Crianças afegãs traumatizadas sofrem num abrigo que não está apto para cuidar delas

Há crianças afegãs refugiadas nos Estados Unidos que estão traumatizadas e já se magoaram a si e a outros menores num abrigo em Chicago.

Em Chicago, nos Estados Unidos, um abrigo recebeu várias crianças afegãs que fugiram do país após os talibãs terem assumido controlo. A ProPublica escreve que algumas destas crianças magoaram-se a si mesmas ou a outras pessoas. Outras até ameaçaram algum do pessoal que trabalha no abrigo. Há ainda alguns casos de menores que tentaram escapar ou disseram que queriam morrer.

O cenário dentro do abrigo é retratado por três funcionários e outras pessoas que têm conhecimentos das condições vividas lá dentro. A ProPublica também obteve documentos internos e relatórios da polícia que corroboraram algumas das situações descritas.

Os funcionários da organização sem fins lucrativos Heartland Alliance dizem que o abrigo não tem condições para receber as cerca de 40 crianças e jovens afegãos. Muitos deles, contam, têm problemas psicológicos e estão traumatizadas. As barreiras linguísticas e culturais só agravam a situação, nunca antes vivida por estes trabalhadores, assumem os próprios.

“Não sabemos se estão a dizer que vão se magoar até finalmente conseguirmos um tradutor na linha”, disse um trabalhador do abrigo.

“Eles podem estar a dizer-nos algo… Tentamos adivinhar. Tentamos comunicar com dicas, linguagem gestual, fazendo movimentos como se estivéssemos com fome ou precisássemos disto ou daquilo”, explicou ainda um membro do staff.

Há quatro abrigos da Heartland em Chicago que têm um total de 79 crianças afegãs, mas o de Bronzeville é onde estão a ser relatados os problemas. Um número representativo, tendo em conta que o governo norte-americano recebeu um total de 186 crianças e jovens.

“Estes jovens afegãos estão a enfrentar fardos de trauma muito altos e problemas de saúde mental por terem vivido num país devastado pela guerra, exacerbado pela sua chegada caótica e não tradicional sozinhas a um país estrangeiro”, disse a Heartland em comunicado. “Algo tão simples como um telefonema para casa é altamente emocional… E se os meus pais não responderem? Estarão mortos? Ausentes? Voltarei a vê-los? E se os talibãs me encontrarem aqui?”. São perguntas como estas que passam pela cabeças das crianças deste — e de outros — abrigos.

Embora os trabalhadores entendam que fatores fora do controlo da Heartland são os principais culpados pelos problemas, mostram-se insatisfeitos com a resposta da própria organização e do Office of Refugee Resettlement, o órgão federal que gere o restabelecimento de refugiados nos Estados Unidos.

Funcionários da Heartland dizem que fornecem “cuidados residenciais seguros e acolhedores 24 horas por dia, sete dias por semana, que incluem alimentação, roupa, abrigo, escola e cuidados médicos básicos”.

No Michigan, a resposta ao problema tem sido diferente. Lá, a Starr Commonwealth tem um intérprete em cada chalé que fala afegão, persa afegão ou ambos.

Daniel Costa, ZAP //

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