Porque é que a minha consciência está aqui? Porque é que algumas coisas são conscientes e outras aparentemente não? Estas questões são todas aspetos do velho “problema mente-corpo”.
Em 1996, no livro “The Counscious Mind: In Search of a Fundamental Theory”, o filósofo David Chalmers considerou que seria difícil de explicar como a consciência se relaciona com a matéria.
Tam Hunt e Jonathan Schooler, da Universidade da Califórnia, que têm estudado o tema durante a última década, desenvolveram um trabalho, publicado a 11 de novembro no Research Gate, que nomearam de “teoria da ressonância da consciência“.
Os investigadores sugeriram que a ressonância – ou vibrações sincronizadas – está no centro, não apenas da consciência humana, mas também da consciência animal e da realidade física em geral.
De acordo com os investigadores, todas as coisas no Universo estão em constante movimento e vibração – até mesmo objetos. Quando coisas diferentes se juntam, “sincronizam”, começando a vibrar juntas na mesma frequência. A isto, é chamado o fenómeno de auto-organização espontânea.
Em 2003, o matemático Steven Strogatz forneceu vários exemplos de física, biologia, química e neurologia para ilustrar a ressonância. Por exemplo, quando os pirilampos se reúnem, começam a piscar em sincronia. A rotação da lua também está exatamente sincronizada com a sua órbita ao redor da Terra.
Ressonância dentro do crânio
Os neurologistas também já identificaram a ressonância nas suas pesquisas. Por exemplo, o neurofisiologista alemão Pascal Fries explorou as maneiras pelas quais vários padrões elétricos se sincronizam no cérebro para produzir diferentes tipos de consciência humana.
Fries concentra-se nas ondas gama, beta e teta. Estes rótulos referem-se à velocidade das oscilações elétricas no cérebro, medida por elétrodos colocados na parte externa do crânio.
Grupos de neurónios produzem oscilações à medida que usam impulsos eletroquímicos para comunicar uns com os outros. É a velocidade e a voltagem desses sinais que, quando calculados em média, produzem ondas de EEG que podem ser medidas em ciclos por segundo.
As ondas gama estão associadas a atividades coordenadas em grande escala, como perceção, meditação ou consciência focalizada; beta com atividade cerebral máxima ou excitação; e teta com relaxamento. Esses três tipos de ondas trabalham juntos para produzir vários tipos de consciência humana.
Fries chama ao seu conceito “comunicação pela coerência“. Para o especialista, a sincronização neuronal é o tema primordial. Sincronização, em termos de taxas de oscilação elétrica partilhada, permite a comunicação suave entre os neurónios.
Sem esse tipo de coerência sincronizada, o material recebido chega a fases aleatórias do ciclo de excitabilidade dos neurónios e é ineficaz, ou, pelo menos, muito menos eficazes, na comunicação.
A teoria da ressonância da consciência
A teoria da ressonância de Hunt e Schooler baseia-se no trabalho de Fries e de muitos outros, com uma abordagem mais abrangente que pode ajudar a explicar não apenas a consciência humana e mamífera, mas também a consciência de forma mais ampla.
Com base no comportamento observado de entidades como eletrões, átomos, moléculas, bactérias, morcegos ou ratos, os cientistas sugerem que todas as coisas podem ser vistas como, pelo menos, um pouco conscientes.
O “pampsiquismo” – a visão de que toda matéria tem alguma consciência associada – é uma posição cada vez mais aceite em relação à natureza da consciência. Esta visão argumenta que a consciência não surgiu durante a evolução. Em vez disso, sempre esteve associada à matéria.
Mas a grande maioria da mente associada aos vários tipos de matéria no Universo é extremamente rudimentar. Um eletrão ou um átomo tem apenas uma pequena quantidade de consciência. Mas, à medida que a matéria se torna mais rica, o mesmo acontece com a mente.
Organismos biológicos podem trocar informações através de várias vias biofísicas, tanto elétricas quanto eletroquímicas. Estruturas não biológicas só podem trocar informações internamente usando caminhos térmicos, que tornam a comunicação mais lentas e mais pobre em informação.
Os seres vivos alavancam fluxos de informação mais rápidos numa consciência de escala maior do que o que ocorreria em coisas como pedras ou areia, por exemplo.
A tese central da abordagem dos cientistas é que os vínculos específicos que permitem a consciência em larga escala resultam de uma ressonância partilhada entre muitos constituintes menores. A velocidade das ondas ressonantes que estão presentes é o fator limitante que determina o tamanho de cada entidade consciente.
À medida que uma ressonância partilhada se expande para mais constituintes, a nova entidade consciente que resulta dessa combinação torna-se maior e mais complexa.
Em relação ao conjunto de pirilampos, os investigadores acreditam que a sua ressonância bioluminescente surge devido a osciladores biológicos internos que automaticamente resultam na sincronização de cada pirilampo com os outros.
“A teoria tenta fornecer uma estrutura unificada que inclua a neurociência, bem como questões mais fundamentais de neurobiologia e biofísica, e também a filosofia da mente. Chega ao coração das diferenças que importam quando se trata da consciência e da evolução dos sistemas físicos”, concluiu Hunt. “É tudo sobre vibrações, mas também é sobre o tipo de vibrações e, mais importante, sobre vibrações partilhadas”.
ZAP // Science Alert
Os tremores de terra sabem o que fazem…