Um dos materiais mais poluentes do mundo tem finalmente um substituto: o cimento biogénico

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Para satisfazer as necessidades do mercado norte-americano, seria necessário que os coccolitóforos florescessem numa área de 800 mil hectares — o que corresponde a 0,5% de toda a superfície disponível de terra no país.

Todos os anos, um valor difícil de quantificar –  cerca de dois gigatoneladas (2.000.000.000.000 Kg) – de CO2 são libertados para o ambiente como consequência da produção e utilização de cimento. De acordo com dados oficiais fornecidos pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA), o cimento ocupa o terceiro lugar entre as dez maiores fontes de poluição industrial.

Como tal, o material tem estado no centro das atenções de investigadores, que tentam transformá-lo em algo mais amigo do ambiente. Foi neste âmbito que, de forma surpreendente, uma equipa anunciou ter descoberto uma forma de se pôr fim ao total desta emissão de carbono.

A descoberta parece ser tão eficaz que a diminuição poderá acontecer de um dia para o outro. Na realidade, o que está em causa é a substituição do cimento tradicional por um novo cimento biogénico (uma substância feita com organismos vivos) à base de microalgas, descreve o Interesting Engineering.

A proposta é feita por uma equipa de investigadores da Universidade do Colorado Boulder, juntamente com os colegas do Laboratório Nacional de Energias Renováveis (NREL) e da Universidade da Carolina do Norte de Wilmington (UNCW). A partir do seu trabalho de investigação, desenvolveram um método único, neutro em termos de carbono, que fabrica o cimento a partir de calcário biologicamente cultivado.

Feito principalmente com cimento portland, água e cascalho, o betão é considerado o material mais consumido em todo o mundo ao lado da água. Quer se trate da América do Norte, Europa ou Ásia, as atividades de construção não podem ser projetadas sem betão e especialmente sem cimento portland. Apesar de os investigadores reconhecerem o significado do betão para a indústria da construção, o investigador principal Wil Srubar aponta: “Fazemos mais betão do que qualquer outro material no planeta e isso significa um impacto na vida de todos”.

Infelizmente, a produção comercial de cimento portland envolve a incineração de grandes quantidades de calcário, o que resulta em elevadas emissões de CO2. Além disso, a qualidade do ar da zona onde o cimento é produzido está também fortemente comprometida, uma vez que a combustão de calcário liberta vários poluentes e gases tóxicos para a atmosfera.

Durante uma viagem à Tailândia, Will Srubar reparou na construção natural de estruturas de carbonato de cálcio à volta dos recifes de coral. Sabendo que o calcário também é feito de carbonato de cálcio e olhando para os depósitos de CaCO3, surgiu-lhe a possibilidade de que talvez o calcário também conseguisse ser cultivado naturalmente em vez de ser extraído das pedreiras. E perguntou-se: “Se a natureza pode cultivar calcário, porque não podemos nós”?

Regressado aos EUA, decidiu cultivar umicroalgas chamadas coccolitóforos. Os membros desta espécie de algas são capazes de originar calcário biogénico, criando depósitos de carbonato de cálcio durante a fotossíntese. Os investigadores notaram que, ao contrário do calcário natural que leva milhões de anos a formar debaixo do solo, a versão biogénica por coccolitóforos pode ser produzida em tempo real.

Além disso, os coccolitóforos produziram carbonato de cálcio em menos tempo, em comparação com os recifes de coral que Srubar observou na Tailândia. A matéria-prima necessária para a formação de calcário biogénico na água do mar incluía apenas dióxido de carbono dissolvido e luz solar. Além disso, dado que as microalgas podem sobreviver tanto em corpos de água salgada como de água doce, podem ser utilizadas para cultivar calcário em quase qualquer parte do mundo.

Os investigadores afirmam que a produção de calcário a partir de coccolitóforos é tão viável que se se quiser preencher a procura total de cimento nos Estados Unidos tudo o que é preciso fazer é permitir que os coccolitóforos floresçam num corpo de água cobrindo uma área de cerca de 800 mil hectares – o que corresponde a 0,5% de toda a superfície disponível de terra no país.

Surpreendentemente, a produção de cimento a partir de calcário biogénico não representa apenas a vantagem de ser neutra em carbono, mas também a de ser negativa em carbono, uma vez que as microalgas removem o dióxido de carbono do ambiente e armazenam-no sob a forma de carbonato de cálcio. Portanto, o betão formado a partir deste cimento poderia dar início a uma nova era de construção sustentável em todo o mundo.

“Para a indústria, trata-se de um momento de resolver um problema muito negativo. Acreditamos que temos uma das melhores soluções, se não a melhor solução, para a indústria do cimento e do betão para resolver o seu problema de carbono”, disse Srubar. O investigador e a sua equipa acreditam que o material tem todo o potencial para substituir o calcário extraído e salvar o planeta de todos os danos ambientais que durante séculos tem vindo a causar.

ZAP //

1 Comment

  1. Boa tarde
    Se bem me recordo o cimento é produzido essencialmente da combinação da sílica, da alumina e do óxido de Cálcio.
    Ora, como é referido, os cocólitóforos produzem em exosqueleto de Carbonato de Cálcio o que implicará, sempre, a sua queima para o transformar em óxido de Cálcio, o que por sua vez vai conduzir à libertação de CO2 (principal questão que se procurava evitar).
    Já agora preciso que os cocolitóforos que se podem utilizar para produzir carbonato de Cálcio são marinhos, exclusivamente de água salgada.
    Cumprimentos,
    Mário Cachão

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