Comunistas acham António Costa um sapo mais fácil de engolir

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Comunistas ouvidos pela Lusa na 38.ª Festa do Avante!, no Seixal, pouco ou nada esperam do PS, mas consideram que António Costa poderá vir a ser um ‘sapo’ mais fácil de engolir.

Em 1986, o histórico líder do PCP Álvaro Cunhal apelou aos militantes que fechassem os olhos para votar no pai socialista, Mário Soares, para presidente – em vez do então democrata-cristão Freitas do Amaral, um cenário que poderá ter eco num eventual acordo governamental futuro entre o PCP e o PS, cuja liderança António Costa disputa a António José Seguro.

António Costa, o atual presidente da Câmara Municipal de Lisboa reúne alguma, mas pouca, simpatia na Quinta da Atalaia face ao secretário-geral do PS, António José Seguro, numa ‘mini-sondagem’ de câmara e microfone.

Achar bem, não acho (eventual acordo governamental com PS), mas se tivermos de engolir essa pedra, engolimos, em prol do país. Já uma vez engolimos um sapo, se calhar, lá teremos de engolir outro novamente. Acho que eles são iguais, não há diferença, ninguém vai endireitar isto. É um barco à deriva o nosso país”, lamentou Luísa Santos, de 52 anos, uma jardineira desempregada de Sesimbra para quem “se o PS já lá esteve e não fez nada, não é agora que vai fazer depois de isto estar da maneira que está“.

Não sou do PS, mas se fosse, se calhar escolheria o António Costa. Dá-me mais confiança do que o António José Seguro. Apesar de ter seguro no nome, dá-me um bocado de insegurança. Há ali qualquer coisa que me diz que ele vai fazer muito pouco ou nada. O Costa dá-me uma certa segurança“, opinou o estudante de 19 anos Bruno Brandão, acrescentando que o Governo da maioria PSD/CDS-PP está a “fazer políticas erradas, excessivas”.

Um ourives de 62 anos e militante do PCP desde 1972 revelou-se também descontente, “desde as primeiras eleições” (1975) e a manutenção da responsabilidade nas “mesmas forças políticas, que nunca conseguiram levar o país (para a frente), depois da luta que se fez”, enquanto “o país continua na mesma para pior, mais hipotecado, sem emprego”.

O que o PS está a fazer é uma fantochada. Tanto um como outro. O mais novo tem desculpa porque nunca lá esteve, mas o mais velho, o António Costa, já lá esteve e não mudou nada, mesmo dentro do próprio partido. Esta palhaçada de ter apoios daqui e de acolá, não o vai fazer desenvolver uma política diferente. Já esteve lá com camaradas dele que se intitulam de esquerda, mas não são nada“, previu.

Mãe de dois filhos, aos 34 anos e empresária no ramo do artesanato, Andreia Valente defendeu que “é preciso manter sempre a esperança” e manter “o enfoque e lutar por um futuro melhor”, mas “o PS não estará suficientemente à esquerda (para acordos de Governo com o PCP)”.

Com franqueza, não (tenho preferência), mas há um que tem mais cabedal que o outro“, afirmou, alinhando com a maioria dos inquiridos, ou seja, apontando António Costa como mais capaz.

O PS não se diferencia muito daqueles que lá estão atualmente, a política é exatamente a mesma” e “os interesses que defendem não é o das pessoas é de outros, dos capitais e daqueles que têm alguma coisa a usufruir deste estado de coisas“, condenou o advogado Carlos Fernandes, de 41 anos, rejeitando escolher qualquer um dos candidatos “rosa”.

Modista toda a vida, mas agora ocupada nas limpezas num hospital, Francisca, com 58 anos, manifestou-se “sem esperança nos próximos anos em tudo o que falem e digam”, mas prometeu continuar a “fazer muito esforço, a poupar o mais possível para poder vir à Festa do Avante!, até podendo “não ir a mais lado nenhum o ano inteiro”.

O Seguro foi mais um menino de gabinete. Ao sê-lo, tem muita teoria, mas não tem a prática. Quem está com o povo, quem ouve o povo, no trabalho, na rua, que se apercebe dos problemas, essa pessoa tem a prática. Ouve e sofre com os outros e é capaz de ir mais ao coração das pessoas. Uma pessoa que trabalhe só em gabinetes não vai mais além“, afirmou, referindo-se ao atual líder socialista.

Segundo Francisca, “não militante, mas comunista”, entre Costa e Seguro, o autarca lisboeta “dá mais segurança”.

Nem pertenço à zona de Lisboa, sou de Torres Vedras. Conheço-o mais da televisão. Dá ideia de que é uma pessoa mais honesta“, disse.

/Lusa

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