Contas da congregação da madre Teresa de Calcutá congeladas, depois de protestos no Natal

Chris Wild / Flickr

Madre Teresa de Calcutá na Basílica de Santa Eufémia, na Croácia

O Governo indiano mandou congelar as contas das Missionárias da Caridade, a congregação religiosa criada pela madre Teresa de Calcutá.

Segundo o Público, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi procedeu ao congelamento, depois dos protestos contra a celebração do Natal, após o partido do autarca ter acusado as missionárias de proselitismo.

Grupos de milícias populares atacaram espaços onde se celebrava o Natal em algumas regiões da Índia.

Os meios de comunicação nacionalistas hindus, ligados ao partido de Modi, têm repetido muitas vezes a acusação de proselitismo contra a congregação fundada pela religiosa que foi canonizada em 2016, e se encontra no estado de Bengala Ocidental.

De acordo com esses meios, as Missionárias da Caridade teriam programas de conversão religiosa, disfarçados de ações de caridade, ao oferecerem dinheiro, educação gratuita e abrigo aos hindus mais pobres.

Mamata Banerjee, a primeira-ministra do estado de Bengala Ocidental, escreveu no Twitter que estava “chocada por ouvir que no Natal, o Conselho de Ministros congelou todas as contas bancárias na Índia das Missionárias da Caridade da Madre Teresa!”.

“Os seus 22 mil utentes e empregados foram deixados sem alimentos nem medicamentos”, acrescenta a líder da oposição.

“Mesmo que a legalidade seja fundamental, os esforços humanitários não podem ser postos em causa”, conclui a voz crítica do governo de Modi.

As Missionárias da Caridade foram fundadas em 1950 pela freira católica, que nasceu na Albânia, com o nome de Agnes Gonxha Bojaxhiu​, e se naturalizou indiana, vencedora do Nobel da Paz em 1979.

Com sede no estado de Bengala Ocidental, situado no Leste da Índia, a congregação tem mais de 3000 freiras que gerem asilos, cozinhas comunitárias, escolas, colónias de leprosos e casas para crianças abandonadas no mundo inteiro.

A direção das missionárias ainda não reagiu à decisão, e o ministro do Interior indiano afirmou que o governo emitirá uma declaração, assim que terminar o inquérito preliminar da situação.

“Peço à imprensa para não misturar irregularidades financeiras de um grupo de beneficência com sentimentos religiosos… A decisão de congelar as contas não tem nada a ver com cristandade”, referiu um membro do governo, que pediu anonimato, por não estar autorizado a falar à comunicação social.

Dominic Gomes, o vigário-geral da Arquidiocese de Calcutá, afirmou que o congelamento das contas daquela instituição no estado de Bengala Ocidental é “uma cruel prenda de Natal para os mais pobres entre os pobres”.

Desde a chegada de Modi ao poder em 2014, grupos hindus de extrema-direita consolidaram a sua posição em todos os estados e realizaram ataques em pequena escala contra minorias religiosas, afirmando que visam prevenir a conversão religiosa.

Cristãos e outros críticos notam que o argumento de impedir as conversões religiosas é falso, tendo em conta que os cristãos representam 2,3% da população indiana, sendo os hindus a vasta maioria dos 1,37 mil milhões de habitantes.

O jornal The Hindu publicou esta segunda-feira uma notícia sobre as perturbações nas celebrações do Natal, incluindo a vandalização de uma estátua em tamanho real de Jesus Cristo em Ambala, no estado de Haryana, no Norte do país, governado pelo Bharatiya Janata Party (BJP), o Partido Popular Indiano, de Modi.

O mesmo órgão de informação informou que, no sábado, junto a uma igreja em Varanasi, a cidade mais sagrada para os hindus, um modelo do Pai Natal foi queimado e gritaram-se palavras de ordem contra as celebrações de Natal e as conversões religiosas.

Anoop Shramik, ativista social em Varanasi, disse à Reuters que viu duas dezenas de pessoas a queimar o Pai Natal.

No sábado, as celebrações foram também perturbadas em Silchar, no estado de Assam, no Nordeste, depois de vários homens, que se identificaram como membros do Bajrang Dal, um grupo de extrema-direita com ligações ao BJP, terem entrado à força numa igreja, segundo noticiou o canal de notícias local NDTV.

Vários estados indianos aprovaram ou estão prestes a aprovar leis contra a conversão religiosa, que põem em causa a liberdade e os direitos religiosos que a Constituição da Índia consagra às minorias.

Elias Vaz, vice-presidente da União Católica de Toda a Índia, condenou os últimos incidentes. “A força da Índia está na sua diversidade e as pessoas que fizeram isto durante o Natal é que são os verdadeiros anti nacionais”, conclui.

ZAP //

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