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Crianças de Hong Kong já fazem exame para entrar na creche

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d.r. BBC

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Entrar em boas escolas ou universidades é difícil em muitas partes do mundo, mas em Hong Kong a pressão começa ainda mais cedo. Para que os pais consigam matricular os filhos em bons jardins de infância – e até em boas creches — as crianças já têm aulas de preparação para os “exames” infantis.

A competição para entrar no jardim de infância é feroz em Hong Kong, e alguns dos locais de maior prestígio são extremamente selectivos.

As melhores creches e jardins de infância são consideradas pelos pais como portas de entrada para as melhores escolas primárias – que, por sua vez, facilitariam o caminho para as melhores escolas secundárias e universidades.

Por causa disso, as creches mais procuradas chegam a receber mais de mil pedidos de inscrição para poucas dezenas de vagas.

Agora, há empresas a oferecer treinos de entrevista para crianças, com o objectivo de lhes dar uma vantagem extra no momento da selecção.

Preparação

Num destes treinos de preparação de entrevista, Yoyo Chan, uma menina candidata a um lugar numa boa creche, é ensinada a cumprimentar o treinador e apresentar-se.

Em seguida, o treinador pede-lhe que faça uma série de tarefas — como construir uma casinha de tijolos, fazer um desenho, ou identificar pedaços de frutas.

“Estas aulas e entrevistas podem ser difíceis”, diz a mãe de Yoyo, Emma Chan. “Mas eu quero que ela esteja preparada. A maioria dos pais quer que os filhos tenham um bom começo.”

Uma das creches em que Emma está interessada entrevistou mais de 100 candidatos para apenas nove vagas — e Emma fará tudo para dar à filha todas as hipóteses de ser aceite.

O irmão mais novo de Yoyo, que ainda é bebé, vai começar a ter aulas em breve, quando tiver oito meses de idade.

Uma destas empresas, a Hong Kong Young Talents Association, cobra cerca de 4.000 euros por 12 sessões de treinos .

Perguntas complexas

Para tornar as coisas um pouco mais complicadas – e mais stressantes para os pais – creches e jardins de infância diferentes pedem coisas diferentes.

É vulgar que os entrevistadores observem a forma como as crianças lidam com os brinquedos, que revelar algo sobre as suas habilidades motoras e como interagem com as outras crianças.

A forma como participam em actividades de grupo, como cantar ou dançar, também é cuidadosamente examinada.

Além disso, os entrevistadores conversam com as crianças para saber como se expressam e se fazem contacto visual. Alguns pedem que as crianças identifiquem cores e formas ou expliquem cenas de livros.

As perguntas estão a ficar cada vez mais difíceis. Alguns jardins de infância chegam a fazer perguntas complexas, como “para que servem os seus olhos?”.

Os entrevistadores avaliam o comportamento da criança mesmo fora da entrevista – por exemplo, oferecendo-lhe doces no fim da conversa.

A criança tem que pegar num rebuçado e dizer obrigado.

Apanhar mais do que um doce é visto como ganancioso —  e rejeitá-los é visto como grosseiro.

d.r. BBC

Crianças com os pais numa aula de preparação para a entrevista da creche

Crianças com os pais numa aula de preparação para a entrevista da creche

Também os pais são escrutinados

Muitos pais preocupam-se em ensinar aos filhos nomes de cores e de objectos, mas nem todos os entrevistadores se impressionam com essa habilidade.

“Não estou à procura desse tipo de conhecimento, são coisas que vamos ensinar-lhes quando começarem a estudar”, diz Jenny, professora de um conhecido jardim de infância bilingue.

Jenny conta que, mesmo que os pais não percebam, muitas vezes estão a ser observados pelos professores ainda mais atentamente do que as crianças.

“É preciso saber com que tipo de pais estamos a lidar. Se os pais forem muito controladores, o meu não é automático”, diz Jenny à BBC.

E quando os pais trazem o curriculum vitae dos filhos, com os cursos que fizeram e os lugares onde passaram as férias, Jenny nem sequer olha.

Educar começa em casa

Leung Wai-fan, directora do jardim de infância King Shing, sabe muito bem até onde os pais podem ir, na esperança de conseguir uma vaga num jardim de infância.

A creche de Wai-fan chamou a atenção da comunicação social o ano passado, depois de alguns pais terem esperado na fila durante duas noites para serem os primeiros a entregar o formulário de inscrição.

Wai-fan teme que a educação primária se tenha tornado muito comercial e demasiado exigente – e acompanha com preocupação a tendência de os pais matricularem crianças em idade pré-escolar em aulas de inglês ou de mandarim, pressionando-os para que tirem boas notas.

“Não é assim que crianças aprendem. Tentamos dizer aos pais que a educação deveria ser para toda a vida”, diz Wai-fan.

Alguns professores defendem ainda que, em vez de matricular os filhos em cursos, os pais deveriam simplesmente passar mais tempo com eles.

“Não acho bem que os pais sobrecarreguem os seus filhos com treinos, porque a forma como uma criança se sente no dia da entrevista pode passar por cima de toda a preparação que ela teve”, diz Jenny.

“Era bem melhor que os pais passassem mais tempo em casa a brincar e a ler para os filhos”, acrescenta.

ZAP / BBC

4 Comments

  1. NOVA forma de ROUBAR o PRÓXIMO. Alegando o FUTURO que ninguém garante ou sabe. Que me digam que possam despistar problemas de autonomia, o saber estar dentro de uma sala, a socialização. Identificar quem consegue achar um objeto pedido ou encaminhado para de baixo de algum outro a fim de ser apanhado; Realizar grafismos de forma a poder construir turmas por classificação. Ate entendo e é aceitável. Agora quem paga pagar 4000 tem dinheiro para colocar seu filho em infantários dedicados a meninos sobre-dotados ou contrata los pessoalmente e os ter em casa. PARAGRAFO. Cada vez mais preocupam-se com coisas fúteis, semi-fúteis e com o básico do qual depende todo seu processo de aprendizagem ….

  2. Isto não é novidade nenhuma, já se fazia há mais de 15 anos em Macau, até porque a partir dos 3 anos as crianças já são consideradas autónomas.

    • Crianças a partir dos 3 anos são autónomas?!
      Há gente que não tem mesmo noção da estupidez!…
      Enquanto a maioria dos chineses passa fome, é escravizado e privado dos direitos humanos básicos, outros pagam 4000eur para” treinar” para um exame de admissão na creche!!
      Enfim…

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