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Crédito em moratórias “não é totalmente disparatado” (mas pode provocar “tsunami”)

António Cotrim / Lusa

Paulo Macedo, presidente da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos

O fim das moratórias bancárias pode provocar um ‘tsunami’ de crédito malparado, alerta o presidente executivo da Caixa Geral de Depósitos, Paulo Macedo, salientando que é preciso que haja outros apoios para evitar esse cenário.

Depois de anos a limpar os balanços, poderá haver “novamente um aumento dos NPL [‘non performing loans’, ou seja, o crédito malparado]” na banca nacional, destacou Paulo Macedo durante o webinar “Investimento, Digitalização e Financiamento Verde: O Caso Português”, organizado pelo Banco de Portugal (BdP) e pelo Banco Europeu de Investimento (BEI).

“Em Portugal, com o fim das moratórias temos de nos assegurar que as empresas certas são apoiadas para não ter um ‘tsunami’ de NPL“, referiu.

O gestor apontou setores como o turismo, que estão praticamente paralisados desde o início da pandemia, e que diz necessitarem de um apoio adicional para conseguirem fazer face a estes encargos.

Ainda assim, o presidente da CGD destacou que as instituições bancárias desta vez “foram parte da solução, ao contrário do que aconteceu na crise anterior”, realçando que estavam preparados com capital e liquidez para fazer face à crise.

“Não podemos dizer que moratórias são um problema”

“Os bancos portugueses, em comparação com a sua posição em 2014, estão muito mais fortes”, considerou também o diretor da Autoridade Bancária Europeia (EBA, na sigla em inglês), Piers Haben, em entrevista ao Jornal de Negócios.

Entraram na crise muito mais capitalizados, com menos NPE [“non-performing exposure”]. Tinham uma maior experiência na gestão dos NPE” e, por isso, “estão numa situação muito melhor do que antes para também lidarem com o fim das moratórias”, analisou ainda Haben.

O volume de crédito português em moratórias é mais de um quinto dos empréstimos concedidos pela banca, mas esse valor “não é totalmente disparatado em comparação com outros países”, acrescentou ainda o dirigente da EBA.

“As moratórias foram desenhadas para ajudar as pessoas e não podemos dizer que as moratórias são um problema”, considerou também, notando que “o problema vai ser garantir que percebemos que clientes têm dificuldades”.

“O que é importante é que temos uma monitorização eficaz e uma relação eficaz [entre clientes e bancos]. Os testes de stress vão ajudar a perceber [onde estão os problemas]”, apontou Piers Haben ao Negócios.

“Se a moratória termina no final de Março ou mais tarde, o que é importante é que rapidamente se crie essa relação. Se os bancos têm a informação de que há problemas relativamente à capacidade de um cliente pagar – o critério de unlikely to pay – é importante que haja essa relação”, concluiu o diretor do EBA.

A entidade europeia tem uma perspetiva bem mais otimista do que alguns especialistas que alertam que o fim das moratórias, em março, é “pior do que uma bomba relógio” e que, mais tarde ou mais cedo, vai ter consequências negativas para a Banca.

ZAP // Lusa

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