Debilitado como ministro? “Claro que não”. Cravinho sem “tempo nem interesse” na nova polémica

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Estela Silva / Lusa

O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.

“Li na diagonal porque percebi que não é uma matéria, enfim, muito relevante“. Antigo ministro da Defesa confessa, no entanto, que vai olhar com mais atenção para o caso e dar uma resposta mais completa.

O ministro dos Negócios Estrangeiros e antigo ministro da Defesa João Gomes Cravinho não se considera debilitado politicamente com os sucessivos casos que têm vindo a público no âmbito do processo “Tempestade Perfeita”, disse à Lusa.

“Não, claro que não”, respondeu Gomes Cravinho, ao ser questionado pela Lusa sobre se a sucessão de notícias acerca dos casos da Defesa, no processo “Tempestade Perfeita”, o debilitam politicamente como ministro.

Em entrevista à Lusa em Nova Iorque, na noite de sexta-feira, o ministro abordou ainda a notícia publicada esta semana pelo jornal Público, que dava conta de que Cravinho — à época ministro da Defesa — teria conhecimento de um outro processo contra Alberto Coelho, figura central no caso da derrapagem de mais de dois milhões de euros nas obras de reabilitação do antigo Hospital Militar de Belém, quando o nomeou para um cargo numa empresa do Estado.

O ministro leu, concordou com a auditoria e anotou no despacho de Seguro Sanches a observação “Visto com elevada preocupação”, cita o jornal Correio da Manhã.

Um ano depois, colocou Alberto Coelho na presidência Empordef – Tecnologias de Informação, empresa ligada ao Ministério da Defesa.

Cravinho, hoje ministro dos Negócios Estrangeiros, explica ao Ministério Público que, na altura, não tinha motivos para duvidar de Alberto Coelho.

Coelho era uma “pessoa válida, capaz de continuar a contribuir para os objetivos do Ministério da Defesa”.

Gomes Cravinho, que se encontrava em Nova Iorque para participar na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) quando a notícia foi publicada, admitiu que não teve “tempo nem interesse” para se inteirar sobre essa matéria, à qual não atribuiu grande relevância.

“Vou ser-lhe muito franco. Eu tenho estado 100% ocupado com a Assembleia Geral das Nações Unidas. (…) Eu vi a notícia do Público, li na diagonal porque não tive tempo e nem tive suficiente interesse ou preocupação em me dedicar ao assunto, naturalmente porque percebi que não é uma matéria, enfim, muito relevante“, disse.

“Naturalmente, para a semana vou olhar com mais atenção e aí darei uma resposta mais completa. Mas não é matéria que me tenha ocupado minimamente durante esta semana”, acrescentou.

Em agosto, o Ministério Público acusou 73 arguidos no processo relacionado com adjudicações de obras pela Direção-Geral dos Recursos da Defesa Nacional (DGRDN), entre os quais o ex-diretor Alberto Coelho, por corrupção passiva, branqueamento, peculato e falsificação de documento.

A acusação relativa ao processo “Tempestade Perfeita”, a que a agência Lusa teve acesso, pede que Alberto Coelho seja condenado a pagar ao Estado mais de 86 mil euros, que correspondem ao que consideram ter sido as vantagens obtidas de forma ilícita. Já Paulo Branco e Francisco Marques teriam recebido, respetivamente, 415 mil e 271 mil euros.

A acusação refere que “carros, obras de remodelação nas suas habitações, mobiliário, telemóveis, estadias em hotéis, refeições e apoio jurídico gratuito” foram usados como moeda de troca.

O Departamento de Investigação e Acção Penal Regional de Lisboa (DIAP) refere ainda que Alberto Coelho terá recebido um Audi Q3, um Fiat, mobiliário de jardim, remodelações na sua casa e até garrafas de Pêra-Manca, que foram partilhadas com os seus cúmplices, em troca dos favores.

ZAP // Lusa

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