Cerca de 1.500 crianças nascidas dentro dos Gulag estão há uma década a lutar pela compensação que a lei russa garante aos descendentes de vítimas da repressão da era soviética.
De acordo com o The Moscow Times, Galina Yanchikova, de 65 anos, é uma dessas 1.500 crianças que nasceram dentro dos Gulag, filhas de pessoas que se opunham ao regime de Estaline na União Soviética, e que estão há uma década a lutar pela compensação que a lei russa garante aos descendentes de vítimas da repressão.
Agora, uma batalha legislativa no Parlamento da Rússia pode concretizar – ou destruir – as esperanças do grupo cada vez menor de “Crianças do Gulag”.
Uma das primeiras lembranças de Galina é a de brincar com os pés do avô aos três anos: Foi a última vez que o viu antes de ele deixar o exílio no Cazaquistão para tentar regressar a Moscovo.
O ativista marxista e académico Friedrich Bauermeister deixou a Alemanha com a sua família em 1934 e recebeu um apartamento no centro de Moscovo e um emprego como professor, antes de ser deportado para o Cazaquistão juntamente com o resto da população alemã da Rússia sete anos depois, quando Hitler invadiu a União Soviética.
“Não consigo viver aqui mais tempo. Estou a envelhecer e é difícil lidar com isso sozinha no inverno”, disse Yanchikova, que vive sozinha na vila de Dubovka, 230 quilómetros a sul de Moscovo, desde que o seu marido morreu no ano passado.
Bauermeister esperava regressar a Moscovo para retomar a sua antiga vida quando os presos do Gulag fossem libertados e as restrições aos povos deportados fossem levantadas após a morte de Estaline em 1953.
No entanto, com os prisioneiros impedidos de chegar a 100 quilómetros da capital soviética, as suas esperanças foram destruídas e tornou-se diretor do museu local numa pequena cidade na região de Tver, onde morreu em 1978.
Para os alemães que permaneceram no Cazaquistão, o fim da União Soviética oferecia uma oportunidade de liberdade, já que a Alemanha prometeu cidadania aos aspirantes. Mas, para evitar a discriminação, a mãe de Galina colocou a sua nacionalidade russa em documentos oficiais, fazendo com que a sua família não recebesse cidadania alemã.
Em vez disso, atraída pela promessa de empregos nas minas de carvão, a família de Galina comprou uma casa abandonada em Dubovka, uma aldeia mineira perto da cidade de Tula, que se despovoou drasticamente após o desastre nuclear de Chernobyl em 1986.
“Quando viemos para cá, tivemos que começar as nossas vidas do zero”, disse Galina, que passou os seus primeiros anos em Dubovka a consertar a nova casa. “Tudo o que temos aqui construímos com as nossas próprias mãos.”
Galina pode regressar a Moscovo?
Em teoria, sim. Em 1991, com o colapso da URSS, o governo soviético aprovou uma lei, reconhecendo pela primeira vez todas as vítimas das repressões da era Estaline e permitindo que reivindicassem uma compensação pelas suas casas confiscadas.
Como Galina nasceu num chamado “Acordo Especial” nos últimos anos de exílio forçado e a sua família guardou cuidadosamente os comprovativos de aluguer de Bauermeister em Moscovo durante 80 anos, Galina tinha legalmente direito a uma moradia social na capital russa.
Em 2010, deu início a uma série de processos judiciais contra as autoridades de Moscovo, gastando vários milhares de dólares com advogados para ter apenas o estatuto de vítima do Gulag reconhecido, mas os pedidos de restituição foram rejeitados.
De acordo com ativistas, a compensação material sempre foi mais ficção legal do que realidade financeira. “Na década de 1990, os recursos do estado eram tão sobrecarregados que, na prática, ninguém recebeu a compensação que deveria ter recebido”, disse Grigory Vaypan, advogado e ativista que representa os sobreviventes do Gulag.
Em 2004, uma nova lei sobre compensação transferiu a responsabilidade financeira para governos regionais, que tinham pouca capacidade real de fornecer restituições.
A compensação dos sobreviventes do Gulag foi desprezada e as vítimas foram adicionadas às listas de espera de habitação social amplamente sobrecarregadas da Rússia.
Atualmente com cerca de 51 mil pessoas à sua frente, Galina pode esperar entre 25 e 30 anos para receber uma.
Durante mais de uma década, a relutância do Estado em tocar na questão dos sobreviventes do Gulag permaneceu incontestada. No entanto, em 2019, o Tribunal Constitucional da Rússia decidiu a favor de três “crianças Gulag”, numa decisão-surpresa que sustentou o seu direito de priorizar os pedidos de habitação.
A decisão desencadeou uma rara batalha legislativa no parlamento da Rússia. Depois de o Governo ter apresentado um projeto de lei que faria mudanças “cosméticas” e deixaria o sistema praticamente inalterado, um grupo de deputados multipartidários patrocinou uma série de emendas que apoiariam a decisão judicial, acelerando os pedidos de casa das “crianças do Gulag”, a serem pagos para fora do orçamento federal.
No entanto, com as eleições potencialmente difíceis em setembro, é possível que a questão da compensação seja removida do calendário legislativo em favor de outros projetos de lei.
Disto não se gaba o PCP fiel aluno do regime comunista russo, mas que por cá se mascara de libertador do povo português, apenas com o objetivo de nos submeter a uma das mais ferozes ditaduras que a humanidade conhece.
O PCP não foi lá grande aluno, porque no PCP há quem nem sequer saiba o que foram os gulag!!
“Comunista desconhece os ‘gulags’
Rita Rato tem 26 anos e é uma das deputadas do PCP mais mediatizadas nos primeiros meses de mandato, tendência que deve continuar em 2010. Eleita pelo círculo de Lisboa, esta licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais pela Universidade Nova esteve na base de uma polémica quando em Outubro disse desconhecer o que eram os gulags. Entrou no partido através da JCP, à qual sentiu necessidade de aderir quando, em 2001, incursou no ensino superior e conviveu com a escalada das propinas e as fragilidades da acção social.”
dn.pt, 2 Janeiro 2010
Essa poderá não saber, mas provavelmente nem quer saber! Ali a mentalidade das pessoas é trabalhada ao ponto de cada um deixar de pensar e atuar por conta própria, portanto ela não poderá negar nem ignorar isso. Ainda não vi até hoje algum comunista condenar abertamente o regime soviético!
Pois pode nem saber e, isso é muito grave!…
Já eu, condeno frontalmente o regime soviético (e todo os outros regimes dictatoriais) e, mesmo assim, há quem me chame comunista!..
Pois, essa de por vezes ser considerado de comunista não será culpa dos outros, mas sua certamente, pois como a Ana Gomes parece por vezes dar uma, no cravo outra na ferradura, desculpe a minha opinião, mas é o que vou notando por vezes nos seus comentários, portanto terá que assumir as críticas.