E se as crianças alérgicas a leite deixassem de o ser? A ciência conseguiu-o

Cientistas deram, durante um ano, queques feitos com leite em fórmula e com farinha de tapioca a crianças de forma a perceber qual o seu limite de tolerância.

Cerca de 3% das crianças em idade pré-escolar são alérgicas às proteínas existentes no leite de vaca, o que faz desta alergia alimentar mais comum entre as crianças. Se é verdade que muitas acabam por a ultrapassar com o tempo, uma em cada cinco continuam a sofrer com esta limitação mesmo quando crescem. Como tal, elas e os respetivos pais vivem num constante regime de monitorização, já que a mais pequena das doses, por exemplo, nos cereais pode despoletar uma reação alérgica.

Haverá, por isso, forma de ultrapassar esta alergia? Os cientistas acreditam que sim. De facto, uma equipa de investigadores da Universidade Johns Hopkins, em Maryland, liderada por Jennifer Dantzer, levou a cabo testes junto de 30 indivíduos — com idades compreendidas entre os 3 e os 18 anos — com diagnóstico de alergias severas a leite de vaca.

Na pesquisa, que durou um ano e foi publicada no Journal of Allergy and Clinical Immunology, trataram de dar diariamente a cada uma das crianças/jovens um queque que ou incluía leite de fórmula ou um pó feito a partir de farinha da tapioca. Começaram com uma dosagem de 0.1 miligramas e avançaram até as 2 gramas — com as crianças a não saberem que tipo de bolo estavam a consumir.

No final do ano da investigação, as crianças sujeitas a leite de fórmula foram testadas, tendo a equipa chegado à conclusão que 11 das 15 a quem foi dado, de forma progressiva, leite de fórmula conseguiam tolerar uma dose cumulativa de 4 gramas de pó — o equivalente a cerca de metade do valor de um copo de leite. Simultaneamente, nenhuma criança do grupo de placebo conseguiu chegar a estes níveis.

Desde então, as crianças que toleraram as doses mais altas de leite de fórmula têm sido também testadas com o objetivo de avaliar se conseguem suportar leite de vaca. De acordo com os resultados apresentados — ainda que com algumas variações, sim, avança Jennifer Dantzer, que publicará os resultados mais recentes das investigação no próximo ano.

“Eles têm gostado de não se preocuparem tanto em relação a possíveis exposições a alimentos ou bebidas que contenham leite. Isto quer dizer que podem encomendar comida de restaurantes e não se preocuparem que ela possa ter sido cozinhada na mesma grelha que um hambúrguer de queijo, por exemplo”, explica a investigadora ao site New Scientist.

Ao longo dos testes, os sintomas mais comuns resultantes da introdução de leite foram comichão na boca e dores de barriga. Das dez mil doses de leite em pó que foram ingeridas durante a investigação, quatro resultaram em reações fortes que necessitaram de tratamento com EpiPen — este é um dos motivos pelos quais experiências semelhantes não devem ser replicadas sem supervisão médica.

Segundo Vicki McWilliam, do Instituto de Investigação Murdoch Children, na Austrália, o motivo pelo qual o leite em pó é mais fácil de tolerar é porque as proteínas aquecidas do leite, quando aquecidas, “mudam de estrutura e inseri-las num bolo pode mudar a forma como o sistema imunitário acede a elas”. “Uma exposição gradual permite ao sistema imunitário reprogramar-se a ele próprio em vez de ativar o caminho da alergia, muda para a opção de aceitar a proteína e não recusá-la“, explica McWilliam.

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