Corujas, ponham-se a pau. Há uma outra ave que é tão inteligente que até sabe quais são as melhores ferramentas de gralhos

Os corvos sabem criar ferramentas com galhos que os ajudam a capturar presas e conseguem também reconhecer quais as que funcionam melhor.

Usar ferramentas não é só coisa de humanos. Um novo estudo publicado na eLife concluiu que os corvos também dão valor às suas ferramentas, tal como nós.

Os corvos-da-nova-caledónia são tão conhecidos pela sua inteligência que os cientistas até os usam como a espécie modelo para ajudarem a perceber a evolução do uso de ferramentas e de comportamentos associados, como o planeamento.

Além de usarem objectos que encontram como ferramentas, os corvos conseguem também formá-las e construí-las com várias coisas que individualmente são inúteis. Até agora, este comportamento só tinha sido observado nos primatas, escreve o Science Alert.

Os corvos selvagens usam ferramentas de galhos, que trazem nos bicos, para irritar larvas que se escondem nas rachas e fendas das árvores. As larvas mordem a ferramenta para se defenderem, o que permite que os corvos as puxem e as comam.

Os investigadores capturaram 27 corvos selvagens para as suas experiências, por isso os resultados não foram influenciados por treinos anteriores. Ao darem a escolher entre dois tipos de ferramentas, a equipa confirmou que os pássaros preferiam usar as que eram feitas de paus em forma de gancho.

“As ferramentas em forma de gancho não são só mais dispendiosas para obter, mas são também muito mais eficientes. Dependendo da tarefa de forrageamento, os corvos podem extrair presas com estas ferramentas até 10 vezes mais rápido do que com ferramentas normais que não têm o ganho”, explica o ecologista comportamental da Universidade de St. Andrews, Christian Rutz.

Foram observadores 17 dos pássaros durante duas experiências em dias diferentes. Em ambas, foram apresentados com ramos que continham buracos de tamanhos diferentes com carne ou aranhas como isco. Numa, as aves só tinham acesso a ramos apropriados para a construção de ferramentas com gancho e a na outra, os paus já eram rectos.

“A probabilidade dos sujeitos exprimirem comportamentos de protecção (guardar as ferramentas debaixo da pata ou em buracos) era significativamente maior quando usaram paus em forma de gancho que tinham criado do que quando usaram ferramentas rectas que tinham retirado da serapilheira”, escreve a equipa no estudo.

Esta realidade manteve-se quando as ferramentas em gancho foram dadas pelos investigadores, o que mostra que a motivação para esta protecção especial era a ferramenta em si, e não o facto de terem sido as aves a criá-la.

“Foi interessante ver que os corvos são um pouco mais cuidadosos com ferramentas que são eficientes e mais difíceis de substituir. Isto sugere que têm algum conceito do valor relativo dos tipos diferentes de ferramentas“, revela o etologista James St Clair da Universidade de St Andrews.

Nem todos os corvos fazem estas ferramentas e a amostra também é demasiado pequena para ter em conta todas as variáveis, como os materiais preferidos, lembra a equipa. Apesar do cérebros pequenos das aves, há estudos psicológicos que mostram que a organização densa dos seus neurónios compensa essa desvantagem — e os corvos são um exemplo de que a inteligência não se julga pelo tamanho.

Adriana Peixoto, ZAP //

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