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Mãe e pai não chegam. Crianças podem estar “programadas” para precisar de mais que dois pais

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Abordagem coletiva de resposta ao alarme da criança — que assume a forma de conforto e nunca controlo em comunidades de caçadores-coletores — pode estar enraizada na natureza humana.

As diferenças acentuadas nos métodos de parentalidade entre as sociedades contemporâneas de caçadores-coletores e as famílias nucleares ocidentais modernas podem ter revelado uma falha significativa nas práticas modernas de criação de filhos.

Focado nos caçadores-coletores Mbendjele da República do Congo, um estudo publicado a 13 de novembro no Developmental Psychology e liderado pelo antropólogo evolutivo Nikhil Chaudhary, da Universidade de Cambridge, revelou que as crianças nesta comunidade recebem em média nove horas diárias de cuidado atento.

Estes cuidados vêm de uma ampla rede de cuidadores, muitas vezes, composta por mais de 20 indivíduos.

A abordagem coletiva garante que as necessidades do bebé são atendidas rapidamente, geralmente no espaço de 25 segundos após o choro, com a mãe biológica a ser responsável por apenas cerca de metade destas respostas, em contraste com a típica família nuclear ocidental, onde a responsabilidade dos cuidados infantis recai predominantemente sobre os pais, levando muitas vezes ao esgotamento e ao stress e, consequentemente, à carência dos cuidados adequados.

O estudo sugere que as crianças podem estar “evolutivamente programadas” para esperar um nível de cuidado e atenção além do que aquele que dois pais podem oferecer.

A resposta ao sofrimento: fator chave

O nível de resposta ao sofrimento infantil é uma questão central nesta distinção comportamental.

Enquanto muitas sociedades modernas de caçadores-coletores, como os Mbendjele e os !Kung da África do Sul, registam uma alta responsividade ao sofrimento infantil, como o choro, as sociedades Ocidentais, Educadas, Industrializadas, Ricas e Democráticas (cuja sigla é conhecida como WEIRD) apresentam um nível muito mais baixo de resposta e atenção, explica o Science Alert.

“O choro tinha resposta praticamente sempre, geralmente muito rapidamente; e as respostas normalmente assumiam a forma de conforto ou alimentação, raramente estimulação, e nunca controlo“, escreve a equipa de pesquisadores sobre as comunidades de caçadores-coletores acompanhadas.

“Se um indivíduo atualmente tem um acesso relativamente menor a [cuidados], isso pode resultar na ativação de respostas psicológicas evoluídas associadas à adversidade (que podem ou não ser ainda adaptativas); ou, se o acesso for baixo o suficiente, pode levar à desregulação psicológica,” explicam.

“Como sociedade, desde os formuladores de políticas até os empregadores e serviços de saúde”, diz Chaudhary: “precisamos de trabalhar juntos para garantir que mães e filhos recebam o apoio e cuidado de que precisam para prosperar.”

ZAP //

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