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Como a IA nos pode ajudar a ter uma semana de quatro dias

A Inteligência Artificial (IA) tem vindo a ganhar espaço no ambiente de trabalho — e alguns especialistas acreditam que poderá acelerar a adoção da semana de trabalho de quatro dias em muitas empresas.

Trabalhar quatro dias e ser remunerado por cinco é o sonho de muitos profissionais.

Um sonho que parecia fora de alcance, mas que se tornou realidade em várias empresas após as mudanças radicais no ambiente de trabalho provocadas pela pandemia.

À medida que novos dados e informações sobre o tema emergem, cada vez mais empresas consideram adotar este novo modelo — especialmente após os resultados positivos de testes realizados em países como o Reino Unido, a Islândia e Portugal.

O relatório das 41 empresas de Portugal que adotaram o sistema reporta uma redução média de 13,7% da carga horária semanal, com quedas dos níveis de ansiedade e fadiga. 85% só voltaria aos cinco dias com um aumento salarial superior a 20%.

 

E as experiências prosseguem. Na Alemanha, por exemplo, iniciou-se recentemente um teste com 45 empresas.

Paralelamente, um outro fator foi adicionado a esta equação.

O papel da IA

Dados recolhidos no final de 2023 pelo portal de notícias e eventos Tech.co, sediado em Londres, confirmam essa possibilidade. A empresa inquiriu mais de mil gestores norte-americanos para o seu relatório de 2024 sobre o Impacto da Tecnologia no Ambiente de Trabalho.

Os investigadores concluíram que 29% das empresas com semanas de trabalho de quatro dias fazem uso extensivo da IA nas suas operações, implementando ferramentas como o ChatGPT e outros programas para agilizar as operações. Em comparação, apenas 8% das empresas que mantêm a semana de trabalho de cinco dias utilizam a IA dessa forma.

Adicionalmente, 93% das empresas que adotaram a IA afirmaram estar abertas à semana de trabalho de quatro dias. E, entre as que não usam inteligência artificial, menos de metade considera trabalhar menos um dia.

Na agência de design digital Driftime, sediada em Londres, a adoção da IA foi crucial para que a empresa migrasse para a semana de trabalho flexível de quatro dias.

“Ao delegar tarefas simples às ferramentas de IA, conseguimos poupar um tempo precioso que anteriormente era perdido nas partes mais lentas do processo”, afirma um dos fundadores da empresa, Abb-d Taiyo.

Taiyo acredita que faz sentido adotar a semana mais curta, tanto pelo bem-estar dos seus colaboradores quanto pelos resultados da empresa.

“Em vez de uma queda na produtividade, observamos uma qualidade incrivelmente elevada na entrega, aliada a um excelente retorno na satisfação dos colaboradores”, ele diz. “A saúde e a felicidade da nossa equipa têm uma correlação direta com o alto padrão de trabalho produzido.”

Shayne Simpson, diretor da empresa britânica de Recursos Humanos TechNET IT Recruitment, também crê que a IA tem sido fundamental para o sucesso da semana de quatro dias na sua empresa.

A empresa descobriu que as ferramentas de IA poupam 21 horas semanais dos seus consultores de recrutamento, principalmente automatizando tarefas anteriormente manuais — como inserção de dados, e-mails de confirmação, seleção de currículos e contacto com candidatos. Isso reduziu o tempo para preencher vagas na empresa em 10 dias.

“Esta economia de tempo permite que a nossa equipa atinja os seus objetivos mais cedo durante a semana e que os nossos consultores tenham um merecido descanso às sextas-feiras”, conta Simpson.

Além de estimular a produtividade e aumentar a motivação, a semana de trabalho reduzida também foi importante para atrair novos profissionais para a empresa, diz. “Profissionais experientes são atraídos pela eficiência dos nossos processos e os mais novos estão ansiosos por adotar as novas ferramentas”, explica.

As ferramentas de IA certamente estão a abrir caminho para a semana de trabalho de quatro dias em alguns setores, mas a tecnologia não pode provocar a mudança sozinha. A cultura organizacional também é fundamental, segundo a professora de gestão de recursos humanos Na Fu, da Escola de Negócios Trinity, na Irlanda.

“Estar aberto a estruturas de trabalho inovadoras, experimentar e, o mais importante, ter uma cultura baseada em altos níveis de confiança são pontos chave para adotar a semana de trabalho de quatro dias com sucesso”, orienta ela.

A professora também sublinha que, à medida que a transformação digital com a IA progride, os próprios trabalhadores também devem estar dispostos a melhorar.

“Em vez de se tornarem meros operadores ou cuidadores de máquinas, os profissionais têm de desenvolver novas competências que possam promover, complementar e liderar a IA, alcançando melhores resultados”, aconselha ela.

Certos setores beneficiar-se-ão mais da IA do que outros, especialmente aqueles capazes de utilizar as ferramentas para tarefas que incluem desenvolvimento de software, criação de conteúdo, marketing e serviços jurídicos, de acordo com Fu.

Na maior parte dos casos, a inteligência artificial ainda tem um longo caminho a percorrer até conseguir reduzir significativamente as horas de trabalho humano.

Contudo, para que a integração da IA no fluxo de trabalho das empresas efetivamente conduza à adoção da semana de quatro dias, é necessário que os executivos adotem a ideia. E a adesão a esse modelo por parte dos gestores variará dependendo do propósito e dos valores gerais de cada um.

Algumas empresas poderiam, por exemplo, utilizar a IA para realizar tarefas simples e libertar os seus funcionários não para terem mais um dia de folga, mas simplesmente para empreenderem novos projetos nesse tempo “livre”.

Apesar das reservas, cada vez mais gestores consideram a semana de trabalho reduzida como um futuro inevitável, graças à tecnologia – incluindo os líderes de algumas das empresas mais lucrativas do mundo.

Em outubro de 2023, por exemplo, o CEO da JPMorgan Chase & Co., Jamie Dimon, declarou à Bloomberg TV que “os seus filhos viverão até aos 100 anos e provavelmente trabalharão três dias e meio por semana.”

Agora, resta esperar para ver.

// BBC

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