Os humanos fabricavam armas de madeira mortíferas há 300.000 anos

Volker Minkus / Secretaria de Estado da Baixa Saxónia para a Preservação de Monumentos / CC BY 4.0

Novas e poderosas técnicas de imagem revelam que os seres humanos já fabricavam armas de caça complexas em madeiras há 300.000 anos — o que vem alterar o estereótipo da Idade da Pedra.

Segundo o Science Alert, os arqueólogos já suspeitavam que os humanos utilizavam ferramentas de madeira há, pelo menos, tanto tempo como as pedras, mas devido à natureza mais frágil da madeira, a maioria das provas apodreceu.

Agora, através da microscopia 3D e scanners micro-CT para examinar 187 artefactos de madeira de Schöningen, na Alemanha, Dirk Leder, arqueólogo do Gabinete do Património Cultural do Estado da Baixa Saxónia e os seus colegas confirmaram as suspeitas. O estudo foi publicado na revista PNAS.

Thomas Terberger, arqueólogo da Universidade de Göttingen, afirmou que “a madeira foi uma matéria-prima crucial para a evolução humana, mas só Schöningen é que sobreviveu do período Paleolítico com tanta qualidade”.

No meio deste conjunto de artefactos de madeira, os mais conhecidos do Pleistoceno eram, pelo menos, 10 lanças, sete paus de arremesso e 35 ferramentas domésticas — todos eles esculpidos em madeiras conhecidas por serem flexíveis e duras, incluindo abeto, pinho e larício.

Os utensílios apresentavam indícios claros de uma técnica de divisão, anteriormente apenas conhecida como sendo utilizada por humanos mais modernos, bem como sinais de entalhe, raspagem e abrasão.

Para Annemieke Milks, arqueóloga paleolítica da Universidade de Reading, “a forma como as ferramentas de madeira foram fabricadas com tanta perícia foi uma revelação para todos”.

Minkusimages / Matthias Vogel / NLD

Trabalhar a madeira até ao nível de sofisticação descoberto é um processo lento e muitos passos, que requer muita paciência e ponderação. Além disso, a idade das ferramentas coincide com a época em que os Neandertais estavam a dominar a Europa, ultrapassando outras espécies humanas primitivas.

O local onde se encontrava Schöningen também continha provas de até 25 animais esquartejados — na sua maioria, cavalos.

“Verificou-se que estes pré-HomoSapiens tinha criado ferramentas e armas para caçar animais de grande porte”, explicou Terberger. “Não se comunicavam entre si para derrubar as presas, uma vez que eram suficientemente sofisticados para organizar o abate e o assado”.

Matthias Vogel, Jens Lehmann, Dirk Leder, NLD.

Segundo os investigadores, estas poderosas capacidades de caça são, provavelmente, muito mais antigas do que os artefactos de madeira encontrados em Schöningen, uma vez que teriam garantido aos primeiros humanos o acesso a fontes de alimentação de alta qualidade durante gerações, proporcionado a capacidade para este aumento do crescimento do cérebro e das capacidades cognitivas associadas.

“Da mesma forma, [a caça] teria assegurado populações sustentáveis — mesmo em zonas menos favoráveis da Europa durante o Pleistoceno —, contribuindo para a expansão da área de distribuição humana em todo o mundo”, escreveram Leder e a sua equipa.

Uma outra curiosidade é que os investigadores também encontraram provas de reciclagem, uma vez que os utensílios que tinham sido partidos foram reutilizados para novos fins.

A conclusão dos investigadores é que “o estudo fornece informações únicas sobre as técnicas de trabalho em madeira de Pleistoceno”. Acrescentam que “as armas de caça de madeira de Schöningen exemplificam a interação entre a complexidade tecnológica, o comportamento humano e a evolução humana”.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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