Conceição culpa ineficácia pelo adeus à Champions. Terá razão?

José Coelho / Lusa

Sérgio Conceição

O treinador do FC Porto culpou a ineficácia da sua equipa pelo adeus à Liga dos Campeões. Mas será que tem razão naquilo que diz?

Sérgio Conceição costuma desmerecer a “estatística” nas conferências de imprensa. No entanto, importa referir, em sua defesa, que normalmente o faz levado ao engano pelos jornalistas.

Confrontado com registos e curiosidades históricas, o treinador costuma dizer (e bem) que essas “estatísticas” valem pouco ou nada, no contexto de um jogo que se avizinha.

O “mister” portista tem razão, cometendo apenas o erro de as confundir com a estatística de futebol “a sério”, a que ajuda a identificar padrões e confirmar/desmentir os méritos, fraquezas e oportunidades que se apresentam à vista desarmada.

O que diz então a verdadeira estatística sobre o adeus do FC Porto à Champions, prova na qual o “dragão” costuma brilhar de forma atípica entre emblemas portugueses? Foi o que nos propusemos descobrir, usando como ponto de partida a conclusão retirada pelo comandante “azul-e-branco” na hora do adeus à prova milionária.

“Este jogo foi a imagem do que foram os nossos jogos no grupo. (…) Não fomos eficazes, falhámos golos em momentos importantes.”

Conceição resumiu assim o não apuramento a uma questão de concretização. Terá razão? Vejamos o que nos dizem os analytics da história portista nesta Champions.

A ocasião que dá razão a Conceição

Antes mesmo de nos debruçarmos sobre variáveis mais “nerd” (Expected Goals), começamos por um conceito mais simples, o de Ocasião Flagrante, ou seja, a situação de remate (concretizado, mesmo que nas orelhas da bola) em que o rematador tem pela frente apenas a baliza e o guardião (ou nem esse), sem qualquer outro adversário na linha da bola. Definido o conceito, vamos ao que importa: quantas destas teve o Porto nos pés/cabeça e quantas aproveitou?

O Porto dispôs de nove ocasiões flagrantes (de bola corrida) nos seis jogos da fase de grupos, um registo ligeiramente abaixo do meio da tabela, entre as 23 do fulgurante Bayern e as zero do Malmö. Não foram muitas, é certo mas, tendo em conta o grupo portista, não seria de esperar um volume muito maior. O total é, aliás, o mesmíssimo que soma o Benfica, embora com ainda um jogo por jogar, à hora desta análise.

Ora o problema é que o Porto concretizou apenas duas das nove ocasiões flagrantes que teve ao longo da campanha, um registo que coloca os “dragões” com um aproveitamento de apenas 22% (sete desperdiçadas), batido (pela negativa) apenas pelos 14% do Shakhtar (em sete ocasiões) e pelos 11% do irreconhecível Barcelona (em nove, tantas quantas as do FCP embora com um jogo por disputar).

GoalPoint

Os Expected Goals ajudam a mapear onde esteve o desperdício portista: quanto maior a “gota” vermelha, maior foi o desperdício no remate aí tentado.

Os golos estatisticamente esperados… que não apareceram

As ocasiões flagrantes são importantes, mas não quantificam toda a expectativa de golo criada por uma equipa, pois a maioria dos remates à baliza não surgem neste tipo de situações. Para isso temos o cálculo dos golos esperados, Expected Goals (xG), aquele número que encontras nos sumários estatísticos GoalPoint de uma partida. E o que dizem os cálculos de golos esperados (Expected Goals) a favor do Porto, finda esta campanha?

A verdade é que Sérgio Conceição não escolheu o melhor jogo para fundamentar a sua teoria. O Porto andou sempre atrás dos espanhóis neste capítulo, mesmo antes das machadadas finais desferidas pelos “colchoneros” no final do encontro. Mas estará então errada a teoria do timoneiro portista?

A resposta é não, Conceição tem razão. Pese a derradeira derrota seja mau exemplo para explanar o seu balanço, a verdade é que os “dragões” marcaram apenas quatro golos ao longo da campanha, mas criaram/beneficiaram de situações de remate com uma expectativa de concretização de cerca de… oito (8,02) ou seja o dobro.

Este registo coloca os “azuis-e-brancos” com um saldo entre golos marcados e esperados de -4,02, o segundo maior (pela negativa) entre todas as equipas participantes, batido apenas pelos ucranianos do Shakhtar (-4,88) e a par do Barcelona (-4,00).

Quem foram os protagonistas do desperdício? À cabeça surge Mehdi Taremi. O iraniano marcou apenas um golo na campanha, mas beneficiou de situações esperadas para somar cerca de três.

O seu saldo negativo (-1,50) coloca-o como o sétimo mais “devedor” da Champions, num ranking liderado pelo interista Lautaro Martínez (-2,54). O avançado é acompanhado no Porto por Otávio (0 golos, 0,9 esperados), Evanilson (0 golos, 0,7 esperados), Marko Grujić (0 golos, 0,7 esperados) e Vitinha (0 golos, 0,5 esperados). A quebrar a tendência surge o inevitável Luis Díaz. O colombiano é o único “dragão” com um saldo claramente positivo entre o que marcou (dois golos) e o que se lhe exigia (0,9).

Diz-me contra quem falhaste, dir-te-ei porque não te apuraste

Para lá do total simples de golos esperados (xG) na campanha, também a análise da distribuição desses números por encontro dá razão a Conceição, embora também lhe aponte outro pecado relevante na sua equipa. O Porto sofreu 11 golos na prova, mas, usando a mesma métrica, devia ter permitido cerca de… nove (8,54). Feitas as contas o Porto facilitou, ofensiva e defensivamente, num total de seis golos, entre os que devia ter marcado e os que não devia ter sofrido. São golos a mais para um grupo tão complicado.

Eis a distribuição, jogo a jogo, dos golos esperados dos jogos do Porto, identificando também o impacto do aproveitamento na pontuação “azul-e-branca”.

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