Apesar de não existir uma justificação científica para o fenómeno, a psicologia tem um termo que pode ser aplicado aos números dos anjos, a apofenia.
No universo matemático há múltiplos adjetivos que caracterizam os números: pares, ímpares, primos, perfeitos, entre outros. Há ainda quem eleja o seu número da sorte, aquele que quando aparece numa determinada morada ou ficha de espera é imediatamente interpretado como um sinal de boa sorte. Caso esse número, por coincidência, tenda a ser sempre o mesmo, fique a saber que pode estar perante o seu número dos anjos.
Os crentes dos “números dos anjos” tendem a descrevê-los como uma “sequência (regra geral, três ou quatro números) que inclui uma repetição (como seria o caso de 111 ou 4444) e/ou padrões (como 321 ou 8787). Cruzarmo-nos com eles pode ser fruto do acaso, mas para quem lhes atribui significado pode ser o suficiente para ver ali algum sinal — independentemente de onde venha e do que possa estar em causa.
Tal como aponta o IFL Science, trata-se, certamente, de uma definição muito ampla e pouco certeira, pelo que não há propriamente uma ciência que a sustente o conceito. Não se trata de matemática, mas numerologia — nome pomposo, não é?
Apesar de não existir uma justificação científica para o fenómeno, não quer dizer que este não tenha qualquer componente de interesse. Na realidade, a psicologia tem um termo que pode ser aplicado aos números dos anjos, a apofenia.
“A apofenia consiste em erros de perceção, ou seja, na tendência para interpretar padrões aleatórios como 8“, descreveu John W. Hoopes, professor de Ciências Sociais e de Comportamento da Universidade de Kansas.
“A pareidolia, por sua vez, nada mais é do que apofenia visual. Um exemplo do fenómeno seria vislumbrar o rosto de Jesus numa sande”, descreve o autor.
“Quando uma fotografia das Torres Gémeas do World Trade Center o faz atribuir um significado especial ao ‘11,’ isso é apofenia. Quando uma nuvem com uma forma aleatória no céu é interpretada como uma nave espacial extraterrestre, isso é também apofenia”.
Outro exemplo mais prático de apofenia é a própria astrologia, uma pseudociência através da qual tendemos a ver padrões ou comportamentos que não existem nas pessoas só pela sua data ou local de nascimento. Quando o impacto da apofenia passa exclusivamente por ler ou não o horóscopo, não representa perigo.
No entanto, há quem tenha levado o fenómeno ao extremo, por exemplo, transpondo as interpretações para o vício do jogo, deixando muitos indivíduos na ruína, só porque no decorrer da sua vida comum se depararam com um determinado estímulo e viram ali um sinal de que deveriam apostar.
Mas, afinal, porque temos apofenia?
Aparentemente, a resposta a esta pergunta é tão vaga como fascinante, já que, no mundo moderno, parece haver uma boa razão para vermos estes padrões. “O cérebro desenvolveu uma capacidade extraordinária de encontrar significados e ligações“, apontou Barry Markovsky, professor de Sociologia na Universidade da Carolina do Sul.
“Fazê-lo já significou a diferença entre sobrevivência e morte“, lembra o especialista. “Reconhecer as impressões das patas no solo, por exemplo, significava que os predadores estavam por perto e deviam ser evitados, ou que as presas deviam ser capturadas e consumidas. As mudanças na luz do dia indicavam quando plantar e quando colher as colheitas“.
Ainda hoje, quando funciona, o reconhecimento de símbolos pode ser uma parte extremamente importante da vida.