Uma nova pesquisa revela que é mais provável que não gostemos de um produto aleatório se ele for associado a um partido político com crenças contrárias às nossas.
Um novo estudo publicado no Personality and Social Psychology Bulletin revela que a polarização política vai para além do comportamento eleitoral, moldando subtilmente as preferências quotidianas. A investigação mostra que as pessoas classificam produtos neutros de forma menos favorável quando associados ao partido político de que menos gostam, um fenómeno designado por “contaminação política”.
O estudo, liderado por Arvid Erlandsson da Universidade de Linköping, na Suécia, explorou a forma como artigos apolíticos, como chocolates e vestuário, são influenciados por associações políticas.
Em quatro experiências que envolveram 3985 participantes, os investigadores encontraram um “efeito negativo de grupo externo” – os produtos ligados aos partidos políticos de que os participantes menos gostavam eram avaliados de forma menos favorável quando as suas associações políticas eram reveladas.
Na primeira experiência, os participantes avaliaram peças de vestuário usadas por políticos dos seus partidos preferidos e menos preferidos. O vestuário associado aos políticos de que não gostavam foi classificado de forma significativamente mais baixa. Também se observou um “efeito de grupo positivo” mais pequeno, com os participantes a favorecerem artigos associados aos seus políticos preferidos.
A segunda experiência foi alargada aos chocolates, um produto menos relevante em termos de identidade. Os participantes classificaram os chocolates de forma menos favorável quando associados ao partido político de que menos gostavam. Curiosamente, o efeito positivo do grupo foi mais fraco, o que realça a assimetria na forma como as associações políticas afetam as preferências.
Uma terceira experiência examinou decisões financeiras reais, com os participantes a atribuírem donativos a instituições de solidariedade social. As instituições de caridade ligadas aos partidos políticos menos apreciados receberam menos financiamento, enquanto as associadas aos partidos favorecidos não registaram um aumento significativo.
A última experiência investigou o papel da tomada de decisão pública versus privada. Os participantes eram menos propensos a escolher produtos ligados ao partido de que menos gostavam em contextos públicos, o que sugere que as preocupações com a reputação amplificam o efeito negativo do grupo externo. No entanto, a observação pública não aumentou o efeito positivo do grupo interno.
A investigação sublinha a natureza generalizada da polarização afectiva, em que os indivíduos nutrem desconfiança ou aversão por grupos políticos externos. “O nosso estudo mostra uma nova manifestação da polarização política: o distanciamento dos produtos neutros e apolíticos”, explicou Erlandsson.
Curiosamente, enquanto o efeito negativo do grupo externo foi robusto em todas as experiências, o efeito positivo do grupo interno foi mais fraco e menos consistente. Esta assimetria está de acordo com as conclusões de que uma identidade política negativa – oposição a um partido que não se gosta – é muitas vezes mais forte do que uma filiação positiva num partido favorito.