Conspiracionistas norte-americanos reuniram-se e poucos dias depois adoeceram. A justificação? Um ataque de Anthrax, sugerem

Neil Hall / EPA

Protesto anti-restrições covid-19 do movimento ‘Resist & Act For Freedom Rally em Trafalgar Square, Londres

Participantes no evento culpam uma máquina de fumo pela alegada difusão de Anthrax — apesar de não terem provas científicas da mensagem.

Poucos dias após terem marcado presença numa grande conferência de conspiracionistas em Dallas (Texas), um grupo de pessoas não vacinadas começou a adoecer e a acusar sintomas como tosse, falta de ar e febre. Poderia estar em causa um surto de codiv-19? Os envolvidos acreditam que não e que a justificação para aquele cenário foi um ataque de Anthrax – uma infeção aguda causada por uma bactéria, o Bacilus antracis.

Esta teoria da conspiração – como não poderia deixar de ser – começou depois de uma dúzia de pessoas ter estado junta num espaço fechado no evento da ReAwaken America – o qual recebeu nomes domo Roger Stone ou Eric Trump – e que decorreu ao longo do fim de semana de 10 de dezembro. Tal como nota a Vice, o facto de este ter sido – com alta probabilidade – um evento propagador de covid-19 tem sido quase inteiramente ignorado.

A primeira alegação de que os participantes estariam a ficar doentes por força de um ataque de Anthrax foi feita por Joe Oltmann num episódio do seu podcast Conservative Daily, no início desta semana. Num vídeo do momento da gravação do episódio, a personalidade pode ser vista a tossir e a espirrar – sintomas normalmente associados à covid-19.

Ainda assim, Oltmann, que passou grande parte do ano de 2021 a divulgar teorias da conspiração sobre as eleições de 2020, alegou que ele e os seus colegas pouco crentes na ciência e que recentemente tinham participado na conferência haviam sido vítimas de um ataque de Anthrax. “Há uma hipótese de 99,9% de ter sido Anthrax”, afirmou no podcast, apesar de nenhum exame médio cos participantes na conferência ter acusado a existência da bactéria nos respetivos organismos e nenhum dos outros 3,500 conferencistas ter reportado efeitos semelhantes.

O podcaster também afirmou que ele e mais  12 pessoas – as quais estiveram numa divisão fechada do pavilhão onde decorreu o evento – adoeceram nos dias que se seguiram. Oltmann referiu que estava “doente, doente”, apesar de explicar que os seus sintomas eram apenas medianos porque já se encontrava sob efeito de antibiótico devido a um problema numa perna que sofreu no seguimento de um acidente anterior.

Jovan Pulitzer, um dos principais propagadores das teses de fraude eleitoral – participou inclusive nos pedidos de recontagem dos votos no estado do Arizona, a onde, alega chegaram boletins de voto vindos da Ásia na noite das eleições com votos favoráveis a Biden –, também esteve presente na conferência, tendo experienciado sintomas mais severos. Segundo Oltmann, o próprio já não recebe notícias de Pulitzer há dias, sendo que os últimos relatos relacionados com o seu estado de saúde fazem referência a “lesões corporais”.

À semelhança do que aconteceu com múltiplas teorias da conspiração, nomeadamente relacionadas com a covid, também as do ataque com Anthrax foram partilhadas e lidas centenas de milhares de vezes em plataformas como o Telegram e outras plataformas frequentemente ligadas com a extrema-direita norte-americana, como o Gab e o Parler. Chegaram ainda a redes mais amplamente frequentadas como o Twitter e o Facebook.

Depois das suspeitas levantadas por Oltmann – sem que as fizesse acompanhar por evidencias científicas ou provas –, estas foram também replicadas por outros conspiracionistas, nomeadamente de fraude eleitoral, como David Clements, antigo professor da Universidade do Novo México, e Patrick Byrne, fundador do site Oversock. Também Ron Watkins, candidato à Câmara dos Representantes e aderente ao movimento QAnon, deu visibilidade à tese.

Como forma de sustentar as alegações, alguns dos seus crentes começaram a partilhar vídeos do evento onde se pode ver uma máquina geradora de fumo, como as usadas durante os concertos, a operar durante a conferência, com os crentes a defenderem que aquela poderá ser a fonte do ataque de Anthrax – mais uma vez ignorando o facto de nenhum surto da bactéria ter sido reportado ao Centro de Prevenção e Controlo de Doenças norte americano.

Toda a história já foi negada por Clay Clark, organizador do evento, que descreveu as suspeitas como “rumores” e descreveu a máquina de fumo no centro das teorias apenas como “uma máquina de fumo”. Para já, ainda nenhum participante na conferência admitiu publicamente a possibilidade de a causa por trás dos sintomas serem a covid-19.

ZAP //

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