Equipa de investigadores norte-americanos conseguiram desenvolver em laboratório corações humanos a partir de células estaminais dos pacientes.
Corações humanos desenvolvidos em laboratório e que possam ser usados para transplante são um sonho de longa data dentro da comunidade científica. Agora, de acordo com um estudo publicado recentemente na revista Circulation Research, este objetivo pode estar um passo mais à frente de se tornar realidade.
Investigações anteriores já tinham mostrado que as impressoras 3D podem ser utilizadas para fabricar outros órgãos, inclusive segmentos de um coração 3D através de material biológico. Embora sem quaisquer células cardíacas reais, essas estruturas formam a base na qual o tecido do coração poderia ser desenvolvido.
A nova pesquisa, feita por uma equipa do Hospital Geral de Massachusetts e da Harvard Medical School, ambos nos Estados Unidos, aproveitou este conceito mas combinou-o com células estaminais.
O principal problema com transplantes de coração, além da falta de doadores, é que há algumas hipóteses do corpo rejeitar o novo órgão. Na realidade, o sistema imunológico muitas vezes vê o tecido estranho como uma ameaça, agindo então para atacar e destruir o “invasor”.
A única forma de impedir que isso aconteça é a utilização de algumas substâncias que suprimem o sistema imunológico, algo que só é bem sucedido em alguns casos.
Para este novo estudo, 73 corações humanos considerados inadequados para transplante foram cuidadosamente imersos em soluções de detergente, para retirar-lhes quaisquer células que pudessem provocar esta resposta auto-destrutiva.
O que restou foi uma matriz de um coração, com as suas estruturas intrincadas e vasos, proporcionando uma nova fundação na qual as novas células cardíacas pudessem ser cultivadas.
Células do próprio paciente
Foi a partir desta fase que as poderosas células estaminais entraram em ação. Estas células “primitivas” têm a capacidade de se tornar em quase qualquer tipo de célula no corpo, incluindo ossos, nervos e até mesmo músculos.
Para esta investigação, células da pele humana foram reprogramadas para se tornarem células estaminais pluripotentes. Foram então induzidas para se tornarem dois tipos de células cardíacas, um processo muito rápido logo depois de terem sido banhadas numa solução nutritiva.
Duas semanas depois, as redes destas células desenvolvidas em laboratório apresentaram grandes melhorias, tanto que, quando os investigadores lhes deram uma explosão de eletricidade, os corações, embora muito imaturos, começaram a bater.
Estas células cardíacas podem ser reconhecidas pelo sistema imunológico dos pacientes como “amigáveis”, desde que as células da pele originais sejam conseguidas a partir do corpo do próprio doente.
Desta forma, isto significa que estes corações desenvolvidos em laboratório podem não ser rejeitados e, claro, o mais vantajoso é que as equipas médicas não precisam de esperar por um doador.
“Agora os próximos passos passam por conseguir melhorar os métodos para gerar ainda mais células cardíacas”, explica Jacques Guyette, investigador biomédico e principal autor do estudo.
Apesar da investigação ter fabricado um número colossal de células cardíacas a partir de células estaminais – cerca de 500 milhões – para um coração normal seriam precisam “dezenas de biliões”, acrescenta.
Assim, embora a pesquisa ainda esteja aquém do processo para conseguir o crescimento de um coração normal, isto é o mais próximo que alguém alguma vez chegou para alcançar o objetivo.
ZAP / HypeScience