaram os casos de sucesso, mas há muito mais casos entre os jovens de famílias mais favorecidas, segundo o indicador dos “percursos diretos de sucesso”, que mostra a percentagem de alunos que têm um trajeto sem retenções ao longo do 3.º ciclo e obtêm positiva nas provas finais do 9.º ano.

A nivel nacional, no ano letivo de 2021/22, um em cada três alunos (34%) conseguiu fazer o percurso sem retenções e, no ano seguinte, a percentagem subiu para 36%, sendo mais fácil encontrar casos de sucesso entre os alunos de escolas de Coimbra, Braga, Viseu e Viana do Castelo, todos os distritos com percentagens superiores a 41%.

Por oposição, os distritos mais a sul do país, principalmente Portalegre e Beja, foram os que tiveram menor proporção de alunos com percursos diretos de sucesso (26 e 25%, respetivamente), refere o relatório.

Comparando os alunos de famílias mais carenciadas e os privilegiados, notam-se “diferenças muito acentuadas”: Se 41% de alunos não beneficiários ASE conseguiram fazer um percurso de sucesso, a percentagem desce para 24% para os beneficiários do escalão B e para 13% para os alunos do escalão A.

ZAP // Lusa

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