Afinal, os modelos sobre o derretimento dos icebergues estavam errados. Agora, uma equipa de investigadores revelou a forma como estes glaciares derretem.
Os modelos atuais, que são incorporados à metodologia usada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, pressupõem que os icebergues derretem uniformemente nas correntes oceânicas.
No entanto, Eric Hester e os seus colegas da Universidade de Sydney, na Austrália, mostraram que isso não é verdade e que os icebergues derretem em velocidades diferentes, dependendo da sua forma.
“Cerca de 70% da água doce do mundo está nas camadas de gelo polares e sabemos que as mudanças climáticas estão a causar o encolhimento dessas camadas de gelo”, disse Hester, estudante de doutoramento na Escola de Matemática e Estatística, em comunicado.
“Parte dessa perda de gelo é direta dos mantos de gelo, mas cerca de metade da perda geral de gelo da Gronelândia e da Antártida ocorre quando os icebergues derretem no oceano, portanto, é importante entender esse processo”, acrescentou.
Segundo os modelos da equipa de Hester, “os icebergues estão a derreter a taxas mais rápidas do que os modelos atuais presumem”.
Esta investigação também ajuda a entender melhor o impacto do derretimento do gelo nas correntes oceânicas. “A circulação do oceano é a razão de a Grã-Bretanha não ser tão fria como Alberta, no Canadá, apesar de estar em latitudes semelhantes”, disse Hester.
A Corrente do Golfo, que tira água mais quente dos trópicos através do Atlântico, mantém a Europa Ocidental mais amena do que seria de outra forma. “Essa corrente pode desligar, se muita água doce for despejada no sistema de uma vez, por isso é fundamental que entendamos o processo de derretimento dos icebergues e do gelo.”
O local e o momento em que a água doce é libertada, e a forma como isso afeta o oceano, são influenciados, em parte, pela velocidade com que os icebergues derretem.
Hester disse que os seus modelos – confirmados em experiências – e as observações dos oceanógrafos mostram que as laterais dos icebergues derretem cerca de duas vezes mais rápido do que a sua base.
Para icebergues que se movem no oceano, o derretimento na frente pode ser três ou quatro vezes mais rápido do que os modelos antigos previam.
“Os modelos antigos presumiam que os icebergues estacionários não derretiam, enquanto as nossas experiências mostram derretimento de cerca de um milímetro a cada minuto”, disse Hester. “Em icebergues que se movem nos oceanos, o derretimento na base pode ser até 30% mais rápido do que em modelos antigos.”
Dado que as laterais derretem mais rápido, icebergues largos derretem mais lentamente. Porém, icebergues mais pequeno e estreitos derretem mais rápido.
“O nosso trabalho propõe um modelo muito simples que leva em consideração a forma de um icebergue como um protótipo para um modelo aprimorado de derretimento de icebergues”, disse Geoffrey Vasil, coautor do artigo.
Segundo Vasil, estes métodos podem ser aplicados a muitos outros sistemas, incluindo o derretimento de glaciares ou o derretimento de gelo marinho congelado e salino.
“Mas não termina aí. Os métodos também podem ser usados por astrobiólogos para entender melhor as luas de gelo como o Encélado de Saturno, um candidato a encontrar vida noutras partes do Sistema Solar”, concluiu.
Este estudo foi publicado este mês na revista científica Physical Review Fluids.