Contra tudo e todos: Israel vai invadir Rafah, onde estão 1,5 milhões de palestinianos

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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu

Nenhum aliado ou organização apoia o ataque a Rafah. Invasão será “aterradora” e implica um número “extremamente elevado” de mortes civis. Netanyahu não dá pormenores sobre o destino da população.

Israel está a planear um ataque ao último refúgio dos palestinianos que fogem da guerra, Rafah, a sul da Faixa de Gaza e junto à fronteira com o Egito, apesar dos avisos em sentido contrário dos aliados e organizações internacionais, alarmadas com potenciais consequências humanitárias.

Em Rafah, aos cerca de 200 mil habitantes que residiam na cidade, juntaram-se mais de 1,3 milhões de deslocados vindos no centro e norte do enclave palestiniano, na sequência dos numerosos ataques do exército israelita contra posições do Hamas tanto em Gaza (norte) como em Khan Yunis (centro/sul), iniciados em 7 de outubro de 2023.

A ONU já se manifestou contra uma invasão que seria “aterradora” e implicaria um número “extremamente elevado” de mortes civis, segundo o alto comissário Volker Turk.

Perante o atual cenário, o alto comissário austríaco recordou a Israel as suas obrigações face ao direito internacional humanitário, e ainda as deliberações emitidas pelo Tribunal Internacional de Justiça em 26 de janeiro passado, que exortou Telavive a impedir um genocídio em Gaza através de ações “imediatas e definitivas”.

A ONU já disse rejeitar qualquer “deslocamento forçado” de palestinianos em Rafah — “não há nenhum lugar seguro” na Faixa de Gaza, reforçou o porta-voz do secretário-geral.

“Há grandes desafios, a maioria das pessoas está no sul. (…) Não se pode mandar as pessoas de volta para zonas repletas de engenhos não detonados, já para não falar da falta de abrigo”, declarou o porta-voz.

Também o Tribunal Penal Internacional se mostrou “profundamente preocupado” com a operação que vai ter lugar em Rafah e avisou: “aqueles que violam a lei serão responsabilizados”.

“Todas as guerras têm regras e as leis aplicáveis aos conflitos armados não podem ser interpretadas de modo a torná-las vazias ou desprovidas de significado. Esta tem sido a minha mensagem constante, inclusive a partir de Ramallah [Cisjordânia], no ano passado. Desde essa altura, não vi qualquer mudança percetível na conduta de Israel”, disse o procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Karim Khan.

A China também já pediu a Israel para suspender operação em Rafah “o mais rapido possível”; os EUA exigiram que Israel protegesse os mais vuneráveis em Rafah — mas até agora Netanyahu não explicou como é que criaria um corredor humanitário (nem o seu destino). Biden indicou que Washington não apoiará uma operação de tão grande escala.

Alemanha, França, Reino Unido ou África do Sul também mostraram grande preocupação; o Egito ameaça romper o tratado de paz com Israel se as tropas israelitas forem enviadas para aquela localidade fronteiriça. Também a Turquia, aliado histórico de Israel, pediu segunda-feira ao Conselho de Segurança da ONU que “controle Israel”.

Os Países Baixos anunciaram já a suspensão da exportação de peças de aviões de guerra para Israel. Também a Arábia Saudita condenou os planos de Netanyahu e pediu uma reunião urgente do Conselho de Segurança para evitar uma “iminente catástrofe humanitária”.

Apesar de governos e organizações não-governamentais internacionais terem avisado que os palestinianos já não têm para onde ir, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu insiste na ideia, alegando a necessidade de erradicar o Hamas, movimento islamita palestiniano que atacou Israel há quatro meses, e sem dar pormenores sobre o destino da população.

Netanyahu não ouve ninguém. Diz que os palestinianos têm de sair. Para onde? Para a Lua?”, questionou este fim de semana o alto representante da União Europeia (UE), Josep Borrell.

As intenções de Israel

Domingo, Benjamim Netanyahu confirmou a entrada próxima das forças militares na cidade de Rafah para acabar com “os batalhões que restam do Hamas”. Insistiu que a população civil daquela cidade deve “abandonar” a zona, com ou sem a ajuda das organizações humanitárias internacionais.

Até esta terça-feira, antes da anunciada grande ofensiva, vários ataques aéreos israelitas causaram pelo menos 164 mortos e 200 feridos em Rafah, depois de as Forças de Defesa de Israel (FDI) terem realizado “uma série de ataques contra alvos terroristas na área de Shabura”.

Segunda-feira, Israel pediu à ONU para que “coopere” na “retirada” dos civis que se encontram nas zonas de combate na Faixa de Gaza, incluindo a cidade de Rafah, face à iminente ofensiva terrestre do exército contra a cidade.

O porta-voz do governo israelita, Eylon Levy, criticou que as agências da ONU “tenham estado a transferir civis para os redutos do Hamas e a validar a estratégia dos ‘escudos humanos’ do Hamas”.

“A guerra pode terminar rapidamente, sem mais sofrimento, se o Hamas se render imediatamente, depor as armas, libertar os reféns e levar os seus criminosos de guerra à justiça. Todos os intervenientes dedicados à proteção dos civis e à melhoria das condições humanitárias em Gaza devem apelar ao Hamas para que se renda agora, em vez de pressionar o Hamas para que mantenha os seus quatro batalhões de pé face a uma vitória israelita iminente”, argumentou.

Israel apontou ainda para “um encobrimento da militarização do Hamas de hospitais e bens militares dentro de instalações das Nações Unidas”, referindo-se à recente descoberta de um túnel sob a sede principal da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) em Gaza.

Em resposta, o Comissário Geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, sublinhou que o pessoal da agência “abandonou a sede na cidade de Gaza em 12 de outubro, na sequência de ordens de evacuação emitidas por Israel e perante a intensificação dos bombardeamentos na zona” e apelou a uma investigação “independente”, apesar de o Ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Israel Katz, ter pedido a sua demissão.

As negociações de libertação de reféns veem-se ameaçadas.

O Hamas avisou que qualquer operação das forças israelitas em Rafah ameaçará as negociações de libertação de reféns em troca de prisioneiros palestinianos e constituirá uma “catástrofe e um massacre global”.

A Amnistia Internacional (AI) afirmou ter “novas provas” de que os “ataques ilegais” de Israel na Faixa de Gaza causaram “um enorme número de vítimas civis” e que existe “um risco real de genocídio”, em que as tropas israelitas “continuam a desrespeitar o direito humanitário internacional, destruindo famílias inteiras com total impunidade”.

ZAP // Lusa

6 Comments

  1. Os Israelitas extremistas como Netanyahu consideram os Palestinos uma raça inferior que pode ser aniquilada aos milhares. Não aprenderam nada com o Holocausto.

  2. Concordo plenamente com o seu comentário, FM, reclamam tanto dos horrores de que forma vítimas na 2ª guerra e agora fazem pior contra outras pessoas. É um povo sem qualquer senso de humanidade e que adoram se vitimizar seja em que tempo for e por qualquer motivo. Tenho pena do que estas almas sofrerão quando se forem dessa vida…

  3. Tem que haver uma punição severa a Israel, impedindo-os de executar a Invasão a Rafah. Isso só se conseguirá militarmente.

  4. O porta-voz do governo zionista disse numa entrevista que não há nenhum sítio seguro em Gaza para os habitantes locais descolados. Bombardeiam tendas e criam imensas dificuldades à ajuda humanitária, deixando mais de 1 milhão de pessoas sem comida e assistência médica.
    Recentemente, deu permissão a uma ambulância para resgatar feridos, para depois atacar e destruir a ambulância e os seus ocupantes.
    Isto são ações claras de genocídio e quem diz o contrário está a mentir ou não tem quaisquer valores humanos.

    Nota para os jornalistas: os Países Baixos não deixaram de livre vontade de vender peças para os F35 Israelitas. Foram obrigados por uma ação judicial, pois estavam a violar o acordo contra genocídio que assinaram.

  5. Os militantes do Hamas são as vítimas colaterais de uma guerra contra os cidadãos Palestinos.

    O Hamas e os actuais Zionistas são duas forças fascistas com um objectivo comum de destruir a Fatah e a Autoridade Nacional Palestiniana. E em nome do orgulho nacionalista ambos querem o massacre dos cívis palestinianos! Uns porque os querem como martires os outros porque não os querem lá!

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